PUBLICIDADE

Quem foi Ken Miles, o herói de Ford vs Ferrari

Kenneth Henry "Ken" Miles foi um dos maiores responsáveis pelo sucesso da vingança da Ford sobre a Ferrari nos anos 1960

8 jun 2023 - 12h34
(atualizado em 19/9/2023 às 23h34)
Compartilhar
Exibir comentários
Ken Miles durante as 24 Horas de Le Mans de 1966
Ken Miles durante as 24 Horas de Le Mans de 1966
Foto: Le Mans / Divulgação

Ford vs Ferrari é um filme baseado em dois personagens principais: Carroll Shelby, interpretado por Matt Damon, e Ken Miles, vivido por Christian Bale. O enredo se baseia na história real da busca por vingança de Henry Ford II, neto do fundador, para cima de Enzo Ferrari, após a recusa da venda da marca italiana. Apesar do filme mostrar a compra pela Fiat, isso só foi acontecer anos depois, em 1969, a companhia continuou sendo independente na época da batalha. 

Mas quem foi o Ken MIles da vida real? Miles nasceu na Grã-Bretanha, em 1° de novembro de 1918. Desde muito jovem, mostrou paixão por motores. Deixou a escola com 15 anos. Após tentativa frustrada de fugir para os Estados Unidos, entrou na Wolseley Motors, onde aprimorou seus conhecimentos sobre construção de veículos. Miles chegou a pilotar motos antes da Segunda Guerra.

Durante o conflito, Miles chegou a ocupar o posto de sargento, além de ser um dos fundadores da Escola Real de Engenheiros Elétricos e Mecânicos. Participou também do Dia D, quando tropas aliadas desembarcaram na Normandia. Após o final da guerra, voltou a se dedicar a sua grande paixão, que era pilotar. Em 1952, se mudou para a Califórnia, estado americano que vivia um forte desenvolvimento - e as corridas faziam parte disso.

Por sua grande experiência, foi contratado como gerente de serviços da representante da MG de Hollywood Hills. Acabou fazendo seu primeiro carro de corrida, o MG Special R1, que contava com freios, transmissão e motor do MG TD, mas com chassi e carroceria projetada a ser fabricada por Miles, com a ajuda de Lawrence Melvold. O carro deu muito certo, o próprio Ken pilotou o carro, conquistando 14 vitórias seguidas no SCCA, na categoria para carros de até 1500cc.

MG Special R1, o primeiro carro construído por Miles
MG Special R1, o primeiro carro construído por Miles
Foto: Twitter / Reprodução

Com parte do dinheiro que ganhou, Miles fez seu 2° carro, o Flying Shingle, que contava com carroceria de alumínio em formato aerodinâmico. A MG gostou tanto dos serviços do piloto, que em 1955, a própria marca britânica o convidou para participar das 24 Horas de Le Mans, a bordo do MG EX-182, para carros de até 1500cc. Na ocasião, terminou em 12° lugar na classificação geral e 5° lugar na classe.

O vencedor da categoria naquele ano foi o Porsche 550 RS Spyder, que parecia imbatível. E a Porsche iria cruzar o caminho de Miles novamente: o mesmo 550 que esteve em Le Mans foi levado à Califórnia, e Miles ficou de mãos atadas. Para continuar tendo sucesso nas corridas, resolveu vender seu próprio carro. Começou a correr com o próprio 550, do distribuidor da marca na região, Johnny Von Neumann.

Mas o Porsche 550 era muito caro de se manter, então montou seu terceiro carro. Em 1956, nasceu o R3, com a ajuda de Otto Zipper. O bólido tinha chassi e carroceria da Cooper, mas motor de transmissão da Porsche. O “Pooper”, como ficou conhecido, era melhor que os próprios carros da marca alemã.

Obviamente isso não agradou à Porsche e a marca cortou o vínculo com Miles. Sem este apoio, Miles teve que correr com carros de outras marcas, por qualquer quantia de dinheiro. Miles viveu seu pior momento financeiro, a pior parte disso é que ele tinha uma família para sustentar: ele era casado com Mollie, com quem tinha um filho chamado Peter, nascido em 1950.

Por isso, também resolveu fazer uma oficina mecânica. Mas Miles não era conhecido por ter uma relação muito fácil com as pessoas, os clientes não ficavam muito satisfeitos e logo o piloto parecia no fundo do poço. O que poderia salvá-lo? Em 1962, existia um ex-piloto, que havia se aposentado por problemas de saúde, chamado Carroll Shelby, que estava fundando a Shelby American.

Miles foi contratado como gerente de competições, engenheiro-chefe e piloto de testes. Shelby sabia o potencial. Shelby queria fazer um carro de corrida, e tinha contratado a britânica AC para fazer um modelo que coubesse um motor V8. Carroll procurou a GM primeiro, mas essa recusou, então foi atrás da Ford, que forneceu o motor 4.2 V8, além de financiar o projeto.

O objetivo da Ford era claro, bater os próprios carros da GM, como o Chevrolet Corvette. Apesar de existir um acordo entre as grandes de Detroit, que não deviam participar de corridas, tudo acontecia por baixo dos panos. Shelby e Miles justificaram o investimento. O carro se chamou Shelby Cobra, e como o comando de Miles, venceu o USRRC de 1963, além da vitória de sua classe nas 12 Horas de Sebring.

Ed Leslie (#98) e Ken Miles (#50) com carros da Corvette ao fundo,Laguna Seca, 1963
Ed Leslie (#98) e Ken Miles (#50) com carros da Corvette ao fundo,Laguna Seca, 1963
Foto: Ford Performance / Twitter

Outras pessoas se juntaram ao time, como Phil Remington, que assumiu a engenharia, e Pete Brock, o designer. Juntos, criaram um novo modelo: o Cobra Daytona Coupe, feito para competir com a Ferrari 250 GTO na Classe GT. Miles ficou encarregado de desenvolver o modelo, além de cuidar das equipes nos campeonatos americanos e na Europa, principalmente em Le Mans.

Em 1964, o carro foi à pista, durante os 2000 Km de Daytona (prova que daria lugar às 24 Horas), e naquele ano só aceitava carros GTs, a equipe inscreveu um único carro, que acabou abandonando, enquanto a Ferrari fez 1-2-3.

Mas as coisas mudaram a partir das 12 Horas de Sebring: a dupla Holbert e MacDonald ficou em quarto no geral, vencendo na classe GT e derrotando os carros da Ferrari. Em Le Mans, Dan Gurney e Bob Bondurant repetiram a dose, chegando em quarto, atrás apenas dos protótipos da Ferrari, pela primeira vez desde criação da classe, a Ferrari não vencia no GT na prova francesa, isso foi considerado um grande feito.

O Shelby Cobra Daytona Coupe
O Shelby Cobra Daytona Coupe
Foto: Wikimedia Commons

Ken Miles focou no campeonato do USRRC novamente, acabou batendo os Corvette de novo e foi campeão. A Ford gostou muito do desempenho geral da Shelby, mas a montadora não estava nada feliz com uma situação em especial: o domínio da Ferrari. Em 1963, Lee Iacocca, vice-presidente da montadora, deu uma solução para Henry Ford II melhorar o marketing de sua marca: comprar a marca italiana.

Enzo Ferrari estava muito interessado, já que devido aos grandes investimentos em corrida, estava endividado e precisava de maneiras para financiar seus esforços, tanto no endurance, quanto na F1. A Ferrari tinha criado uma imagem muito forte, vencendo as 24 Horas de Le Mans em 1958, 1960, 1961, 1962 e 1963, apenas em um ano não tinha vencido, 1959, quando a Aston Martin, pilotada por Carroll Shelby e Roy Salvadori venceu.

Ferrari 330 TR, vencedora das 24 Horas de Le Mans de 1962
Ferrari 330 TR, vencedora das 24 Horas de Le Mans de 1962
Foto: Ferrari / Twitter

A marca também começou a ter uma boa penetração no mercado americano. Todos queriam os carros da Ferrari. Era sinônimo de sucesso, status e a compra iria ser muito bem vista. A proposta era criar duas marcas, Ford-Ferrari, focada em carros de rua e Ferrari-Ford, focada no automobilismo, mas quando Enzo soube que teria limitações orçamentárias, que acabariam inviabilizando todo o programa de corridas da marca, resolveu desistir de vender.

Obviamente, era possível dizer que o que a Ford ganhava em um dia, a Ferrari levará um ano e Henry Ford II não ficou nada feliz. Como forma de marketing e também de vingança pessoal, deu a ordem, não importasse quanto custasse, para a Ford acabar o império da montadora italiana.

O engenheiro Roy Lunn foi encarregado pelo projeto. Vários construtores de corrida na Europa foram consultados, inclusive a Lotus, que tinha vencido o campeonato em 1963, mas Colin Chapman queria que a marca fosse exposta e Ford não aceitou. Mas Eric Broadley, da Lola, resolveu topar a tarefa, e tinha um fator a seu favor. Em 1963, a Lola correu com motores Ford em Le Mans, mostrou um bom desempenho, apesar de todos os carros terem abandonado, o Lola Mk6 GT, seria a inspiração para o carro da Ford, sendo equipado com motor 289 V8 de 4727cc.

Roy Lunn com o Ford GT40 original
Roy Lunn com o Ford GT40 original
Foto: Ford Performance / Twitter

Chamado de Ford GT40, um protótipo para as 24 Horas de Le Mans de 1964, desenhado por Ron Bradshaw e desenvolvido por John Wyler, que tinha vindo da Aston Martin, todo desenvolvido na Europa. O resultado não agradou nem um pouco. o carro era um fracasso, cheio de problemas, principalmente aerodinâmicos e de motor. A situação não poderia ficar daquela forma. Tendo a Shelby American se mostrando tão competente, sendo uma empresa americana, talvez fosse melhor jogar para eles a responsabilidade de melhorar o desempenho.

Ken Miles tinha um desafio e tanto, mas era extremamente sensitivo, com um orçamento quase ilimitado da Ford e o apoio da Lola, faria aquilo dar certo. O ano de 1965 começou bem, Miles também seria piloto em todas as frentes. O Shelby Mustang GT350, o modelo melhorado pela Shelby, conquistou sua primeira vitória, com ele ao volante. O Ford GT conquistou sua primeira vitória também nos 2000 Km de Daytona, com Miles e Lloyd Ruby.

Em Sebring, com uma corrida bastante chuvosa, Miles correu com Bruce McLaren. Chegaram em segundo, perdendo para o Chaparral 2A. Mas esse carro não era elegível para Le Mans, então, na prática, foi como se fosse outra vitória. Em paralelo a isso, uma equipe da NASCAR, a Holman Moody, trabalhava para encaixar o motor 427 7.0 do Ford Galaxie no GT40.

A intenção de trabalhar com um motor de 7.0 litros no lugar de 4.7 litros nem era tanto a potência, que realmente maior, mas a confiabilidade. Era menos suscetível a quebrar, por mais que fosse mais pesado e com isso piorasse o desempenho em geral. Durante os testes, Miles participou de uma experiência inovadora para a época, o uso de computadores, cujo a função era coletar temperatura, pressão e rotação do motor.

No circuito de Willow Springs, a equipe conseguiu ganhar mais 75cv com os testes, até que Miles foi pioneiro. Para a edição de 1965, foram colocados dois modelos. Quatro Ford GT40 com motor 289 e dois com Motor 427, chamado de Ford GT40X (Mk II). o #1 era pilotado por Ken Miles e Bruce McLaren e o #2 pilotado por Phil Hill e Chris Amon. O primeiro Ford abandonou com duas horas de prova, por problemas de câmbio.

Na terceira hora, mais dois, por problemas de motor. Na quarta hora, o #2 GT40X abandonou por problema de câmbio. Os dois últimos GT40 restantes, incluindo o de Miles e McLaren, por problema de embreagem. A causa de tantas quebras, principalmente do GT40X, pode ter sido relacionada à troca de câmbio antes da corrida. A Ferrari venceu de novo, mas a Ford mostrou desempenho para conseguir conquistar a prova. Henry Ford II estava furioso e sem paciência, não aguentaria mais um fracasso no ano seguinte.

Por isso colocou a Holman-Moody para correr também. Nas 24 Horas de Daytona de 1966, mais uma vitória de Ken MIles e Lloyd Ruby, com 1-2-3 da Ford. O segundo foi outro carro da Shelby, pilotado por Dan Gurney e Jerry Grant. Em terceiro, um carro da Holman & Moody de Walt Hansgen e Mark Donohue. Nesta corrida os protótipos da Ferrari não participaram.

Miles e Ruby após a vitória
Miles e Ruby após a vitória
Foto: Ford Performance / Twitter

Nas 12 Horas de Sebring, Ken Miles e Lloyd Ruby estavam correndo com a variação X1 do GT40, existia um acordo para nos minutos finais de uma corrida não haver disputa entre dois pilotos da Ford pela vitória. A razão era que os carros tinham uma mecânica frágil, e uma briga poderia forçar os dois carros a abandonar a prova. Nas últimas voltas Dan Gurney a frente, seguido por Miles. Gurney e Ken estava em ritmo bem elevado, e segundo a ordem, Ken precisava diminuir.

Mesmo assim, Ken não estava diminuindo o ritmo, o importante era uma vitória da Ford, não importava quem vencesse. Já estava escuro, mas Carroll Shelby nos boxes fazia sinais desesperados para Ken não atacar Dan e diminuir o ritmo, Ken respondeu com um dedo do meio a ele. Mas Shelby estava apenas obedecendo ordens, a ideia disso era de Leo Beebe, o vilão do filme Ford vs. Ferrari, interpretado por Josh Lucas. Ele aparentava não ter nenhuma implicância com Miles até aquele momento.

Ken Miles com o Ford GT40 X1
Ken Miles com o Ford GT40 X1
Foto: Ford Performance / Twitter

A vitória de Dan Gurney era tão certa, que quando ele parou nos boxes pela última vez, Shelby disse a ele que ele tinha vencido, era só terminar a prova. Shelby achava que Miles cumpriria o acordo. Na penúltima volta, Gurney cruzou em primeiro e Miles em segundo, a vitória já era certa, o público estava empolgado. Mas na bandeirada, passou Ken Miles em primeiro, Dan não aparecia, e todo mundo ficou se perguntando o que tinha acontecido.

Então Dan veio empurrando o carro, desesperado com o que tinha acontecido, seu motor tinha estourado a metros do fim. Mesmo cruzando a linha de chegada a pé, ele foi desclassificado, em uma corrida de endurance o carro tem que cruzar a linha de chegada por meios próprios.

Mas então a Ford chegou a Le Mans novamente, com uma enorme pressão para vencer. E com uma esquadra que nada menos que 13 carros. Dessa vez Ken Miles estaria com Denny Hulme. Na qualificação eles foram segundo, 1s1 atrás do pole, o #3 Ford com Dan Gurney e Jerry Grant.

Miles e Hulme após a vitória em Sebring
Miles e Hulme após a vitória em Sebring
Foto: Ford Performance / Twitter

A largada foi dada e tudo começou errado para Miles, o início era dada com os pilotos tenham que correr até o carro, quando ele entrou no carro a porta e foi partir, mas se envolveu em um toque com Whitmore, outro Ford, e a porta não fechava, isso lhe fez perder tempo nos boxes.

Na primeira volta, Graham Hill (#7 Ford) estava à frente, seguido por Dan Gurney (#3 Ford) e Ronnie Bucknum (#5 Ford). Em quarto, vinha a primeira Ferrari, de Mike Parkes, a #20. Na terceira volta, Gurney tomou a ponta. No final da primeira hora, a Ford estava com 1-2-3

Em quarto, a Ferrari da NART, número #27, pilotado por Pedro Rodríguez, e logo atrás já vinha Miles, fazendo volta rápida em cima de volta rápida. Com a #20 Ferrari em sexto. Às 20 horas, Miles estava na liderança, seguido por Gurney (#3 Ford) e Pedro Rodriguez (#27 Ferrari). Começou a chover, reduzindo as vantagens dos carros da Ford. Além disso todos os Ford pararam para trocar as pastilhas de freio, uma estratégia pioneira, já que os carros americanos sofriam muito com o desgaste.

Ferrari #21 durante as 24 Horas de Le Mans de 1966
Ferrari #21 durante as 24 Horas de Le Mans de 1966
Foto: Wikimedia Commons

A chuva aumentou, o que deixou a Ferrari na frente com o #27, seguido pelo #20, atrás vinham Gurney e Miles, seguido pela #21 Ferrari, de Bandini, que estava sendo seguido pelo #2 Ford, pilotado por Bruce McLaren, esses dois uma volta atrás. Mas, conforme a chuva foi diminuindo, Miles e Gurney passaram os carros da Ferrari e a situação ainda ficaria pior para o time italiano: Guichet assumiu a #21 Ferrari, e rodou na pista, um Porsche desviou dele e acabou batendo; Scarfiotti da #21 Ferrari bateu com um Matra.

Naquele ponto. Scarfiotti abandonou, e um dos três principais carros da esquadra italiana, todos do modelo 330 P3, estava fora da prova. Além disso, a melhor Ferrari, a #27, abandonou com superaquecimento, quando estava em quarto. A única Ferrari de elite que estava ainda ativa era a de Bandini e Guichet, mas essa sem chances de vitória, estava bem atrás, após a rodada e alguns problemas mecânicos. Os carros da Ford dominavam as seis primeiras posições, com Miles e Gurney disputando a liderança.

Ken Miles durante a corrida
Ken Miles durante a corrida
Foto: Wikimedia Commons

Vários Ford foram abandonando durante a noite e ao amanhecer. A Ferrari #21 também. Miles e Gurney continuavam a disputa pela vitória, contra ordens de Leo Beebe, o diretor do programa da Ford. Tinha apenas quatro carros da marca naquele momento na pista. A disputa entre Miles/Hulme e Gurney/Grant acabou às 9 horas da manhã, quando o #3 Ford liderava a prova e simplesmente explodiu. Assim parecia que a vitória de Miles seria tranquila, e ele se tornaria o primeiro piloto a conquistar a tríplice coroa do automobilismo, já que tinha vencido Daytona e Sebring. Mas não foi.

Leo Beebe, querendo impressionar a todos ordenou que o Ford #1 e #2 cruzaram juntos a linha de chegada, o carro #2 tinha Bruce McLaren e Chris Amon. 12 voltas atrás vinha o último Ford, o #5 da Holman e Moody. A ACO, organizadora da prova, avisou a Beebe que não poderia ter empate: se os dois cruzarem juntos, o #2 venceria por ter largado atrás. Mesmo assim o plano foi mantido e, na chegada, McLaren cruzou a linha um pouco antes de Miles, tirando a chance do empate.

A chegada da prova, com McLaren a frente
A chegada da prova, com McLaren a frente
Foto: FIA WEC / Twitter

Até hoje não se sabe porque a McLaren cruzou um pouco antes, Miles ficou chateado com a ordem e tirou o pé? Segundo pessoas próximas não, talvez foi Bruce que acelerou um pouco antes. A verdade é que ninguém sabe muito bem o que aconteceu. Existem várias versões.

Inclusive sobre a motivação do Beebe. Por fim, uma grande injustiça para Miles. Mas após Le Mans, seu trabalho se voltou ao desenvolvimento da versão do carro do ano seguinte: o J-Type. Naquele ano de 1966, o foco da Shelby já estava no desenvolvimento do novo carro, Miles também tinha um projeto paralelo, correndo com o Porsche 906 no USRRC. Chegou a vencer uma prova por classe. Mas focando no novo projeto da Ford, que estava em andamento.

McLaren, Henry Ford II e Amon no pódio da vitória
McLaren, Henry Ford II e Amon no pódio da vitória
Foto: Ford Performance / Twitter

Nos testes, duas semanas antes de Le Mans, o J-Type era um carro mais refinado aerodinamicamente assim com as Ferrari 330 P3, tinha um chassi inteiramente de alumínio entre outras inovações, os testes estavam a todo o vapor, com Miles muito motivado com o projeto. Em 17 de Agosto de 1966, Ken Miles estava testando o carro no Circuito de Riverside, Califórnia, quando simplesmente capotou em uma subida, Miles foi jogado para fora e não resistiu, até ali existiam muitas teorias sobre o acidente.

Após a morte de Miles, a Ford chamou o australiano Frank Gardner. Frank conhecia o projeto e correu inclusive em Le Mans 1966 com o GT40 e prosseguiu com o desenvolvimento, além de investigar a causa do acidente fatal. O J-Type já possuía computadores para ajudar em seu desenvolvimento, onde os pilotos normalmente sabiam mais que eles. Mas ele armazena alguns dados, e foi ali que Frank focou.

Desenho do Ford J Type
Desenho do Ford J Type
Foto: Ford / Divulgação

Frank estava certo: a transmissão travou no mesmo ponto do acidente de Miles, mas como ele já esperava esse comportamento, conseguiu controlar o carro. Em paralelo, a Shelby já trabalhava em melhoria no carro, houve uma revisão completa. Após a revisão, o carro foi rebatizado de MK IV, foi o vencedor das 24 Horas de Le Mans de 1967, com Dan Gurney e AJ Foyt. O legado de Miles é eterno: ele está no hall da fama do automobilismo e ainda ganhou um filme (Ford vs. Ferrari) feito em torno do seu personagem.

Parabólica
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade