Variação cambial impacta inflação após seis meses, avalia Fazenda
O repasse de variações cambiais para a inflação tem ocorrido no país de maneira mais significativa após um período de dois trimestres, prazo mais longo que o de um trimestre observado em ciclos econômicos anteriores, avaliou a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda em estudo publicado nesta sexta-feira.
Segundo a pasta, ao analisar o período mais curto, de um trimestre após a variação cambial, não é observado impacto significativo sobre a variação de preços livres.
Os cálculos da SPE mostram ainda que elevações de cerca de 1% no câmbio geram aumento de 0,03 ponto percentual na inflação de preços livres após um semestre.
"A maior resiliência da inflação a variações cambiais é compatível com um setor real que, nos últimos dez anos, contou com maiores estoques ou com melhor acesso à proteção cambial, seja pelo aumento nas receitas em dólar, seja pelo maior acesso a mecanismos de hedge financeiro", disse em nota.
Para a SPE, o aumento da competição internacional na produção de bens e o maior acesso a produtos de mercados distintos também podem explicar essa mudança na dinâmica do repasse do câmbio à inflação.
O ministério incorporou essas estimativas ao projetar uma inflação de 4,25% neste ano, com a desvalorização do real contribuindo para uma alta de 0,16 ponto percentual no índice de preços do ano.
A pasta afirmou que de 2023 a março de 2024 houve dinâmica favorável da cotação do real, mas a moeda brasileira passou a reagir fortemente a partir de abril ao cenário externo, com alterações nas projeções para o nível de juros nos Estados Unidos.
No ambiente doméstico, a SPE vê impacto de "mudanças nas perspectivas para as políticas fiscal e monetária devido a ruídos de comunicação", citando a flexibilização de metas para as contas públicas e divergências entre diretores do Banco Central em maio.
"Esse quadro de depreciação do real apenas passou a se reverter quando incertezas relacionadas ao rumo da política monetária norte-americana diminuíram", disse a SPE, citando também uma melhora nas perspectivas de mercado após o anúncio de contenção de verba pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.
O secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, disse que o câmbio está se comportando muito bem recentemente no Brasil após a redução de incertezas nos cenários externo e doméstico.
"Várias das incertezas que geraram comportamento um pouco pior da taxa de câmbio foram sendo debeladas e agora vemos exatamente o contrário, uma valorização cambial no Brasil", disse.
Após ficar em patamar próximo de 5 reais do fim de 2023 até o início de abril deste ano, o dólar passou a se valorizar, chegando a superar a marca de 5,70 reais em agosto. Desde então, houve parcial recuperação da moeda brasileira, que operava na tarde desta sexta-feira a 5,56 reais.