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Qual é o papel dos conselhos das empresas afetadas pelas tarifas de Trump na gestão da crise?

Especialistas em governança apontam função estratégica de conselheiros em meio às negociações, porém 'sem ultrapassar limites' da posição

18 jul 2025 - 14h16
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À medida que avança o prazo de vigência da tarifa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos do Brasil importados pelos EUA, intensificam-se as estratégias e negociações do governo e do empresariado brasileiro para evitar impactos negativos nas relações comerciais entre os dois países. Especialistas consultados pelo Estadão dizem que o papel de conselheiros das empresas diretamente afetadas, como as dos setores do agro e de transportes aéreos, é essencial para garantir as condições de governança adequadas para a gestão da crise.

A motivação para isso é que a efetivação da taxa poderá resultar em mudanças significativas de curto e médio prazos nas companhias que exigirão decisões rápidas e estratégicas, incluindo a possível necessidade de busca por novos mercados que absorvam a produção da rota norte-americana.

E o movimento de reacomodação será desafiador para todas as instâncias de planejamento e decisão das empresas. De acordo com um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), publicado na quarta-feira, 16, os EUA são o 3º principal parceiro comercial do Brasil e o principal destino da indústria de transformação nacional. Só no ano passado, 78,2% das exportações dessa natureza tiveram o mercado estadunidense como fim.

Conforme projeções da entidade, a taxação prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto pode significar uma perda de 0,16% no PIB brasileiro, o equivalente a menos R$ 19,2 bilhões injetados na economia nacional. Além disso, a imposição da tarifa resultaria em perdas robustas nos postos de trabalho na agropecuária, comércio e indústria de menos: 40 mil, 31 mil e 26 mil, respectivamente.

Papel do conselho

Segundo o gerente de conhecimento e relações institucionais do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Danilo Gregório, a atuação dos conselhos de administração é essencial em momentos de crise como esse. No entanto, o envolvimento do colegiado dependerá da materialidade do risco para cada companhia, ou seja, de qual será o grau de impacto potencial sobre a operação da companhia e seus resultados.

Dessa maneira, diz o especialista, o conselho pode agir apoiando a diretoria na "reavaliação da cadeia de valor, na construção de cenários e na definição de respostas estratégicas, sempre com base em dados confiáveis e alinhadas ao propósito da organização". O colegiado também pode ajudar na "definição do apetite a risco da organização e garantir que existam mecanismos adequados para identificar, mitigar e monitorar riscos relevantes."

A coordenadora do Centro de Estudos em Ética, Transparência, Integridade e Compliance da Fundação Getúlio Vargas (FGVethics), Lígia Maura Costa, ressalta que, nesses casos, a atuação de um conselheiro não equivale a substituir o papel do executivo, mas garantir, dentro das boas práticas de governança, que "a resposta da empresa esteja alinhada com seus princípios e valores e com sua visão de longo prazo, bem como com o dever fiduciário perante os acionistas, à sociedade e aos demais stakeholders (partes interessadas)."

"Conselhos bem estruturados atuam como instâncias de supervisão de governança", afirma. "Em um País como o Brasil, onde ainda se consolidam práticas maduras de governança e accountability (prestação de contas), os conselhos não devem silenciar diante de pressões externas de impacto econômico e geopolítico tão relevantes como essas, pois isso não representa cautela, mas sim omissão. A integridade, nesses casos, passa também pela coragem institucional de se posicionar com clareza e consistência."

Atuação coletiva

Como toda ação de conselho, a gestão de crise também é coletiva. Na análise do coordenador do Centro de Referência em ESG da Fundação Dom Cabral (FDC), Carlos Penteado Braga, ela passa pela organização de um comitê de gestão de crise, com representantes da diretoria e do conselho para a elaboração de recomendações que podem ser apresentadas durante decisões de uma mudanças significativas na rotina dos negócios.

"Dependendo do assunto (pode haver) a necessidade de contratação de especialistas externos que possam ajudar na orientação das melhores medidas diplomáticas, de comunicação e de marketing que precisam ser anunciadas pela empresa, para poder se comunicar com todos os envolvidos", acrescenta.

Braga sinaliza ainda a necessidade de alinhamento nas decisões e comunicação liderada pelo executivo. "Não é comum um conselheiro atuar como o negociador. Todo posicionamento oficial da companhia deve vir por meio do seu CEO ou de um diretor que esteja com essa atribuição dada pelo comitê."

Evitar 'atalhos'

Ainda que o conselho possua membros com acesso facilitado ou contato direto com agentes decisivos nas negociações, como os do alto escalão da presidência de ambos os países envolvidos na tensão comercial, é importante que o conselheiro evite "atalhos", como a tentativa de negociação independente.

O especialista internacional em Governança, Confiança e Assuntos Públicos, Gui Athia, alerta que não é papel de um conselheiro fazer ligação para autoridades em nome da empresa. Por mais que se trate de uma boa intenção, o risco de exposição, conflito de interesse ou ruído institucional é grande, ressalta.

"Existem conversas que acontecem em caráter reservado, principalmente quando envolvem concorrência, cadeia produtiva, sigilo estratégico. Mas 'reservado' não é sinônimo de 'informal'. O conselheiro que tenta agir fora da estrutura, por mais bem-intencionado que esteja, pode comprometer a própria governança da empresa. Especialmente se for por meio de canais informais ou não auditáveis, como telefonemas pessoais, mensagens diretas ou contatos paralelos."

Segundo Athia, em meio à crise, o conselheiro deve garantir que a empresa tenha a estrutura certa para agir, e sua melhor contribuição é zelar para que a governança funcione, sem ultrapassar os limites dela. "A função do conselheiro é garantir que a empresa esteja pronta. Ajudar, sim. Agir de forma independente, não."

Estadão
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