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Liga dos Campeões

3º goleiro da Juve, Rubinho revela ajuda a Pogba e Morata

Brasileiro finalista da Liga dos Campeões conta ao Terra que foi um técnico-extra para jovens do grupo que desafiará Barcelona

2 jun 2015 - 08h57
(atualizado às 10h41)
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Um brasileiro com preferências europeias. Esse é o goleiro Rubinho aos 34 anos, sendo dez no futebol europeu. Revelado pelo Corinthians, o jogador da Juventus é um dos sete atletas brasileiros presentes nos elencos finalistas da Liga dos Campeões, cuja decisão será no próximo sábado, às 15h45 (de Brasília).

Em entrevista exclusiva ao Terra, o arqueiro da equipe italiana explicou como a longa experiência no futebol estrangeiro transformou seus hábitos e preferências pessoais, fatores que o fazem estranhar características marcantes do Brasil, como o calor. Por este motivo, Rubinho expressou a vontade de voltar à sua terra apenas mais para o futuro, provavelmente para uma carreira do lado de fora das quatro linhas.

“Sinceramente, já pensei muito em voltar. Houve uma época que eu tinha colocado como prioridade. Hoje eu penso de uma forma mais ampla, no sentido de qualidade de vida dos meus filhos, esposa. Não descarto voltar a trabalhar no Brasil. Quando eu parar de jogar provavelmente vou ficar no meio”, declarou, sugerindo posteriormente se tornar auxiliar técnico, treinador de goleiro ou até representante de clubes europeus no Brasil. Diferente de seu irmão, o ex-corintiano Zé Elias, hoje comentarista na ESPN Brasil.

Rubinho (esq.) entra em campo pela Juventus: volta ao Brasil apenas como dirigente
Rubinho (esq.) entra em campo pela Juventus: volta ao Brasil apenas como dirigente
Foto: Valerio Pennicino / Getty Images

Esta semana, no entanto, o objetivo é outro. Parar o badalado time do Barcelona e levantar uma taça que a Juventus não conquista desde o final da temporada 1995/96. De quebra, a equipe de Turim encerraria com chave de ouro o ano, com o “triplete” composto pela Champions, o Campeonato Italiano e a Copa da Itália, esses últimos já conquistados.

Terceiro goleiro no elenco, atrás do veteraníssimo Buffon e de Storari, Rubinho teve uma função especial nos últimos anos, a qual não é de conhecimento de quem apenas assiste aos jogos do clube italiano. Nos treinamentos, ou até depois deles, o brasileiro foi um técnico-extra para jovens do grupo, dos quais ele destacou dois: Pogba e Morata. O goleiro contribuiu para o aprimoramento técnico dos atletas menos experientes, como os dois citados, que se tornaram peças fundamentais nesta corrida até a final europeia.

“O caso mais claro é o Pogba, que chegou menino e toda vez que podia a gente parava ele para bater pênaltis, chutar, dar cabeçadas. Ele sempre mostrou pronto a receber indicações. Essa ano, Morata também foi desses meninos que eu peguei para criar. Eu falo que esses dois jogadores foram os que eu ajudei. Vê-los muito bem, todos falando bem, para mim é muito gratificante”, relatou Rubinho.

Destaque nos últimos jogos da Juventus na Liga dos Campeões, Morata teve ajuda de Rubinho em treinos
Destaque nos últimos jogos da Juventus na Liga dos Campeões, Morata teve ajuda de Rubinho em treinos
Foto: Alessandro Fucarini / AP

Apesar de ser um dos clichês mais famosos do futebol, “o grupo estar unido” não deixa de ser uma qualidade importante para uma equipe. Segundo o brasileiro da Juventus, que tem a companhia do conterrâneo Rômulo no elenco, o time de Turim tem o melhor ambiente que ele já vivenciou na carreira, mesmo com estrelas como Buffon, Pirlo, Vidal e Tevez. 

De acordo com o brasileiro, não há divisões entre os jogadores em grupinhos de amigos, pois todos os atletas, europeus, africanos e sul-americanos, têm bom relacionamento, história que nem sempre pode ser dita para time que misture gente de todo o canto do mundo.

Um fator, no entanto, pode pesar a favor dessa unidade. Como política do clube, a Juventus tem privilegiado nos últimos anos o uso de atletas italianos. Essa medida moldou a base da seleção nacional, treinada atualmente por Antonio Conte, técnico que levantou os primeiros três dos quatro títulos consecutivos do Italiano. Rubinho contou que, para tirar um nativo do time, um atleta de fora tem que realmente se destacar e justificar o posto.

“A Juventus nos últimos anos tem apostado muito nos jogadores italianos. Isso faz também com que os estrangeiros sejam restritos e muito qualificados. O estrangeiro para entrar na Juventus tem que ser realmente muito bom e melhor que um jogador italiano, porque a equipe crê que italianos são excelentes jogadores. Para ter um estrangeiro, eles devem ser melhores que os que eles já têm em casa”, afirmou o brasileiro, em sua terceira temporada no elenco.

Rubinho quando ainda atuava no Livorno: dez anos de futebol europeu
Rubinho quando ainda atuava no Livorno: dez anos de futebol europeu
Foto: Gabriele Maltinti / Getty Images

Todavia, três italianos são intocáveis. Donos de carreiras vitoriosas em âmbito nacional, inclusive pela seleção, Buffon, Chiellini e Pirlo são os pilares de experiência e liderança da equipe. Cada um deles exerce respeito dentro do elenco à sua maneira. Parceiro deles, o brasileiro exaltou a serenidade do goleiro titular como sua principal característica, enquanto o zagueiro inflama os companheiros com sua determinação e Pirlo é venerado quando a bola passa por seus pés.

Contra o Barcelona, eles e os oito outros jogadores que começarem a decisão terão um tremendo desafio. Parar o trio de ataque avassalador dos espanhóis, composto por Messi, Neymar e Suárez, que fez 120 gols até agora na temporada.

Rubinho é irmão de Zé Elias (dir.)
Rubinho é irmão de Zé Elias (dir.)
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

Confira a íntegra do que disse o brasileiro sobre esse e outros temas:

Como parar o trio Messi-Suárez-Neymar?

“Nós temos uma defesa muito sólida, importante no mundo europeu, porque você jogar com Barzagli, Chiellini, Bonucci e Buffon é praticamente jogar com a seleção italiana na defesa. De um modo ou outro a gente vai conseguir, tentar, parar esses três atacantes, até porque fizeram grande temporada e os números falam por si. A gente vai ter que trabalhar, estudar bastante o jeito de jogar. Tentar marcar não só eles, mas quem também pode colocar a bola no pé deles da melhor maneira possível para tentar levar essa Champions League.”

Buffon e a possível última chance de título da Liga dos Campeões, o qual ele nunca conquistou:

“Ele é tão experiente que ainda não está preocupado com isso. A sabedoria dele é muito grande, muito refinada para neste momento ficar preocupado se vai ou não vai ganhar. Mas eu creio que a expectativa, como de todos nós, é de chegar lá e fazer o melhor possível para conseguir esse campeonato. A gente já chegou tão longe... são 90, 120 minutos para conseguir esse título e a gente vai se doar ao máximo para esse objetivo.”

Buffon é o goleiro titular da Juventus
Buffon é o goleiro titular da Juventus
Foto: Marco Luzzani / Getty Images

A final do Rubinho

“É um ponto alto (da carreira) de todo jeito. Eu não joguei nenhum jogo, mas fazer parte de um elenco que chega no final do maior campeonato europeu é importante. A expectativa é aquela de ajudar de um jeito ou de outro para gente conseguir esse título. A partir do momento que o jogo vai chegando, você vai vendo vídeos, estudar o que eles fazem, a expectativa aumenta e você está ali. É um momento que você pode viver tantas outras vezes como aquele momento só.”

Voltar para o Brasil?

“Sinceramente já pensei muito em voltar. Houve uma época que eu tinha colocado como prioridade voltar para o Brasil. Cheguei quase a acertar com umas equipes, mas no final, graças a Deus, porque hoje eu estou aqui na Juventus, eu não acertei e como já estou acostumado na Itália com tantas coisas – ritmo de vida, meus filhos, minha esposa – tudo isso me faz querer ficar um pouco mais. Hoje se eu tivesse que voltar eu voltaria se fosse uma coisa muito legal, bacana, que valesse a pena voltar. Lógico que hoje eu penso de uma forma um pouco mais ampla, no sentido de qualidade de vida dos meus filhos, esposa. Hoje no Brasil está complicado. Segurança, política, crise dos clubes... Tudo isso se eu colocar na balança me faz pensar em ficar um pouco mais tempo na Europa. Não descarto voltar a trabalhar no Brasil de jeito nenhum, mesmo porque sou um profissional do futebol, quando parar de jogar provavelmente vou ficar no meio, então quem sabe um dia posso voltar para o Brasil como um segundo treinador, treinador de goleiro, representante de algum time da Europa. Hoje voltar para jogar eu não penso.”

Um estranho ao calor tropical

“Depois de tantos anos de pegar só frio, porque quando volto para o Brasil de férias é frio também, o frio já faz parte da minha vida. Já estou acostumado com um frio muito forte e também com um mais tranquilo. Sofro hoje com o calor. Se eu tenho que fazer um treino e está muito quente eu sofro, porque não estou mais acostumado com esse calor do Brasil e às vezes acontece na Europa também. Creio que até meus filhos... meu mais velho gosta mais de esquiar, de andar de snowboard do que ir para praia. Aqui em Turim a gente tem perto as montanhas. Já acostumamos com esse vento frio, neve, chuva.”

Título mais marcante pela Juventus

“Lógico que quando você ganha um título, faz parte de uma equipe que ganha, é sempre especial, porque de um jeito ou de outro você acabou ajudando ou contribuindo de algum modo para que aquilo acontecesse. Nesses três anos eu joguei, se você juntar todos os minutos, não dá um tempo, mas eu creio que minha contribuição fora do campo foi muito válida, importante para todas essas conquistas. Para nominar, o primeiro troféu, o segundo Scudetto que nós ganhamos aqui, para mim foi especial, até porque eu vinha de um período conturbado na Itália, com minha saída do Palermo. Muitas pessoas viraram as costas para mim quando eu saí da Itália rescindindo contrato com o Palermo. Muita gente dizia que eu era um jogador acabado. Tantas coisas que – não que me tenham feito mal – eram mentiras que infelizmente diziam de mim no meio do futebol da Itália. Depois de tudo isso, no final de um ano, de uma temporada, estar na Juventus, fazer parte de um grupo campeão, foi uma satisfação muito grande, um prazer enorme, porque um pouco antes de eu vir para a Juventus foi um momento de dificuldade, só que depois Deus abençoou e eu pude levantar meu primeiro troféu pela Juventus.”

Juventus tem acumulado títulos nacionais nos últimos anos
Juventus tem acumulado títulos nacionais nos últimos anos
Foto: Valerio Pennicino / Getty Images

Ajuda na formação de talentos:

“O caso mais claro, que hoje está abaixo dos olhos de todos, é o Pogba, que chegou menino, com 18 para 19 anos e toda vez que ele podia, a gente parava para ele bater pênalti, chutar, dar cabeçadas e tudo. Ele sempre mostrou pronto a receber indicações. Aberto a escutar aquilo que eu falava com ele. Não só ele, mas também outros jogadores que também ficavam com ele fazendo os chutes a gol comigo. Hoje ele é o cara que eu posso dizer que eu passei muito tempo. Creio que, se eu tiver que dar um conselho a ele, ele vai me escutar e tentar colocar em prática. Esse ano, Morata também foi um desses meninos que eu peguei para criar, no sentido de fazer chutes a gol, ‘presta atenção no goleiro, olha o movimento, se você estiver fazendo tal movimento é melhor chutar de outra parte’. Isso tudo eu posso falar, dar indicação, mas é mérito dele saber escutar e depois colocar em prática. Eu falo que esses dois jogadores foram os que eu ajudei. Vê-los muito bem, jogando bem, todos falando bem, para mim é muito gratificante.”

Prioridade aos italianos na Juventus:

“Talvez tenha até tido jogadores brasileiros na Juventus, mas não conseguiram despontar da própria Juventus ou Itália. A Juventus nos últimos anos tem apostado muito nos jogadores italianos. Isso faz também com que os estrangeiros sejam restritos e muito qualificados. O estrangeiro para entrar na Juventus tem que ser realmente muito bom e melhor que um jogador italiano, porque a equipe crê que atletas italianos são ótimos, excelentes jogadores. Para ter um estrangeiro, eles devem ser melhores que os que eles já têm em casa. Creio que seja uma coincidência que nesses últimos anos não tenha vindo de fora um brasileiro que não tenha se destacado na Juventus.”

Trio Buffon, Chiellini e Pirlo:

“São lideranças diferentes. O Pirlo tem uma liderança quando está com a bola no pé e todo mundo ‘para’ ver o que ele vai fazer. A liderança do Chiellini é aquela que você olha e fala: ‘se esse cara está se matando, eu vou atrás dele, porque motivo tem’. O Buffon é um cara que, creio que nos últimos anos, é dos maiores jogadores italianos que ainda estão jogando e é muito respeitado. Só pela figura dele, não precisa nem abrir a boca. A figura dele no gol impõe respeito à nossa equipe e a adversária. São três lideranças importantíssimas para nós, mas diferentes no modo de agir dentro e fora do campo.”

Relação entre os jogadores:

“Realmente não existem grupinhos na nossa equipe. Não é que o sul-americano fica só com o sul-americano, italiano fica só com o italiano, e vice-versa. Aqui a gente tem um ótimo grupo no sentido geral. Todo mundo se dá com todo mundo, nunca houve confusão, tem um clima de respeito muito bom entre todos os jogadores. Creio que o nosso diferencial, no geral, seja justamente essa qualidade de grupo que a gente tem. É muito difícil em uma equipe grande, onde existem grandes jogadores. Às vezes a vaidade, a inveja, falam mais alto, mas o nosso elenco creio que é o melhor que eu já participei. Posso falar sem problemas que é um grupo muito bom.”

 

Fonte: Terra
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