'Hoje, meu marido trabalha presencial': a história do bordão que fez renda de casal crescer 900% por mês
Luiz Felipe Alves criou uma rede de seguidores interessados em ver as marmitas que ele prepara para o marido levar para o trabalho
Luiz Felipe Alves transformou o hábito de preparar marmitas para o marido em sucesso nas redes sociais, aumentando a renda do casal em 900% por meio de vídeos que destacam sua rotina, culinária e identidade, enfrentando adversidades como homofobia e ataques pessoais.
Nos dias em que o marido trabalha presencial, Luiz Felipe Alves acorda às 6h, ocupa várias bocas do fogão e se vira nos 30 para deixar pronto os seis a sete potes de comida que compõem a marmita do esposo. O processo leva cerca de 1h30. Faltando uns 10 minutos para o marido sair, Luiz Felipe corre para gravar o vídeo do resultado de sua empreitada na cozinha. A rotina já rendeu ao casal um incremento de cerca de 900% na renda familiar.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Cada vídeo e/ou publicidade publicados nas redes sociais rendem a partir de R$ 20 mil. Mas, apesar de soar genial como plano de conteúdo, as marmitas para o marido não nasceram para ser um negócio. Luiz Felipe já tinha o hábito de fazê-las – por pura e simples dedicação a quem se ama. A ideia de transformar as refeições para o esposo em vídeo veio como uma solução para reforçar sua identidade e sexualidade nas redes sociais.
“Eu sou maquiador, então, inicialmente, eu fazia conteúdo de maquiagem. Depois de um tempo, eu comecei a fazer vídeos de receitas. Mas eu vivia ali numa dualidade na internet, porque eu postava uma receita, ela viralizava, eu ganhava uma quantidade de seguidores. No dia seguinte, eu postava uma foto com o Diógenes, meu marido, eu perdia quase todos os seguidores”, conta.
Daí, Luiz Felipe teve a ideia de inserir logo de cara sua sexualidade nos vídeos, para não ter que lidar com homofobia velada. "Eu já começava o vídeo falando, ‘Hoje, o meu marido quer comer isso’. E daí eu tive uma pequena virada de chave ali no meu Instagram, onde começaram a vir algumas pessoas que gostavam do conteúdo de receita e também não se importavam com o fato de eu ser uma pessoa LGBT", diz.
Depois é que veio a ideia de fazer conteúdo com as lancheiras e a clássica frase de abertura: “Hoje, meu marido trabalha presencial, bora montar a lancheira dele comigo?”. Virou febre – ou melhor, virou meme. Não foram poucos os vídeos parodiando a frase de Luiz Felipe, mas com opções bem menos elaboradas que as deliciosas refeições preparadas pelo influenciador.
O sucesso era visto nos números: no TikTok, o influenciador conta ter saltado de 9 mil seguidores para 100 mil, de um dia para o outro. No Instagram, ele já tinha um público maior, de cerca de 100 mil seguidores, que passou para 150 mil com a estreia do formato dos vídeos da lancheira. Hoje, são 1,1 milhão de seguidores na primeira rede e 1 milhão na segunda.
Antes da lancheira, Luiz Felipe já trabalhava como influenciador, fechando algumas publicidades esporádicas, mas a sua renda principal vinha do trabalho como maquiador. Depois do segundo mês fazendo os vídeos das marmitas, ele deu adeus aos clientes da maquiagem para se dedicar exclusivamente à carreira de criador de conteúdo.
Da homofobia aos haters
Qualquer pessoa que se aventura na internet pode ter que lidar com comentários maldosos. Mas para uma pessoa abertamente gay, que começa a fazer sucesso da noite para o dia, o nível desses comentários pode ser ainda pior. Luiz Felipe já viu pessoas desejarem sua morte ou dizerem que resolveriam o “problema” dele e do marido com dois tiros. No início, o próprio influenciador ia atrás desses perfis para confrontá-los, mas nunca chegou a judicializar a questão.
Mas, além da homofobia, Luiz Felipe conta também lidar com ataques de ódio de pessoas da própria comunidade LGBT, mais especificamente homens gays, que o acusavam de ser uma “esposa troféu”. “Achavam que eu passava o dia inteiro cozinhando enquanto meu marido ia trabalhar”, diz.
Esse pensamento teria gerado curiosidade nos internautas sobre a profissão de Diógenes, marido de Luiz Felipe. “Eu acho que as pessoas ficavam: ‘Poxa, mas se ele leva uma comida dessa qualidade e o marido não trabalha, com o que esse homem trabalha?’”, acredita o influenciador. Desse ponto de partida, encontraram o perfil de Diógenes no Linkedin e uma admiradora dos vídeos esbarrou com ele no prédio comercial.
“Tinha uma moça lá na frente do trabalho dele, e ela: ‘Aí, meu Deus, eu vim aqui outro dia, descobri que você trabalhava aqui, não te encontrei, que bom que eu te vi’. Ela pediu para tirar uma foto, foi super querida, não foi nada demais. Mas nós começamos a pensar o quanto isso poderia ser perigoso, porque se uma pessoa descobriu, outras poderiam descobrir”, continua Luiz Felipe.
O marido, que vira e mexe aparece nos vídeos de receitas, preferiu se tornar um anônimo no mundo profissional. Mudou de emprego e excluiu o perfil na rede social corporativa.
Enquanto isso, Luiz Felipe passa cada vez mais horas dedicado à cozinha. As lancheiras continuam como parte do conteúdo, acompanhadas por desafios culinários ao lado de outros influenciadores, receitas e muitas parcerias publicitárias.
“Eu diria que eu sou um cozinheiro dono de casa. As receitas que eu mais gosto de trazer para as minhas redes são aquelas que as pessoas geralmente comentam: ‘Nossa, minha mãe fazia isso’ ou ‘Essa receita me lembra minha avó’”, diz ele, que afirma ter aprendido a maioria das receitas pela internet, como necessidade para sobreviver mesmo ao ter que sair de casa por não ter sua sexualidade aceita.
Depois, o aperfeiçoamento veio quando passou a morar com Diógenes, na pandemia. “Eu aprendi a cozinhar para agradar meu marido. Eu queria fazer uma coisa gostosa diferente todos os dias”, conta.