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Brasileirão chega ao fim para alívio da CBF e dos clubes

Temporada marcada por maratona de jogos e surtos de covid-19 chega ao fim com jogos de nível técnico baixo e discussões sobre calendário

26 fev 2021 - 05h10
(atualizado às 07h53)
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Campeonato Brasileiro mais tumultuado do século, o "Brasileirão da covid" chegou ao fim nesta quinta-feira com sentimento de alívio para a CBF e os clubes. A maratona de 380 jogos concentrados em pouco mais de seis meses foi considerada por todos como uma espécie de sufoco necessário. O calendário congestionado, os desfalques gerados pelo novo coronavírus e o desgaste dos times foram prejuízos menores do que cancelar a competição e abrir mão de verbas de transmissão e patrocínio.

Jogadores do Flamengo levantam a taça de campeão brasileiro
Jogadores do Flamengo levantam a taça de campeão brasileiro
Foto: Marcello Zambrana/Agif-Agência de Fotografia / Estadão

Os 20 times e mais a CBF concordaram em encarar a aventura de manter o formato do campeonato mesmo durante o ano atípico. Países vizinhos, como a Argentina, reduziram o calendário. "Mais do que um alívio, terminar o Brasileirão é um sentimento de sucesso e de coragem. Não houve nenhum outro calendário no mundo que não tenha sido encurtado ou com torneios cancelados. Tivemos gestão capaz de enfrentar a crise", disse ao Estadão o secretário geral da CBF, Walter Feldman.

A coragem teve um preço. Alguns times encararam surtos de covid-19, alguns com cerca de 20 casos simultâneos, como Flamengo, Palmeiras e Goiás. A falta de datas no calendário atrasou diversos jogos e fez com que somente na 36.ª rodada todos os times tivessem o mesmo número de partidas disputadas. Teve futebol no domingo de carnaval e equipes que entraram em campo somente dois dias depois do compromisso anterior.

"Se o futebol não tivesse voltado, o desemprego nos clubes seria gigantesco. Eles estariam em uma condição pré-falimentar. O público também não teria divertimento. Mais do que nunca, o futebol se tornou fundamental", disse Feldman. Para compensar a falta de bilheteria nos jogos, a CBF abriu o cofre. A entidade abriu uma linha de crédito de R$ 100 milhões para os times da Série A e bancou todos os testes de covid-19.

"A maior contribuição da CBF é manter a estabilidade das competições previstas no calendário, garantindo aos clubes o cumprimento de seus contratos de patrocínio e direitos de transmissão", disse o presidente da entidade, Rogério Caboclo. Antes de cada rodada, todos os jogadores, membros da comissão técnica e árbitros passaram por exames PCR.

A falta de dinheiro e os seguidos desfalques causados pelo coronavírus levaram os clubes a apostarem nas categorias de base. O Santos, por exemplo, até escalou o atacante Ângelo, de apenas 15 anos. Um estudo do Centro Internacional de Estudos de Esporte, na Suíça, comprovou essa mudança. Em comparação ao Brasileirão de 2019, a presença de jogadores revelados nos próprios clubes aumentou de 14,7% para 18,5%. Por outro lado, houve uma redução na quantidade de jogadores recém-contratados escalados. Caiu de 46,7% para 41,8%.

LIÇÕES

Quem acompanha o futebol avalia que o Brasileirão tumultuado pela pandemia pode deixar algumas lições. A principal delas é discutir a quantidade de partidas. "O calendário tem de ser repensado. São muitos jogos para poucos dias", disse ao Estadão o ex-técnico Carlos Alberto Parreira.

Na opinião dele, o nível da competição foi baixo por causa do excesso de jogos. "É claro que essa maratona atrapalha, o ritmo não é o mesmo, nem a velocidade, nem o rendimento. Aumentam a margem de erro e as contusões. Falta tempo de recuperação", explicou treinador campeão mundial em 1994.

Para o técnico Ney Franco, que dirigiu o Goiás no início deste Brasileirão, o ano tão difícil gerou um aprendizado para as equipes. "Todo clube vai estar mais desenvolvido na área de departamento médico e com uma preocupação enorme com a saúde dos funcionários, em especial a higiene. Vai surgir também uma cultura de ter uma reserva financeira maior, para ter uma segurança em tempos de crise", afirmou.

A temporada 2020 chegou ao fim, mas não para todos os clubes. Palmeiras e Grêmio ainda vão decidir nos dois próximos domingos a Copa do Brasil. Para os demais, o ano de 2021 vai começar imediatamente. O calendário prevê para o fim de semana a estreia nos campeonatos estaduais. Não haverá pausta. As férias agora estão marcadas apenas para dezembro.

Estadão
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