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Regulação do BC deve precipitar consolidação de fintechs no Brasil

26 out 2017 - 13h15
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A iminente regulamentação do Banco Central para plataformas de serviços financeiros deve precipitar uma consolidação das fintechs, que se multiplicaram no Brasil nos últimos três anos.

Nas últimas semanas, o setor tem tido intensa movimentação, com as fintechs mais estabelecidas procurando se firmar, acertando aportes mais robustos de investidores ou fazendo parcerias com bancos e varejistas para ganhar escala e visilibidade, como forma se destacar num mercado que já conta mais de 300 dessas startups.

O Nubank, que se notabilizou por meio da plataforma digital de cartões de crédito sem anuidade, anunciou na véspera que passará a operar contas de pagamentos. Na semana passada, o aplicativo de finanças GuiaBolso captou 125 milhões de reais em rodada liderada pelo sueco Vostok, a maior de um fundo de capital de risco para América Latina neste ano. Dias antes, o marketplace Bom Pra Crédito fechou parceria com a CBSS, banco dos sócios Bradesco e Banco do Brasil.

Fontes do setor ouvidas pela Reuters citam pelo menos mais dois acordos de cifras similares aos do GuiaBolso que devem ser anunciados nas próximas semanas.

Segundo o chefe no Brasil da área de inovação da Accenture, Guilherme Horn, grandes investidores globais até agora vinham fazendo aportes mais pontuais em fintechs, enquanto aguardavam sinais do BC, fase vencida quando a autoridade monetária pôs a regulação em audiência pública no fim de agosto. A previsão é que as novas normas, em que o BC criará parâmetros mínimos operacionais, sejam editadas até o final do ano.

"Regulamentações costumam dar uma peneirada no mercado", disse Horn. "Agora, quem ficar abaixo do padrão do BC vai ter que dar um jeito, ou se adapta ou é vendido. Quem está dentro vai crescer, porque vai atrair mais investidores e parceiros."

O movimento sublinha o encurtamento dos ciclos de negócios no setor alta tecnologia em relação a setores mais tradicionais da economia, nos quais os processos de expansão e consolidação podem levar décadas.

Com um modelo de negócios relativamente barato - várias dessas startups foram criadas com um investimento inicial de poucas dezenas de milhares de reais -, usando modelos matemáticos para medir o risco de clientes potenciais e oferecer crédito e produtos financeiros. O apelo da agilidade e de juros e tarifas menores ou inexistentes rapidamente caiu nas graças do público.

O movimento também prosperou diante de uma postura mais amigável do BC, que preferiu monitorar a atividade do setor, em vez de proibir a operação de empresas não reguladas para oferecer serviços financeiros. Por fim, o modelo de parceria, na maior parte das vezes com bancos médios ou com cooperativas, exime essas startups de regras mais rígidas.

Como resultado, num espaço de três anos, o número de fintechs no Brasil foi multiplicado por seis.

MAIS CARO

Mas, de certa forma, sinais de que o mercado não conseguiria comportar tantas fintechs existem há algum tempo. Em parte porque conseguir se diferenciar num mercado que se multiplica tão rápido ficou mais desafiador, isto é, mais caro.

Como o marketing é quase todo feito pela Internet, o preço para aparecer em primeiro em páginas de busca como o Google tem subido sem parar.

Rodrigo Ubaldo, sócio-fundador da Allgoo, especializada em digitalizar instituições financeiras, calcula que o custo unitário de aquisição de clientes na Internet chega a 700 reais.

"Embora ainda seja menor do que o custo por cliente nos canais físicos, é um preço que está ficando alto demais", disse Ubaldo.

No que parece ser um paradoxo, algumas dessas fintechs estão procurando fazer divulgação usando canais físicos, seja abordando pessoas diretamente nas ruas ou comprando espaço na mídia tradicional.

"O canal de divulgação exclusivo pela Internet está se exaurindo", disse Rogério Cardozo, diretor executivo da Enova, dona da plataforma online de crédito Simplic. "Estamos pensando em ter stands em lugares públicos", disse Marcelo Ciampolini, presidente-executivo da Lendico.

Outro fator que concorre para filtrar as fintechs sobreviventes é o fôlego financeiro. Em outras palavras, por quanto tempo a empresa pode operar no vermelho, investindo só no crescimento da base.

"Poderíamos atingir o break even (lucro) em dois meses se quiséssemos; era só desacelerar", disse Cristina Junqueira, cofundadora e vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Nubank, em agosto à Reuters. "Mas isso não faz sentido hoje." O Nubank tem um público estimado em 2,5 milhões de portadores de cartões.

Em outra frente, a capacidade de funding da instituição financeira sócia também pode limitar a capacidade de expansão. Só em crédito esse mercado já movimenta mais de 1 bilhão de reais por ano. E é isso que tem incentivado uma aproximação entre fintechs e aqueles antes vistos como rivais, os grandes bancos.

O CBSS, de Bradesco e BB, apostou nisso quando anunciou parceria com o Bom pra Crédito, semanas atrás. "Prevemos em 2018 ter 30 por cento do crédito digital", disse à Reuters Carlos Giovanne, presidente do CBSS, no início do mês. Em outra frente, o Bradesco até o fim do ano deve deslanchar seu banco eletrônico, o Next.

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