Script = https://s1.trrsf.com/update-1764790511/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Vida de Empreendedor

Capixaba transforma a aposentadoria em uma agência de viagens: 'Meu maior desafio é a família aceitar'

Cresce o número de mulheres que empreendem após os 50, mas no turismo, o território é quase inexplorado, segundo pesquisa.

1 dez 2025 - 04h59
Compartilhar
Exibir comentários
Neuza (braços abertos e conjunto rosa) em uma de suas viagens para Santa Tereza, no interior do Espírito Santo
Neuza (braços abertos e conjunto rosa) em uma de suas viagens para Santa Tereza, no interior do Espírito Santo
Foto: Arquivo Pessoal

Aos 66 anos, Neuza Nunes escuta que deveria estar fazendo crochê ou cuidando da casa. Ela prefere outra rotina: reservar hotéis, fechar ônibus e responder clientes pelo WhatsApp. A reviravolta começou aos 64 anos, quando decidiu abrir uma agência de viagens.

Neuza nunca havia cogitado empreender. Na adolescência, queria ser contadora, mas a infância difícil a levou por outro caminho. Aos 18, começou a trabalhar em uma loja; depois virou funcionária pública, criou o filho, se formou e se aposentou. A mudança veio quando percebeu que não queria passar os dias sem fazer nada. 

Pensei, registrei e fiz acontecer. É assim que a capixaba resume a criação da Liz Viagens e Turismo, batizada em homenagem à neta e concebida como forma de deixar um legado. A iniciativa, porém, enfrenta resistência dentro da própria casa. 

“Hoje meu maior desafio é a família aceitar. Eles acreditam que eu deveria ficar só limpando e cuidando da casa. Ou fazendo crochê e pronto. Não me impedem, mas acreditam que me estresso e canso com isso.”

A decisão coloca Neuza em um movimento crescente: o das mulheres que começam a empreender após os 50 anos. Mas ela está dentro de um setor pouco ocupado por elas. Segundo a pesquisa Mulheres Empreendedoras e seus Negócios 2025, mais de 30% das 1.043 entrevistadas têm entre 50 e mais de 70 anos. 

Apesar disso, apenas 1,5% trabalham em viagens e turismo, participação menor do que em tecnologia e informação (2,4%) e transporte e veículos (1,8%). Em áreas mais tradicionais entre mulheres, como alimentação (19,6%) e beleza e bem-estar (16,7%), a presença é muito maior.

Mas números jamais fizeram parte do cálculo de Neuza. “Eu só abri e falei: ‘Eu vou’.” Oito anos antes, havia se aposentado e levava uma rotina simples, quase sempre da igreja para casa. “Nunca fui uma mulher de sair ou viajar muito.”

A Liz Viagens e Turismo funciona em home office. Neuza já teve ajuda com o Instagram, mas hoje organiza tudo sozinha, com um pouco de ajuda das irmães. As viagens costumam reunir cerca de 35 participantes, embora já tenha levado mais de 70, em sua maioria pessoas 50+. Ela diz que, por ora, não vai ter um espaço físico: quer vender pacotes, viajar e formar caixa antes de pensar em outros passos.

Grupo de viagem
Grupo de viagem
Foto: Arquivo Pessoal

Viagem para Venda Nova do Imigrante em 15 de Setembro

A pressa, porém, é uma marca registrada. Neuza mesmo se descreve como apressada.Foi essa caracteristica que impulsionou a abertura da empresa. Mas também foi ela que levou a erros, como o empréstimo contratado este ano para cobrir viagens. Hoje, considera que uma empresa pequena como a sua “não tinha necessidade” disso, hábito que reconhece ter desde os tempos de funcionária pública, quando a renda era pouca.

Como acontece com outros desafios da vida, ela conta essa história rindo. Isso não significa que não se arrependa. É que o riso sempre a acompanhou, desde criança. “Minha mãe dizia que eu ria de tudo. Mesmo quando era uma coisa ruim, eu ria”.

É também ele que leva nas viagens que organiza: em 2024, foram dez, entre municípios do Espírito Santo e destinos nacionais, como Porto Seguro. Neuza cuida de cada detalhe:  hotéis, transporte, roteiros. Além de sempre contratar guias locais. “Quando eu vou, também vou na intenção de conhecer”. 

No início, no final de 2023, foram justamente esses guias que a ajudaram a enfrentar os primeiros imprevistos, como tempo ruim. E, embora diga que não era experiente, já tinha viajado para Israel e Paraguai, como missionária. Foi nessas viagens em que percebeu que muitos participantes queriam, além da missão religiosa, conhecer outros lugares.

A vida, porém, nunca foi simples. Neuza cresceu lidando com o alcoolismo do pai, que chegava em casa bêbado e queria brigar com todos, inclusive bater na mãe. “Era aquela confusão, seis filhos, sabe?”. O sonho de ser contadora só se realizou aos 54 anos, quando já era funcionária pública.

Hoje, há dias em que pensa que não vai aguentar. “São muitas coisas que envolvem uma agência de turismo”. Ela reconhece que a idade chega, mas acredita que ainda não está nesse momento. Se Deus permitir, acha que vai com a Liz até os 76. “Eu amo viver.” Envelhecer, diz, é apenas consequência.

Esse processo também transformou a forma como vê a própria imagem. “Antigamente eu ia no salão fazer chapinha e quando dava uma chuva eu ficava desesperada. Quando aparecia um fio branco, eu ficava desesperada. Hoje uso meu cabelo branco e natural. Cacheio ele todinho, ele é lindo, maravilhoso. Eu amo meu cabelo, eu me amo aos 66 anos”;

Apressada, destemida e com vontade de viajar o mundo. Essas são características que Neuza conta sobre si. Mas, quando criou sua empresa, só não queria ficar em casa, sem fazer nada. Foi assim que decidiu abrir uma agência e levar outras pessoas para viajar também.

Fonte: Portal Terra
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade