Ressurgimento da McLaren: de Ayrton Senna x Alain Prost a Oscar Piastri x Lando Norris
Dupla formada por australiano e britânico repete feito após 34 anos e assume papel de protagonista em retomada da equipe de Woking
A McLaren é uma das equipes mais tradicionais da Fórmula 1 e compõe o circo da categoria máxima do automobilismo mundial desde 1966. Soma 10 títulos de construtores e reencontrou sua fase áurea em um momento de dominância absoluta de um dos principais pilotos da história da categoria, Max Verstappen.
Esta é a terceira vez que a McLaren comemora de forma consecutiva títulos de construtores. Em 1984 e 1985, contou com a genialidade de Niki Lauda e Alain Prost para alcançar o feito. Entre 1988 e 1989, ainda com o francês na equipe, teve Ayrton Senna como protagonista para se tornar campeã. Em 1990 e 1991, o brasileiro formou dupla com Gerhard Berger e levou a McLaren ao tetracampeão.
Em 2025, com boa antecedência, a McLaren conquistou mais um bicampeonato. Mas há um ingrediente que não constava nas receitas anteriores: a falta de um título de pilotos. Lando Norris chegou a brigar pelo troféu em 2024, mas foi superado por Max Verstappen. Nesta temporada, o britânico enfrenta a concorrência do companheiro de equipe, Oscar Piastri. Correndo por fora, está novamente o holandês, que sonha com o quinto título seguido.
Na classificação, a distância entre Norris e Piastri é de apenas um ponto (357 a 356), mas o momento do britânico é melhor. O australiano enfrenta irregularidade nos últimos cinco Grandes Prêmios, em que não conquistou nada além de um quarto lugar. Já Piastri esteve no pódio em três das últimos cinco corridas. Verstappen aparece na terceira colocação, com 321 pontos.
Histórico de tensão na McLaren
Estão na memória dos brasileiros as faíscas dispersadas pelas batalhas entre Senna e Prost. Na pista e fora delas. Havia uma guerra de bastidores que transbordava os limites do asfalto e envolvia até a alta cúpula da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), liderada pelo francês Jean-Marie Balestre.
Em 1989, no decisivo GP do Japão, Prost liderava, com Senna na cola. Nas voltas finais, o brasileiro partiu para o ataque. Quando tentou a ultrapassagem, colidiu com o rival. Um abandono duplo daria o título a Prost, enquanto apenas a vitória interessava a Senna para adiar a disputa até Adelaide.
O acidente fez com que Prost deixasse a prova, mas Senna pediu ajuda para o carro ser empurrado. De volta à pista, o brasileiro persistiu, parou nos boxes para trocar o bico e perdeu a liderança para Alessandro Nannini. Mesmo assim, Senna alcançou o italiano e ganhou a corrida. No entanto, os homens de terno e gravata da FIA decidiram desclassificar Senna por ter cortado a chicane após a batida em Prost. O título, então, ficou com o francês.
No ano seguinte, cena parecida em Suzuka. Dessa vez, com Prost na Ferrari. Na largada, Senna e o francês bateram, mas o favorecido com o abandono duplo foi o brasileiro, que conquistou o título.
Em 2007, o então estreante Lewis Hamilton e o já bicampeão Fernando Alonso lutaram intensamente pelo troféu e tinham tudo para faturar o Mundial. Brigas e discussões afetaram o clima da equipe, ainda mais depois da descoberta de espionagem da McLaren contra a Ferrari. Quem levou a melhor foi o finlandês Kimi Räikkönen, da Ferrari, que conseguiu uma arrancada na reta final e ganhou o título com uma mãozinha de Felipe Massa, que cedeu a vitória no GP de Interlagos para o companheiro de time.
Em 2025, as polêmicas são bem mais amenas. Porém, contribuem para desconfiança entre os companheiros de equipe e discursos sobre favorecimento da McLaren a Norris. "Temos dois pilotos que querem ganhar o campeonato", disse Zack Brown, chefão do time de Woking, no podcast Beyond the Grid da Fórmula 1.
Brown reforça que não permite que haja favorecimentos na McLaren e lembrou de 2007 para dizer que prefere perder o título de pilotos a privilegiar Norris ou Piastri. "Se o que aconteceu em 2007 se repetisse, eu preferiria esse resultado a qualquer outro, mesmo que isso significasse favorecer alguns. Nós não fazemos isso. Somos pilotos e vamos correr."
Parceria com Mercedes e fundo do poço com a Honda
A parceria McLaren-Honda floresceu o momento mais relevante para o automobilismo brasileiro diante dos títulos de Ayrton Senna. A união entre britânicos e japoneses foi encerrada em 1992. Entre 1993 e 1994, o time de Woking contou com motores Ford e Peugeot. Sem sucesso, migrou para a Mercedes.
Entre 1995 a 2014, a McLaren-Mercedes se tornou sinônimo de sucesso, coroada com o bicampeonato do finlandês Mika Häkkinen, em 1998 e 1999. A Mercedes, em 2010, decidiu ter uma equipe própria, e a relação com a McLaren esfriou.
Então, os britânicos tentaram reativar a magia da década de 1990 e se reconciliar com a Honda. No entanto, o fracasso foi retumbante. Em 2017, a McLaren foi penúltima colocada e o contrato chegou ao fim. Nos anos seguintes, os sinais melhoraram com a Renault, mas foi apenas com a Mercedes de volta, a partir de 2021, que a equipe britânica encontrou o brilho novamente./COM INFORMAÇÕES DA AFP