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Skaf volta à Fiesp em momento de inflexão da indústria, com ascensão da IA e mudanças geopolíticas

Entidade realizará eleição nesta segunda-feira, 4, e ex-presidente concorre em chapa única; será seu quinto mandato no comando da federação

3 ago 2025 - 13h07
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Paulo Skaf é - quase - o novo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Será seu quinto mandato. Prevista para acontecer nesta segunda-feira, 4, a eleição tem uma única chapa. À frente do grupo, Skaf conta com o apoio de quase todos os sindicatos industriais que votarão na eleição sem disputa e dos quais manteve proximidade mesmo durante a gestão do atual presidente, Josué Gomes da Silva.

Skaf esteve à frente da entidade patronal do Estado com maior peso na indústria do País entre 2004 e 2021. Se completar o novo mandato (entre 2026 e 2029), que se inicia em janeiro, terá ficado 21 anos à frente da Fiesp. Procurado, Skaf disse que, por respeito ao processo eleitoral, não concederia entrevistas até ser efetivamente alçado ao cargo.

Paulo Skaf deverá ser eleito para um novo mandato na Fiesp
Paulo Skaf deverá ser eleito para um novo mandato na Fiesp
Foto: Gabriela Bilo/Estadão / Estadão

Se das outras vezes em que assumiu o comando da Fiesp o cenário já era desafiador, com a indústria de transformação perdendo participação no PIB e a manufatura paulista puxando essa queda, desta vez o setor atravessa um momento de inflexão. Segundo especialistas, a indústria global vive um período de intensas transformações, em frentes que vão da adoção da inteligência artificial - que chega até ao chão de fábrica e permite um salto inédito na produtividade - às mudanças geopolíticas globais.

E, no caso brasileiro, esse cenário já complexo ainda ganhou uma complicação extra recentemente com a guerra tarifária promovida pelo presidente americano Donald Trump, que anunciou tarifas de até 50% para produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos, atingindo parte da indústria paulista e brasileira.

Para os analistas, essa é a hora em que cabe à Fiesp - e também às outras federações e entidades ligadas à indústria, além do próprio governo - agir de maneira diferente. Em vez de se unirem no modelo que chamam de "old school", e que segundo eles é muito focado em pedidos de subsídios ou em temas que acabam significando mais protecionismo, seria o momento de dar escala à pauta de inovação e dos ganhos de produtividade, que segue estagnada. Um avanço nessas áreas seria fundamental para uma maior inserção da indústria nas cadeias globais.

"Parte da culpa do fracasso da indústria, é da própria indústria", diz o economista Marcos Lisboa. "Suas lideranças não defendem inovação ou a disputa em alto nível nos mercados globais, mas se limitam a pedir subsídios, proteção e intervenção estatal."

Para Lisboa, o setor privado "deu o azar de ter um Estado muito sensível às suas demandas e que atende a interesses oportunistas, o que leva ao fracasso da própria indústria". "Nenhuma indústria se torna de categoria mundial com mesadas do Estado", diz. "Com honrosas exceções, grande parte do setor é dominada pela prática do patrimonialismo brasileiro e suas lideranças defendem velhos hábitos."

Glauco Arbix, professor do departamento de Sociologia da USP e pesquisador do Centro de Inteligência Artificial (USP/Fapesp/IBM), diz que, do mesmo modo que o Brasil está preso na armadilha da renda média, a indústria nacional está presa à arapuca da baixa e média tecnologia. "A indústria brasileira está atrasada", diz. "Há uma transformação gigantesca na manufatura em andamento, com uma janela de oportunidade que vem se fechando."

Isso porque, diz Arbix, há momentos especiais, no início de ciclos tecnológicos, quando as grandes empresas e as universidades estão experimentando inovações disruptivas e mais voltadas à colaboração. "Não é em qualquer momento que há janelas de oportunidades para se dar um salto, mas isso aconteceu recentemente, quando todos estavam abertos a parcerias em inteligência artificial, computação quântica e biotecnologia", diz. "Neste semestre, o cenário já mudou, com as políticas de Donald Trump e a onda protecionista que se espalhou por todo o mundo."

Para ele, caberia à Fiesp, como associação da indústria do principal Estado e da indústria mais dinâmica do País, "se tornar um posto avançado de inovação para estimular uma renovação do tecido industrial brasileiro". Arbix diz que temas que unem a indústria, como redução de impostos, procuram preservar a estrutura existente, sem "estimular o pelotão da frente a dar um salto e a estimular os que vêm atrás a superar o pelotão da frente".

Para o ex-presidente da Fiesp Horácio Lafer Piva, "a indústria não voltará à participação que já teve no PIB, mas poderá ter ainda extraordinária importância num conceito de ampliação e extensão, com finanças, serviços e logística", diz. "Pode, precisa e deve."

Modelo antigo

Para Lisboa, o próprio sistema sindical como existente hoje acaba sendo um empecilho à renovação das demandas da indústria. Há alguns anos, ele se debruçou, ao lado da também economista Zeina Latif, em um estudo sobre a falta de transparência no Sistema S. Formado por nove instituições voltadas à educação, cultura e lazer do trabalhador, que começam com a letra S (como Senai e Sesi), o Sistema S está sob o guarda-chuva dos sindicatos patronais (como a Fiesp). Todo esse grupo é sustentado por contribuições obrigatórias pagas pela indústria - e há pouca transparência em relação ao uso dessa verba.

Marcos Lisboa é um crítico do funcionamento do chamado Sistema S
Marcos Lisboa é um crítico do funcionamento do chamado Sistema S
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão

"O Sistema S é uma herança do período Vargas, em que um tributo que incide sobre os trabalhadores (já que onera a folha salarial) subsidia representantes das empresas por meio de suas federações e confederação", diz. "É um contrassenso aos tempos modernos, em que quem quer ser representado deveria se associar e doar voluntariamente para a existência do sistema." Com recursos bilionários garantidos, as entidades poderiam se dar ao luxo de nem precisarem trazer resultados concretos aos seus associados. De acordo com dados da Receita Federal, as entidades do Sistema S receberam R$ 29 bilhões apenas em arrecadação, sem contar outras receitas, no ano passado.

Já Arbix diz que, por estarem presos a esse modelo antigo, nem entidades setoriais e nem o governo têm clareza das necessidades e dos rumos a serem tomados. "O Nova Indústria Brasil (NIB), que é uma política industrial articulada e com recursos, ajuda muito mais a indústria a sobreviver do que a se superar, porque é 'old school'", diz. "Não há uma linha mais avançada, por exemplo, em inteligência artificial."

Segundo ele, os empréstimos do BNDES às áreas ligadas à inovação, como combustíveis verdes ou minerais estratégicos, são essenciais. Mas falta coesão e liderança dos caminhos a serem priorizados.

Arbix participou da proposta de criação da Iniciativa de Projetos Tecnológicos de Alto Impacto apresentada ao Conselhão (CDESS), no início de 2023, que tinha o objetivo de colocar a inteligência das melhores entidades e empresas para trabalhar juntas em torno de temas estratégicos, como combustíveis sustentáveis, medicina ligada a DNA, biotecnologia e Amazônia.

Aprovada pelo presidente Lula em 2024, a iniciativa foi regulamentada nas instâncias cabíveis, mas não teve andamento. "Enquanto isso, o tempo vai passando", diz. "Essas iniciativas precisam ter duração determinada e apresentar resultados mensuráveis no médio prazo, com pessoal qualificado e unido em torno de determinados temas escolhidos como estratégicos. O Brasil tem competência para dar esse salto e responder a um mundo em que as tecnologias mais avançadas tenderão a ficar confinadas a seus países de origem."

Estadão
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