Paulistão acumula aberrações que punem bons trabalhos e premiam a sorte
Regulamento ajuda o São Paulo em classificação na bacia das almas e mina campanhas sólidas como a do São Bernardo
Com o intuito de promover o maior número possível de clássicos entre os grandes, o insólito formato do Campeonato Paulista segue repleto de aberrações ano após ano. Mesmo somando mais de 20 pontos e a quinta melhor campanha geral na competição, o São Bernardo acabou eliminado graças ao derradeiro gol de pênalti do São Paulo contra o Ituano, nos acréscimos, que salvou o tricolor da queda logo na primeira fase.
Por outro lado, a Portuguesa, que flertou com o rebaixamento praticamente durante todo o torneio, se classifica com 10 pontos e a quarta pior campanha na chave mais fraca do Paulistão, que contou com os rebaixados Santo André e Ituano. Há mais de 20 anos na elite estadual, o time de Itu caiu sem ter a oportunidade de enfrentar os frágeis concorrentes de grupo – à exceção do Santos, dono do segundo melhor desempenho geral.
A discrepância do regulamento, que não permite duelos entre equipes das mesmas chaves na primeira fase, também contribuiu para evitar a eliminação do São Paulo, classificado sem ter precisado enfrentar os ótimos times do Novorizontino e São Bernardo, com maior potencial de tirar pontos dos são-paulinos em confrontos diretos que Portuguesa, Santo André e o próprio Ituano.
Por ter vencido os três duelos diante dos fiéis da balança, o time de Thiago Carpini chegou à última rodada dependendo das próprias forças para se classificar. Esteve à frente no placar por duas vezes, mas, pela baixa eficiência do ataque e as mexidas nada felizes do treinador, cedeu o empate aos 43 do segundo tempo.
Aos 48, Juan sofreu pênalti, convertido por Lucas Moura, que salvou a pele de Carpini e garantiu a passagem de fase do tricolor. Mais sorte que juízo de um time que, depois de quebrar o incômodo tabu em Itaquera e vencer a Supercopa do Brasil, caiu de produção e chegou a acumular quatro jogos sem vencer no Paulista antes da partida em Itu.
Outros grandes não podem (nem devem) reclamar do regulamento do campeonato. O Corinthians amargou eliminação antecipada e merecida, castigado pelo mau início sob o comando de Mano Menezes. Já o Palmeiras, pelo terceiro ano consecutivo, termina a fase de grupos invicto e com a melhor campanha geral.
De qualquer forma, as seguidas distorções deveriam instigar a Federação Paulista de Futebol (FPF) a rever o formato de disputa. Em 2022, por exemplo, Botafogo-SP e Mirassol foram eliminados com pontuação suficiente para se classificar em qualquer outro grupo.
Agora, o São Bernardo fica pelo caminho com mais de 20 pontos, enquanto a Lusa avança com 10. A insistência em recompensar a sorte, seja de quem cai no grupo “certo” ou de quem escapa de confrontos mais difíceis, punindo bons trabalhos, não faz o menor sentido.