Xi Jinping diz que não há vencedores em guerra tarifária, após acordo com Trump
Presidente da China defende que hegemonismo só leva ao autoisolamento, após conseguir com Estados Unidos redução temporária de taxas comerciais
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM - O presidente da China, Xi Jinping, afirmou nesta terça-feira, dia 13, que "não há vencedores em guerras tarifárias ou comerciais", durante sua primeira declaração pública após o acordo negociado ao longo do fim de semana com os Estados Unidos.
Xi pediu aos países da América Latina e do Caribe para promoverem a estabilidade e a paz. Ele discursou na abertura do Fórum ministerial China-Celac, que reúne em Pequim autoridades da América Latina e do Caribe, entre elas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em disputa de influência com Trump, ele anunciou ações voltadas para a região, como uma linha de financiamento de US$ 9,1 bilhões, cerca de 66 bilhões de yuans chineses, além da isenção de vistos para 5 países e milhares de bolsas de estudos.
O presidente chinês não fez menções ao homólogo Donald Trump ou aos Estados Unidos, mas usou seu discurso para mandar um recado implícito. O chinês também disse que "intimidação e hegemonismo só levam ao autoisolamento".
Enviados comerciais da China e dos Estados Unidos chegaram a um acordo na Suíça sobre a guerra comercial disparada por Trump, por meio do tarifaço. Os países concordaram em reduzir o patamar das taxas recíprocas por 90 dias.
Os produtos chineses passaram de 145% para 30%. Os americanos, de 125% para 10%. Delegações dos dois países negociaram durante o fim de semana, na Suíça.
Integrantes do Palácio do Planalto ouvidos pelo Estadão interpretam o acerto é positivo, pois demonstra que se foi possível os EUA se entenderem com o maior alvo das tarifas é sinal de que o mesmo pode ocorrer com os demais. A China havia sido o país mais taxado, enquanto o Brasil recebeu 10%, o menor patamar. No entanto, conselheiros do presidente Lula ressaltam que o acordo pode ser revertido a qualquer momento e ressaltam a volatilidade de Trump.
Iniciativas na América Latina
Xi Jinping afirmou que o século passa por transformações aceleradas com riscos múltiplos, que tornam indispensáveis união e cooperação entre nações para resguardar a estabilidade.
O líder chinês afirmou que a China e a América Latina são líderes importantes do Sul Global que preservam autonomia e independência e se opõem Ele disse que, diante de uma "maré de unilateralismo e protecionismo" e das "correntes turbulentas de confronto geopolítico entre blocos", a China está pronta a se unir aos países latino-americanos e vai lançar cinco programas de cooperação.
Ele prometeu aumentar a importação de produtos de qualidade dos países latinos e disse que vai incentivar investimentos de empresas chinesas nesses países. Também prometeu convidar a cada ano 300 políticos para visitar partidárias à China, até 2028.
Xi prometeu defender o sistema de comércio multilateral e garantir cadeias industriais e de suprimentos globais estáveis. "Devemos promover uma maior sinergia entre nossas estratégias de desenvolvimento, expandir a cooperação de alta qualidade na Iniciativa Cinturão e Rota, e fortalecer a cooperação em áreas tradicionais como infraestrutura, agricultura e alimentos, e energia e minerais. Deveríamos expandir a cooperação em áreas emergentes como energia limpa, telecomunicações 5G, economia digital e inteligência artificial, e realizar a parceria China-ALC em ciência e tecnologia", propôs o chinês.
Crédito e isenção de vistos
Ele ainda anunciou uma linha de crédito de US$ 9,1 bilhões na região e previsão de oferecer 3,5 mil bolsas de estudo governamentais, 10 mil vagas de treinamento e 500 bolsas de estudo para professores de mandarim, entre outras.
No momento em que Trump deporta em massa imigrantes latino-americanos, Xi afirmou que a China vai deixar de exigir vistos de cinco países da região, em iniciativa que pode ser expandida. O chinês não citou quais serão as nacionalidades contempladas.
O líder chinês também lembrou a parceria para satélites com o Brasil, a oposição ao embargo dos EUA à Cuba e manifestações nos anos 1960, na China, em apoio à demanda por soberania de panamenhos sobre o Canal do Panamá.
Xi agradeceu o apoio majoritário dos países da Celac ao princípio de uma só China, base para reivindicação sobre a ilha de Taiwan. E lembrou que mais de 110 países apoiaram a iniciativa de negociação de paz entre Rússia e Ucrânia, proposta por Brasil e China. Somente 13, no entanto, assinaram uma declaração no ano passado.
