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MP revela ligação de Rio Motorpark com 'QG da Propina'

Licitação para a construção do autódromo em Deodoro está diretamente ligada ao esquema de corrupção que envolve a prefeitura do Rio

15 set 2020 - 14h07
(atualizado às 19h46)
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A estranha licitação para a construção do autódromo em Deodoro, no Rio de Janeiro, está diretamente ligada ao esquema de corrupção que envolve a prefeitura do Rio de Janeiro. O jornal O Dia revelou que Rafael Alves, apontado pelo Ministério Público como chefe do 'QG da Propina' da prefeitura carioca, foi o responsável por apresentar José Antonio Soares Pereira Jr, ou JR Pereira, dono da Rio Motorpark, às autoridades do município.

Foto: Grande Prêmio

A Rio Motorpark, outrora Rio Motorsports, é a mesma que sonha em levar para frente a construção do autódromo do Rio de Janeiro - sem indicar a origem dos mais de R$ 700 milhões inicialmente previstos para a obra - na região da floresta do Camboatá, área de Mata Atlântica.

Rafael é irmão de Marcelo Alves, presidente da Riotur. Ambos estão sendo investigados em uma operação que apura suspeitas de irregularidades envolvendo empresas contratadas pela Prefeitura do Rio. As informações são fruto de uma busca solicitada pelo MPRJ na casa do empresário — que rendeu também a apreensão de celular e pendrive do prefeito Marcelo Crivella na última semana.

A investigação do MPRJ traz trechos de conversas via aplicativo de celular em que Marcello Faulhaber, marqueteiro responsável pela campanha de Crivella em 2016, pede para Rafael Alves receber o empresário que sonha em construir o autódromo na região de Deodoro. A conversa se deu em 24 de janeiro de 2018.

JR Pereira é o principal dos responsável pelo projeto em Deodoro
JR Pereira é o principal dos responsável pelo projeto em Deodoro
Foto: Divulgação / Grande Prêmio

"Combinei de ir com o investidor do autódromo aí 16h30. Que horas posso levar o pessoal do autódromo para conversar com você e Marcelo [Crivella] amanhã à tarde?", questiona Faulhaber, nas mensagens obtidas pelo MP.

A conversa segue no dia seguinte, dia 25 de janeiro, com o marqueteiro realizando novos pedidos. "O JR do autódromo vai te chamar. Faz uma força para recebê-lo. É meio urgente", diz Faulhaber. Alves responde de maneira curta: "Já marquei com ele".

A licitação do autódromo do Rio de Janeiro é alvo de embate judicial. A Rio Motorpark foi criada dias antes da escolha, em 2019, com baixo capital social — de apenas R$ 100 mil. JR Pereira, homem que planeja a construção do circuito em Deodoro, também é sócio da consultoria que colaborou com o edital.

Mesmo com a pandemia do novo coronavírus, a prefeitura carioca continuou atuando na região, inclusive pedindo o licenciamento das obras e até mesmo asfaltando acessos para o possível autódromo.

Neste ano, no entanto, Ministério Público estadual e federal declararam que a obra é ilegal devido ao estudo de impacto ambiental do circuito na floresta do Camboatá, área de Mata Atlântica restante dentro da cidade do Rio de Janeiro e que possui espécies de fauna e flora em extinção. O prefeiro Crivella alega, porém, que a obra é da iniciativa privada e vai gerar empregos no município.

Em contato com o Terra, a prefeitura do Rio afirma que "o processo seguiu todos os trâmites sem nenhum pedido político ou arranjo que beneficiasse alguém".

Alvo de protestos e confusões jurídicas

Em agosto de 2020, depois várias manobras jurídicas, a prefeitura do Rioa obteve a liberação para a audiência pública sobre o projeto do autódromo de Deodoro, por meio da suspensão de uma liminar que impedia a realização da reunião paós o TJ-RJ listar irregularidades no processo.

O novo autódromo é orçado em cerca de R$ 800 milhões — e visto pela prefeitura carioca, o governo do estado fluminense e pela gestão do presidente Jair Bolsonaro como trunfo para ganhar a concorrência com São Paulo e levar novamente o GP do Brasil de Fórmula 1 ao Rio.

A área ambiental, porém, é considerada o último lugar de Mata Atlântica de áreas planas no município do Rio de Janeiro e abriga mais de 200 mil árvores, em área equivalente a 120 campos de futebol.

GP do Brasil segue com futuro indefinido

Em 2020, por conta da pandemia de Covid-19, a Fórmula 1 não vai passar pelo Brasil. Com contrato se encerrando no fim deste ano, e ainda sem renovação definida, Interlagos não sediou uma prova do Mundial pela primeira vez desde 1990.

A área em Deodoro abrange a Floresta do Camboatá (Foto: Divulgação)

Com a disputa entre São Paulo e Rio de Janeiro para receber uma etapa da F1, o Liberty Media não decidiu qual circuito brasileiro será palco de uma corrida. Em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO, Tamas Rohonyi, promotor do GP do Brasil em São Paulo e responsável pelo principal evento de esporte a motor no país desde 1980, disse que as negociações da companhia com a capital paulista "estão andando" e que "a tendência seria renovar".

Tamas, no entanto, acredita que o Liberty Media foi iludido pela possibilidade da Fórmula 1 correr em um novo circuito no Rio de Janeiro no futuro, sendo que as obras ainda nem começaram.

"Poderia até sair [a renovação], mas aí entraria em um outro campo de discussão, que é o plano da FOM (Formula One Management) com relação ao GP do Brasil. Vocês acompanham muito bem a situação. Ainda tem gente em Londres, na sede da FOM, que acredita que no ano que vem vão correr no Rio de Janeiro. Tem de ser muito ingênuo para pensar isso…", cravou.

A Rio Motorpark é a mesma esteve envolvida dias atrás no calote dos direitos de transmissão da MotoGP no Brasil - JR Pereira havia negociado a exibição do campeonato com o FOX Sports. O GRANDE PRÊMIO revelou que a empresa deixou de honrar os compromissos financeiros com a Dorna (promotora do Mundial de Motovelocidade) que, por sua vez, suspendeu a cessão dos direitos de transmissão na TV brasileira. A Disney, dona do canal esportivo, precisou negociar um novo acordo diretamente com a Dorna.

A partir do fracasso do acordo com o consórcio Rio Motorpark, a Disney passou a negociar diretamente com a Dorna. A ESPN Brasil — o outro canal esportivo do grupo Disney — precisou acionar a coirmã da Argentina para tomar a frente das negociações pelo bom relacionamento com a Dorna. O negócio só acabou resolvido às vésperas do GP de San Marino e da Riviera di Rimini.

Ainda, a Rio Motorpark tem propagado a alguns veículos de comunicação que negocia com o Liberty Media os direitos de transmissão da Fórmula 1 para o Brasil depois que a Globo anunciou que não vai renovar o acordo atual. A companhia dona da categoria já está ciente do calote que o grupo de JR Pereira deu em Dorna/MotoGP.

 
Grande Prêmio
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