Fórmula 1: 7 momentos históricos do GP de Portugal
Do fair play de Moss ao recorde de Hamilton, o GP de Portugal foi palco de momentos históricos da Fórmula 1
O GP de Portugal retorna ao calendário da Fórmula 1 em 2027. Embora tenha estado presente em apenas 18 das 76 temporadas disputadas até hoje, a etapa portuguesa foi palco de momentos marcantes na história da categoria. Selecionamos sete desses episódios que ajudaram a construir a tradição do Grande Prêmio em terras lusitanas:
1958 - A honestidade de Moss que lhe custaria o título
O britânico Stirling Moss ficou marcado na F1 por ser quatro vezes vice-campeão e jamais conquistar o título. Sua melhor chance foi em 1958, quando estava na Cooper e perdeu o campeonato para Mike Hawthorn (Ferrari) por um ponto, mesmo tendo vencido quatro corridas contra apenas uma de Mike.
O GP de Portugal, na cidade do Porto, marcou um episódio importante para a decisão do título. Moss venceu a prova, com Mike Hawthorn chegando em segundo lugar. Mas as coisas se complicaram para o lado de Mike por conta de um incidente nas voltas finais: o piloto rodou e, para voltar à pista, teria feito uma manobra que inicialmente o colocou na contramão, o que era estritamente proibido na época. Os comissários então desclassificaram o piloto da Ferrari.
Para Moss, o cenário era ideal: com a desclassificação, assumiria a liderança do campeonato, faltando apenas duas etapas. Porém, em um gesto de fair play, testemunhou a favor do rival, argumentando que ele não havia colocado ninguém em risco. Graças a essa atitude, Hawthorn foi absolvido e, ao final daquela temporada, acabou conquistando o título.
1984 - Lauda vence o campeonato por meio ponto
A temporada de 1984 ficou marcada pela menor diferença entre campeão e vice da história da categoria. Apenas 0,5 ponto separou os pilotos da McLaren, Niki Lauda e Alain Prost. Isso porque o GP de Mônaco daquela temporada foi interrompido após 31 voltas de 77. O regulamento da época previa que, se a corrida não atingisse 75% da distância, os pontos valeriam pela metade.
Nesse cenário, a F1 chegou a Estoril, última etapa daquela temporada, que marcava a volta do GP de Portugal depois de 24 anos de ausência. Niki Lauda tinha 66 pontos, Prost 62,5. Para conquistar o campeonato, Prost precisava vencer e torcer para que Lauda não chegasse em segundo. Mas foi exatamente esse o resultado: o austríaco terminou em segundo lugar e venceu o campeonato com 72 pontos, contra 71,5 do francês. Foi seu terceiro e último título mundial.
1985 - Primeira vitória de Ayrton Senna
O GP de Portugal foi a segunda etapa da temporada. Ayrton Senna disputava seu segundo ano na categoria, o primeiro pela Lotus. A chuva não deu trégua naquele final de semana. O brasileiro logo apresentou seu cartão de visitas na qualificação, conquistando sua primeira pole position com 1min21s007, tempo 0s413 à frente de Alain Prost, segundo colocado.
Na corrida, Senna mostrou por que é considerado um dos maiores pilotos em condições de chuva. Venceu de ponta a ponta, registrou a volta mais rápida e quase deu uma volta em todos os adversários. Apenas Michele Alboreto, segundo colocado, escapou de ser ultrapassado, já que o brasileiro tirou o pé no final. Foi também o primeiro Grand Chelem da carreira de Senna.
1987 - Prost se torna o maior vencedor da categoria
Alain Prost era o atual bicampeão da categoria, um feito e tanto para a época, já que desde 1961 não havia um bicampeão consecutivo. Porém, o cenário naquela temporada era diferente para o piloto da McLaren, que não dispunha de um carro competitivo para disputar o título. O francês, então, passou a perseguir outras marcas, a mais importante delas era o recorde de vitórias.
Ele havia igualado a marca de Jackie Stewart, então recordista, ao vencer sua 27ª corrida no GP da Bélgica daquela temporada. Já tinham se passado nove provas desde então sem que o francês conseguisse quebrar a marca. Até que, naquele domingo em Estoril, a sorte sorriu para Prost: Gerhard Berger (Ferrari), que liderava quase toda a corrida, rodou na volta 68. Prost, que vinha em segundo, aproveitou a oportunidade, assumiu a ponta e conquistou a tão sonhada 28ª vitória.
Esse recorde seria ampliado pelo próprio Prost até chegar a 51 vitórias, e só seria superado em 2001, quando Michael Schumacher alcançou sua 52ª vitória no GP da Bélgica.
1989 - Mansell desclassificado tira Senna da prova
A F1 em 1989 vivia um momento de forte rivalidade entre os pilotos da McLaren, Ayrton Senna e Alain Prost, que disputavam o título. Era bastante difícil que alguma outra equipe conseguisse disputar a vitória com a equipe britânica. A maior concorrente nesse sentido era a Ferrari. Até o GP de Portugal, Nigel Mansell havia sido o único piloto a conquistar mais de uma vitórias além da McLaren, ao vencer no GP do Brasil e na Hungria.
Em Estoril, a Ferrari mostrou competitividade, fazendo 2º e 3º na qualificação. O ritmo de corrida parecia melhor que o da McLaren. Na volta 8, Berger já havia colocado a Ferrari na frente, com Mansell em segundo. Ayrton Senna era apenas o terceiro colocado e Prost o quarto. Na volta 24, Mansell ultrapassou Berger e parecia tudo certo para uma dobradinha tranquila da equipe de Maranello.
A huge moment in the 1989 title race as Nigel Mansell and Ayrton Senna collide in Portugal 💥
Leaving Senna's championship challenge hanging by a thread 😬#PortugueseGP 🇵🇹 #F1 pic.twitter.com/UfdfMzxj2Q
— Formula 1 (@F1) October 22, 2020
Mas com a Ferrari as coisas raramente são tranquilas, ainda mais quando Nigel Mansell cometeu uma de suas maiores trapalhadas: ao parar na volta 39, o britânico passou do ponto e voltou de ré ao pit da equipe italiana. Dar ré era, e ainda é, proibido dentro dos boxes. O resultado foi a desclassificação, anunciada algumas voltas depois com a bandeira preta.
Mansell alegou que não viu a bandeira preta e, pior, estava em perseguição a Ayrton Senna pelo segundo lugar, após o brasileiro ter conseguido realizar um undercut sobre ele. Na afobação, o britânico acabou tirando Senna da prova na volta 49. Os seis pontos perdidos pelo brasileiro poderiam ter mudado o destino daquele campeonato, que terminou com Prost campeão após o polêmico incidente entre os dois no GP do Japão e a posterior desclassificação de Senna.
1993 - Prost é tetracampeão do mundo
O Grande Prêmio de Portugal de 1993 consagrou Alain Prost como tetracampeão mundial de Fórmula 1. O francês, que havia retornado à categoria após um ano sabático, encontrou na Williams o carro mais dominante da temporada. Com Damon Hill como companheiro, Prost tinha caminho livre para perseguir seu quarto título.
Em Estoril, antepenúltima etapa do campeonato, Prost chegou com 23 pontos de vantagem sobre Hill e precisava apenas manter a diferença acima de 20 para garantir a taça. A corrida começou tumultuada: Jean Alesi assumiu a liderança, Senna e Hakkinen superaram Prost, e Hill largou dos boxes após problemas na volta de apresentação. Após as paradas de box, Michael Schumacher assumiu a ponta, com Prost em segundo e Hill em terceiro.
Sem conseguir superar o alemão, Prost cruzou a linha de chegada em segundo lugar, resultado suficiente para confirmar o título mundial. Aos 38 anos, o francês encerrou sua carreira ao fim daquela temporada, deixando a Fórmula 1 com quatro títulos e o status de um dos maiores pilotos da história.
2020 - Lewis Hamilton se torna o recordista de vitórias
Se Prost havia batido o recorde de vitórias em 1987, 33 anos depois Lewis Hamilton repetiu o feito em terras portuguesas. Como mencionado anteriormente, Schumacher conquistou o recorde de piloto mais vitorioso da categoria em 2001 e ampliou essa marca para 91 triunfos, um número inimaginável para os padrões da época.
Hamilton chegou à temporada de 2020 com um carro dominante da Mercedes e, além de buscar mais um título mundial, tinha como objetivo superar o recorde de Michael Schumacher. No GP de Portugal, 12ª etapa do campeonato, isso aconteceu. Com uma performance sólida, o britânico venceu sem maiores dificuldades e se tornou o novo recordista de vitórias da Fórmula 1. Desde então, Hamilton manteve o recorde e ampliou sua marca para 105 conquistas.