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Queda da Selic para 4,50% nesta quarta é consenso, mas fim do ciclo de cortes divide mercado

Copom está reunido para definir a nova taxa básica de juros; das 60 instituições ouvidas pelo 'Projeções Broadcast', 31 acreditam que a última redução deve ocorrer neste encontro

11 dez 2019 - 08h40
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A taxa básica de juros deve atingir uma nova mínima histórica, com redução de 5,0% para 4,50%, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que termina nesta quarta-feira, 11, conforme a aposta majoritária das 60 instituições participantes da pesquisa do Projeções Broadcast. Com exceção de uma casa, todas outras 59 ouvidas esperam novo corte de 0,50 ponto porcentual na Selic, como indicado pelo Banco Central (BC) na última reunião.

O consenso se desfaz, no entanto, no que concerne aos passos seguintes de política monetária. O BC recomendou cautela no comunicado de outubro e, desde então, o cenário de curto prazo se tornou um pouco mais nublado: houve forte depreciação cambial, choques significativos sobre a inflação e sinais de melhora da atividade.

Por isso, o mercado está dividido sobre o encerramento do ciclo de flexibilização monetária. Das 60 apostas, 31 indicam que o último corte na Selic deve ocorrer nesta reunião. Outros 29 esperam continuidade do ciclo no início de 2020, com 20 estimativas de encerramento em 4,25% e outras 9 em 4,00%. Para o fim de 2020, as expectativas variam de 4,0% a 6,0%.

Banco Fator, Quantitas Asset, ARX Investimentos e Tullett Prebon, por exemplo, elevaram as projeções para a taxa Selic no fim do ciclo. Outras, contudo, ainda mantêm a aposta mais baixa, como Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Bank of America Merrill Lynch, Sicredi e Novus.

O economista-chefe da Truxt Investimentos, André Duarte, diz que chegou a estimar que a Selic chegaria a 4,0%, mas agora espera que o último corte seja neste mês. "O principal motivo para a revisão foram os sinais de que a atividade está se recuperando de forma mais robusta. Acreditamos que a perspectiva é de IPCA bem controlado, mas o ciclo foi iniciado com o objetivo de 'comprar um seguro' para estimular a atividade e a inflação voltar à meta e nós já compramos esse seguro."

O economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, afirma que sempre manteve a perspectiva de que o nível final da Selic seria de 4,50%, mas admite que chegou a discutir a possibilidade do juro atingir patamares menores por causa da inflação muito baixa. "Inclusive, acredito que a cautela que o BC comentou fosse uma indicação de redução do ritmo de queda e não de fim de ciclo."

No último Copom, o colegiado afirmou que "a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude", mas completou que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo.

"Não acredito que o choque de proteínas e de câmbio sejam determinantes para impedir o BC de seguir com os cortes, porque são choques de oferta e de custo. Mas combinado com a cautela mencionada pelo BC, os juros historicamente baixos e a recuperação da atividade econômica, parece mais plausível terminar o ciclo em 4,50%", diz Cardoso.

"Esse é o momento no qual o BC vai parar e ver o efeito desse juro baixo na economia", reforça a economista Camila Abdelmalack, da CM Capital, que enxerga um corte de 0,50 ponto em dezembro como fim do ciclo, com a Selic estável a 4,50% durante 2020.

Para o comunicado, a economista espera alguma elaboração do Banco Central sobre um cenário de inflação com câmbio mais pressionado, mas diz que não vê risco nesse cenário. Segundo Camila, o que deve ficar no radar é a possibilidade de uma retomada mais intensa da atividade econômica combinada a um eventual sucesso do governo nas reformas administrativa e tributária a partir de 2020, pressionando as expectativas de inflação para 2021 e influenciando o horizonte relevante do BC.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, mantém o cenário de queda de 0,25 ponto porcentual da Selic em fevereiro. "O que temos atualmente é um choque temporário de carnes, é um risco, mas não é uma alta concentrada, e há tendência de limitação de repasse para o restante da inflação por causa do hiato do produto, o alto desemprego."

Mesmo os números melhores de atividade econômica não mudam a perspectiva, completa, uma vez que a recuperação já era esperada e ainda é gradual. "A inflação mostra espaço para corte adicional, as medidas subjacentes de inflação continuam bastante tranquilas."

O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, diz ainda que, além da inflação dar espaço para a Selic ir a 4,25%, a atividade, apesar dos dados melhores recentemente, ainda precisa de estímulo. "É preciso reforço. Ainda mais porque estamos passando por um momento de estímulo temporário do consumo, que tem de ser substituído pela confiança. As taxas de juros mais baixas podem aumentar a confiança e incentivar investimentos."

Na Tullett Prebon, o estrategista Vinicius Alves cita que a alteração na aposta de Selic, de 4,0% para 4,25% no fim do ciclo, foi motivada pela mudança de comunicação do Copom e pelo câmbio. "Choques de carne são primários e não deveriam mudar o cenário de política monetária", acrescenta.

Único a esperar corte de 0,25 ponto já em dezembro, o economista Alexandre Lohmann, da GO Associados, avalia que o BC pode "atuar com mais cuidado" porque a queda da Selic pode vir a pressionar mais o câmbio, dada a redução do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.

Estadão
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