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Nova geração de ricos faz as contas e prefere compartilhar casas de luxo e aviões

Empresário optou por pagar cota de R$ 6 milhões para usar, uma vez por mês, casa com barco no Guarujá, no litoral de São Paulo, em vez de comprar um imóvel; empresa de compartilhamento vê negócio em expansão

6 jul 2021 - 17h10
(atualizado em 15/7/2021 às 16h08)
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Um empresário de 49 anos do ramo de tecnologia fez as contas e percebeu que suas horas de deslocamento entre reuniões compensariam o uso de um helicóptero. No lado pessoal, ter uma boa casa na praia e um barco também seria bacana, mas do mesmo jeito que os voos, ser dono dos bens, não valeria à pena na ponta do lápis.

"Para mim, não fazia sentido ter uma casa, com todo o custo de manutenção, ou uma aeronave só minha, usando tão pouco", diz o empresário, que preferiu não se identificar. Como ele, há uma nova geração de pessoas que ganharam uma bolada considerável nos últimos anos, mas que sabe não só o valor do dinheiro mas o peso no meio ambiente do consumo desenfreado de bens. Com isso, tem criado um nicho de negócio com números promissores.

A Prime You, empresa de compartilhamento de bens de luxo, por exemplo, viu os ativos que administra ultrapassarem a marca de R$ 360 milhões recentemente e cresceu 52% entre 2019 e 2020. Os clientes da empresa podem compartilhar carros esportivos, jatos executivos, barcos e casas. Cada um paga uma cota para ter direito a usar, em parte do tempo, os ativos que desejar.

Empresas como a Avantto e a FlyJet também atuam no segmento e são especializadas no compartilhamento de aeronaves, modalidade que foi regulamentada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em fevereiro. A Prime You recentemente incrementou a frota de jatos com um Phenom 300, diante da maior demanda por viagens executivas durante a pandemia.

O empresário que falou com o Estadão/Broadcast desembolsou R$ 6 milhões por uma cota que dá direito ao uso mensal de uma casa no Guarujá, no litoral Sul de São Paulo, e um barco. Além de cobrir os gastos de limpeza e manutenção, o valor inclui uma série de personalizações como aromatização da casa idêntica à usada na residência do cotista, até roupa de cama exclusiva.

"O que atribui maior valor para os nossos cotistas é racionar o investimento e também as despesas", diz Marcus Matta, CEO e fundador da Prime You. "É possível usufruir de algo que tem padrão, qualidade e gestão profissional, que permite curtir aquilo de verdade, sem a parte ruim."

A tendência de consumo da classe A acompanha uma transformação solidificada durante a pandemia da covid-19. No caso dos jatos, a demanda veio de clientes que precisavam viajar sem aglomeração na pandemia. Mas, de modo geral, o compartilhamento deixou de ser uma má ideia quando as pessoas passaram mais tempo dentro de casa e perceberam quantos itens acumulavam.

"Primeiro havia um estigma: 'não vou usar coisas dos outros', mas isso, principalmente depois da pandemia, foi repensado", afirma Katherine Sresnewsky, coordenadora da pós-graduação de moda e luxo da ESPM. "É um hábito novo para o consumidor brasileiro. Hoje, colocar o seu produto, o seu bem, para uso do outro é cool."

O professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista na área de marketing, Roberto Kanter, afirma que a sustentabilidade, mais discutida no mundo corporativo, também entra na casa das pessoas, o que muda sua visão sobre a compra de bens duráveis e caros. "É uma mudança de comportamento", diz. "Não preciso ser mais o dono exclusivo de um item: é possível usufruir dele de uma maneira mais sustentável."

Para dar escala ao negócio, a Prime You se prepara agora para dar mais um passo com a oferta de uma casa de campo, e planeja chegar a outras classes sociais. "Estamos trabalhando nesse projeto há mais de nove meses, procurando entender tudo o que difere o perfil dos clientes, não só relacionado ao gosto, mas também o perfil de uso dos possíveis novos clientes", diz Matta.

Estadão
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