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Pedro Parente: 'é mais difícil estar no governo do que na iniciativa privada'

Ex-ministro da Casa Civil do governo FHC e ex-presidente da Petrobrás, executivo vê com naturalidade a atual desarticulação do governo e segue confiante na aprovação da reforma

26 mai 2019 - 05h10
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Ex-ministro da Casa Civil do governo Fernando Henrique Cardoso e ex-presidente da Petrobrás, Pedro Parente vê com naturalidade a atual desarticulação entre o presidente Jair Bolsonaro com o Congresso. À frente da BRF (união da Sadia e Perdigão), maior exportadora global de frango, Parente acredita que a reforma da Previdência será aprovada. "O lado positivo é o apoio que (a reforma) tem recebido. Tem boa chance de passar. Talvez não no prazo ideal." A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. vê a falta de articulação no governo em relação à reforma da Previdência? Como impacta na economia?

Vejo com naturalidade. Apesar das dificuldades iniciais, o governo vai encontrar um caminho. O lado positivo, considerando a minha experiência no setor público, é o apoio que (a reforma) tem recebido. Acho que tem boa chance de passar. Talvez não no prazo ideal.

E se for uma reforma menos ambiciosa?

Vamos ter o que o Congresso aprovar. Se não for uma com o efeito necessário nas contas públicas, pode ter um impacto negativo. Entendo que a aprovação de uma reforma razoável já é dada como certa pelo mercado. Mas o Congresso já manda sinais, inclusive o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que está muito empenhado na aprovação dela.

Mas não compromete a atração de investimentos?

As reformas, tanto previdenciária como tributária, terão um impacto importantíssimo no ambiente de negócios. A elas somam-se projetos do Ministério da Fazenda que são discussões microeconômicas. Com isso tudo acontecendo, teremos um ambiente mais propício ao investimento. Os agentes econômicos estão aguardando se, de fato, há sinais mais afirmativos destas questões para que possam destravar seus investimentos.

Havia uma expectativa de retomada do crescimento econômico, que ainda não se concretizou. Como isso afeta a BRF?

Se a economia estivesse mais forte, teríamos um consumo maior. Considerando o cenário atual, estamos com a nossa linha de produção adaptada à demanda, gerando margens crescentes em função do trabalho de repassar aos preços os custos que aumentaram ao longo do ano passado. Além disso, como a BRF exporta cerca de 50% da produção, permite uma diversificação de risco que é extremamente importante para os nossos negócios. Isso excluindo o efeito China (maior importador global e que está com peste suína).

O sr. fez parte do governo. O que é mais fácil: estar no governo ou comandar empresas?

Tem aspectos que eu diria que é muito mais difícil estar no governo. Quando se está no governo, o número de variáveis que está sob o seu controle é muito menor do que no setor privado. É claro que no setor privado, não são todas as variáveis que está sob o seu comando. Mas quando se está no governo e, de repente, acontece uma obstrução, é bastante complexo. De todas as funções que eu participei, a mais complexa foi ser chefe da Casa Civil. Dependendo da empresa, há questões importantes, como segurança, meio ambiente. No caso da BRF, a principal complexidade deriva do fato de ser uma cadeia longa. Até o (produto) chegar à mesa do consumidor, leva um ano. Estar na BRF é uma experiência extraordinária pela competência com a qual se lida com essa cadeia. O que eu quero dizer com isso? Decisões que eu tomo hoje vão ter impacto na minha produção daqui um ano.

O sr. está há um ano na BRF e chegou em um momento crítico de desentendimentos entre os acionistas, crise financeira e denúncias da Polícia Federal. Qual o balanço que o sr. faz hoje?

Eu vim exatamente para ajudar a resolver esse problema de governança. Os principais acionistas estavam em disputa e a opção pelo meu nome, por si só, já ajudou a resolver o problema. O novo conselho deixa de ser parte do problema e passa a ser parte da solução. É um conselho atuante, com excelentes membros. A empresa vivia uma série de problemas, alguns específicos da BRF e outros da indústria como um todo. O que nós procuramos fazer foi recompor o time de lideranças e um diagnóstico muito amplo de tudo que a empresa precisava para colocá-la nos trilhos. Houve um novo planejamento estratégico, com prioridades muito bem definidas. De maneira geral, essas prioridades são ter no mercado brasileiro, digamos assim, a espinha dorsal de operação da empresa. No exterior, temos uma força impressionante no mercado halal e podemos avançar no mercado asiático.

Em junho, o sr. deixará a presidência executiva para ficar no comando do conselho administrativo. O que muda?

Estamos vivendo agora um novo ciclo onde a empresa vai estar muito melhor organizada, com uma visão estratégica muito clara. Lorival Luz, que atuava como vice-presidente executivo global, assumirá a presidência. Nós fizemos a primeira etapa de arrumar a casa. Daqui para frente, é voltar a ter os resultados positivos, margens melhores, e pessoas alinhadas no conselho e na diretoria executiva.

O que o sr. pode falar sobre as operações Carne Fraca e Trapaça?

Não temos muito a acrescentar em relação ao que foi dito. A empresa é a maior interessada para que essas questões do passado sejam esclarecidas. Definimos como um dos três valores fundamentais da empresa a integridade - os outros dois são segurança física das pessoas (funcionários ou não) e essa disposição da empresa de ter todas as questões esclarecidas e cooperar com as autoridades.

O processo de desinvestimentos da companhia foi concluído?

Tivemos a venda de operações por inteiro na Argentina, na Europa e na Tailândia. Então, não existe qualquer plano de fazer venda de operações por inteiro como fizemos no passado. O que não está descartado são as parcerias que nos permitam atuar no mercado prioritário, principalmente o halal. Agora, qualquer impacto positivo, seja de uma parceria ou derivada dessa nova perspectiva de mercado sobre a China, vai ser usada para reduzir dívida. Nós não vamos mudar a política de extremo rigor financeiro em função de um eventual resultado positivo por causa da questão chinesa. Vamos continuar muito firme na linha que adotamos para reduzir a alavancagem com maior rapidez e aumentar nossas margens. Esse será nosso objetivo.

O sr. se tornou sócio de uma gestora de investimentos, a EB Capital. Vai se tornar um investidor?

No meu atual momento de vida, meu plano não era voltar a ser executivo. Gosto de fazer múltiplas atividades, sendo que algumas com mais tempo do que outras. Então, sem dúvida nenhuma, minha prioridade é a BRF. Mas, agora como presidente do conselho de administração, aceito participar de outras atividades sempre fazendo uma avaliação muito cuidadosa da minha alocação de tempo. Isso é muito importante. E nesse contexto, vou manter participação em conselhos. Acredito que as gestoras de private equity (que compra participação em empresas) estão adquirindo relevância muito grande no País. Mas é importante mencionar que vou me dedicar bastante à BRF.

Estadão
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