Técnicos da Anvisa consideram que herbicida glifosato não é cancerígeno
Técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) chegaram à conclusão de que o herbicida glifosato não causa câncer, embora tenham recomendado uma série de precauções no seu uso, em meio à crescente pressão internacional para reduzir a utilização do produto químico.
Empresas como Bayer AG e sua unidade Monsanto, que produzem pesticidas à base de glifosato, enfrentam disputas legais relacionadas a alegações de que o químico poderia causar câncer. Um novo estudo publicado neste mês também liga a alta exposição ao câncer.
"Não há evidências científicas de que o glifosato cause danos à saúde além dos demonstrados em testes de laboratórios com animais", declarou Alessandra Soares, diretora da Anvisa e relatora do caso.
Os resultados, se aprovados, permitiriam a continuidade das vendas do glifosato, o herbicida mais vendido no país, ainda que com algumas restrições.
A equipe de análise de riscos da Anvisa apresentou nesta terça-feira as conclusões aos diretores da agência, que votaram por colocá-los em uma consulta pública de 90 dias antes de uma decisão final.
A Bayer vende o herbicida sob a marca Roundup, da antiga Monsanto, comprada pela companhia no ano passado, que historicamente tem sido a maior vendedora de produtos à base de glifosato no Brasil. A empresa não revela sua participação no mercado. A Bayer tem enfrentado processos em todo o mundo devido a alegações de que o glifosato causaria câncer.
A Monsanto foi condenada a pagar 78 milhões de dólares em reparações depois que um júri na Califórnia no ano passado chegou à conclusão de que seus produtos causaram câncer em um homem e a empresa não conseguiu alertar os clientes sobre os perigos de seu uso.
Um julgamento similar deve começar nesta semana, também na Califórnia.
As empresas disseram que décadas de uso e centenas de estudos apontaram que o glifosato não é cancerígeno.
A França e a Alemanha estão tentando reduzir o uso do produto químico. Em um estudo publicado no início deste mês na revista Mutation Research, acadêmicos norte-americanos associaram a alta exposição a produtos à base de glifosato ao linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer no sangue. Apesar de a agência ter definido o herbicida como não-cancerígeno, os analistas da Anvisa dizem que os riscos para a saúde permanecem para aqueles expostos à substância quando ela está sendo aplicada às plantações e sugeriram novos limites à exposição.
A Anvisa propôs uma ingestão máxima diária em limites de 0,5 miligramas por kg de massa corporal para a população geral e 0,1 miligramas para trabalhadores rurais que utilizam o químico. Anteriormente havia apenas limites de exposição crônica, sem limites diários. A agência também recomenda o banimento de produtos vendidos com concentrações acima de 1 por cento do ingrediente ativo glifosato e a adoção de praticas de aplicação mais seguras para limitar a exposição.