Nubank não está 'entre os maiores no começo do consignado privado', mas vai acelerar, diz Lago
Banco digital lucra US$ 557 milhões (R$ 3,1 bilhões, ao câmbio do dia) no 1º trimestre, alta de 74% na comparação com o mesmo período de 2024; as receitas subiram 40%
O Nubank vê no novo formato do consignado privado uma oportunidade de competir em pé de igualdade com os grandes bancos pelo crédito ao trabalhador que tem carteira assinada. A fintech não fez um volume alto de concessões no produto até aqui, mas quer acelerar quando os ajustes no fluxo de garantias forem feitos, ao longo dos próximos meses.
Em balanço divulgado nesta terça-feira, 13, o banco anunciou lucro líquido de US$ 557,2 milhões (R$ 3,1 bilhões, ao câmbio do dia) no primeiro trimestre de 2025, alta de 74% na comparação com o mesmo período de 2024, descontados os efeitos do câmbio. As receitas do banco digital cresceram 40%, para US$ 3,2 bilhões (cerca de R$ 18 bilhões), puxadas pelo crédito e por produtos como cartões. O retorno patrimonial anualizado (ROE, na sigla em inglês) ficou em 27% no primeiro trimestre.
"Certamente não somos um dos grandes participantes dessa primeira rodada (do novo consignado), estamos testando os fluxos de colateralização. Uma vez testados os fluxos, nosso objetivo é acelerar, e acelerar bastante bem", disse o diretor financeiro da fintech, Guilherme Lago.
Ele não informou os números de concessões feitas pelo Nubank. Em relatório divulgado nesta terça-feira, 13, o Citi afirmou que o Nubank concedeu até agora R$ 4 milhões no produto, cifra distante da de instituições como Banco do Brasil, Caixa, Pan, Inter e Itaú, que têm liderado a corrida pelo produto nas primeiras semanas.
O novo consignado privado é uma chance única de ganhar espaço em um mercado historicamente dominado pelos três maiores bancos incumbentes, disse Lago, na teleconferência de resultados do primeiro trimestre. "O consignado privado vai abrir a porta para o relacionamento com clientes, dados dos clientes e colaterais dos clientes que estavam fora de alcance anteriormente", disse Lago. "Estamos dentro."
No curto prazo, Lago disse que a nova modalidade não terá impacto material no negócio de crédito sem garantia do banco. Mas, com a escalada das operações, esse cenário pode mudar. O Nubank opera o consignado público, com uma série de convênios, e a operação de crédito com garantia já responde por 8% da carteira total do banco, ante 3% há um ano.
De acordo com Lago, o Nubank já tem oferecido aos clientes que têm carteira assinada e contrataram crédito pessoal uma troca de dívida para a nova linha, mais barata por ter garantia. Ele minimizou os riscos para a lucratividade da fintech dessa canibalização de produtos, afirmando que o menor risco e o tamanho do mercado devem tornar o novo consignado mais lucrativo.
"A nossa hipótese é que o efeito negativo na nossa carteira de crédito pessoal vai ser bem pequeno, e mais do que compensado pelo aumento do mercado", afirmou o executivo. Na visão de analistas, o Nubank tende a ser um dos nomes mais afetados no setor, pelo menos no curto prazo.
O novo consignado permite aos bancos e fintechs acessarem os dados das folhas de pagamento das empresas mesmo que não tenham convênios com elas, o que na prática elimina a principal barreira de crescimento do produto, que antes dependia de contratos bilaterais.
"A estrutura do crédito consignado permite acessarmos o cliente e darmos o crédito a ele de maneira tão benéfica quanto um banco incumbente. Isso nos abre um bolsão de oportunidades muito grande para trabalharmos com crédito para o público CLT", afirmou Lago. Ele estima que 70% da população brasileira com carteira assinada seja cliente do Nubank.
Banco tem 118,6 milhões de clientes
Só na operação brasileira, o lucro do Nubank foi de US$ 560 milhões, e o retorno ficou em 48%. O banco informou ainda um lucro líquido ajustado de US$ 606,5 milhões na operação global.
O banco digital chegou a 118,6 milhões de clientes, considerando os três países onde opera — Brasil, México e Colômbia. Só no primeiro trimestre foram adicionados 4,3 milhões de novos correntistas. No Brasil, o banco fechou março com 104,6 milhões de clientes.
Lago ressalta que o banco já tem como clientes 60% da população adulta no Brasil, 12% no México e 8% na Colômbia. Nas linhas de negócios, o cartão de crédito cresceu 40% no primeiro trimestre, na comparação anual, e a originação de empréstimos aumentou 64%, puxado pelo crédito pessoal. Nessa linha, o banco originou um nível recorde, que somou R$ 17,3 bilhões no primeiro trimestre, de acordo com o balanço.
No índice de inadimplência, o banco digital registrou aumento dos calotes nos créditos de mais curto prazo, de 15 a 90 dias, que subiu de 4,1% em dezembro de 2024 para 4,7% em março.
Acima de 90 dias, houve queda, com o indicador fechando o primeiro trimestre em 6,5%, de 7% ao final de 2024. "Veio em linha com o esperado. O primeiro trimestre tem uma sazonalidade, disse Lago ao explicar o aumento da inadimplência mais curta.
"Com um equilíbrio entre ousadia e disciplina, estamos aproveitando diversas oportunidades de crescimento", afirma o CEO e fundador do banco, David Vélez, em comentário no balanço.
Ele ressalta que o engajamento dos clientes da fintech em usar os produtos da casa tem crescido. O banco digital tem 98,7 milhões de usuários ativos mensais e uma taxa de atividade superior a 83%, ressalta em seu comentário.
Fora do Brasil, o Nubank chegou a 11 milhões de clientes no México, aumento de 91% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os depósitos aumentaram 18% em relação ao trimestre anterior, para US$ 5,4 bilhões.
Na Colômbia, alcançou 3 milhões de clientes e os depósitos aumentaram 30% em relação ao trimestre anterior, para US$ 1,8 bilhão. Nos dois casos, considerando uma base neutra de câmbio.