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Campeonato Espanhol

Luis Enrique supera crises e cria Barça de nova identidade

Chamado para o resgate do tiki-taka, técnico passou por turbulências até encontrar formação ideal e avassaladora dos catalães

3 jun 2015 - 11h20
(atualizado às 11h30)
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Com uma carreira longa e de sucesso como jogador no futebol espanhol, com passagens impactantes tanto no Real Madrid, quanto no Barcelona, onde se aposentou, Luis Enrique tinha grande expectativa ao iniciar sua carreira como treinador, por ter seguido os passos do vitoriosíssimo Pep Guardiola.

Luis Enrique foi o sucessor do conterrâneo e ex-colega de equipe no comando do Barcelona B em 2008, quando Guardiola foi promovido ao time principal e iniciou uma sequência histórica de títulos, todos conquistados sob a filosofia do tiki-taka.

Guardiola segue tendo sucesso na Alemanha
Guardiola segue tendo sucesso na Alemanha
Foto: Michael Dalder / Reuters

O estilo de jogo virou marca registrada azul-grená, influenciou o mundo do futebol e, consequentemente, tarimbou qualquer jogador ou treinador com o pedigree catalão como um emissário do sucesso.

No Barça B, Luis Enrique de fato teve um desempenho exitoso, promovendo o time à segunda divisão do Campeonato Espanhol e conduziu seus comandados aos playoffs para o - impossível, pois o Barcelona principal já estava lá - acesso à elite do futebol local.

Fora da Catalunha

Todo esse brilho no valorizado laboratório azul-grená rendeu ao técnico uma oportunidade na Roma, que apostou no DNA das “canteras” e o contratou no meio de 2011. Junto com ele foi Bojan Krkic, promessa catalã que não tinha espaço na máquina afinada de Guardiola.

Técnico decepcionou em passagem pela Roma
Técnico decepcionou em passagem pela Roma
Foto: AP

O primeiro teste para valer de Luis Enrique, no entanto, foi um fracasso completo. Seu time caiu na pré-Liga Europa para os eslovacos do Slovan Bratislava. No Campeonato Italiano, a história foi parecida, pois a Roma terminou a competição em sétimo e não se classificou para nenhum torneio europeu.

O treinador espanhol tinha contrato para mais um ano no comando dos romanos, mas optou por não cumpri-lo e ficou sem clube por uma temporada inteira, para na seguinte assumir o Celta de Vigo.

Já no Celta, treinador fez campanha competente
Já no Celta, treinador fez campanha competente
Foto: Getty Images

No clube pequeno da Espanha, Luis Enrique conduziu uma campanha competente, finalizando o Campeonato Espanhol na nona posição. No clube da região da Galícia ele contou com o brasileiro Rafinha Alcántara, irmão de Thiago, que na temporada seguinte se uniu ao treinador no seu emprego atual: o time principal do Barcelona.

Retorno às origens

De volta à Catalunha, onde iniciou a carreira como técnico, Luis Enrique foi encarregado de recuperar a identidade do futebol azul-grená, que foi se perdendo com o passar dos anos desde a saída de Guardiola.

Desde a saída dele, Tito Vilanova e o argentino Geraldo Martino tentaram dar sua cara ao time, mas cada um à sua maneira não foi capaz de manter o mesmo espírito. Vilanova construiu um time obcecado pela posse de bola, mas que quase nada fazia com ela sem que Messi fizesse uma de suas travessuras.

Técnico voltou para onde iniciou a carreira fora das quatro linhas
Técnico voltou para onde iniciou a carreira fora das quatro linhas
Foto: Alejandro García / EFE

Martino, por sua vez, foi pior, apesar de ficar perto de levantar o título espanhol. Com o reforço de Neymar no time, o treinador argentino tentou criar um time que apostasse mais em jogadas diretas, como lançamentos. A proposta também não vingou, e a insistência em escalar o jogador brasileiro pela direita, fora outras opções táticas ineficazes, acarretaram na sua demissão ao final de uma temporada atribulada do Barcelona do lado de fora dos campos.

Foi neste contexto que Luis Enrique chegou, embora com um reforço do maior nível possível para seu elenco. O uruguaio Luis Suárez foi contratado junto ao Liverpool para compor o trio que encaixou ao longo do ano, ganhou o apelido de MSN e marcou incríveis 120 gols na temporada – mais do que todo o time Juventus, adversária na decisão da Champions.

Turbulência

Inicialmente, no entanto, o camisa 9 não pôde entrar em campo – suspensão decorrente da Copa do Mundo –, o que forçou testes com os jovens Munir El Haddadi e Sandro Ramírez e o uso regular do competente, mas burocrático, Pedro no ataque.

Isso não impediu que a equipe catalã iniciasse bem Campeonato Espanhol, mas na Liga dos Campeões a história foi outra. A classificação às quartas de final nunca ficou em cheque, mas uma vitória magra sobre o nanico APOEL e derrota para o PSG mostraram que nem tudo estava perfeito.

O primeiro encontro com o Real Madrid no ano, então, foi um choque. Apesar da estreia de Suárez na partida, em 25 de outubro, o Barça foi derrotado no Santiago Bernabéu. Não bastasse isso, o jogo seguinte foi outro revés, desta vez para o Celta de Vigo.

Neymar mostrou insatisfação em mais de uma ocasião nesta temporada
Neymar mostrou insatisfação em mais de uma ocasião nesta temporada
Foto: Paco Puentes / EFE

A dificuldade para fazer o trio composto por Suárez, Messi e Neymar vingar como deveria gerou pressão para cima do treinador, que teve seu domínio sobre os jogadores questionado pelas recorrentes reclamações do atacante brasileiro quando este era substituído no decorrer de jogos.

Não foi só Neymar que teria arrumado problemas com o técnico. Messi teria tido desentendimentos sérios com Luis Enrique nos bastidores. As polêmicas chegaram ao auge no dia quatro de janeiro, quando os dois jogadores começaram a partida contra a Real Sociedad no banco de reservas. O Barcelona perdeu aquele jogo, que marcou a reviravolta da temporada.

De SMN a MSN

Uma alteração estrutural no time se destacou: o ataque deixou de ser Suárez, Messi e Neymar e se tornou Messi, Suárez e Neymar, o MSN tão repetido nos últimos dias. Luis Enrique tirou o camisa 10 argentino da famosa posição de falso nove e o devolveu para o lugar de origem.

De volta ao lado direito do campo, onde iniciou sua jornada entre os profissionais do Barça na década passada, Messi permitiu que Suárez atuasse como a referência do ataque. A mudança tornou o ataque muito mais fluido e flexível, com Neymar e Messi alternando de função com o uruguaio quando conviesse.

 

CAMPEONES !!! 🏆🏆 @leomessi @luissuarez9

Uma foto publicada por Nj 🇧🇷 (@neymarjr) em

A posse de bola, bastião dos tempos de Guardiola, continuou importante na estrutura de Luis Enrique, mas a ligação direta e os contra-ataques se tornaram uma arma que aquele antigo Barcelona não tinha como uma especialidade. Xavi virou reserva, e Rakitic, croata que chegou neste ano, incluiu seus lançamentos longos ao arsenal catalão.

Por linhas tortas e crises graves nos bastidores, Luis Enrique moldou um novo Barcelona. Não é mais o time do tiki-taka, que domina o ritmo do jogo e pune o oponente ao deixá-lo com a bola por poucos minutos. É uma equipe agressiva, com alternância entre a cadência de Iniesta e os lançamentos de Rakitic, mais a velocidade das duas laterais e o talento de um trio de ataque histórico.

A identidade do time treinado por Luis Enrique foi encontrada não faz nem meio ano, mas resultou em dois títulos e a renascença na carreira de Messi, que parecia já ter atingido seu auge e começava, muito aos poucos, a cair de rendimento.

A partida do próximo sábado, às 15h45 (de Brasília), pode ser a afirmação de uma nova era dominante catalã. Isso se uma eventual derrota não implodir o que foi encontrado nos últimos meses.

Uma coisa é certa: serenidade não faltará ao comandante desta operação, que contornou momentos de caos e alcançou um equilíbrio vitorioso.

 
Fonte: Terra
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