Não haveria bases com 50 tons de pele sem iniciativa de uma mulher periférica, diz CEO da Boca Rosa

A empresária Bianca Andrade lançou há um ano sua marca independente de cosméticos Boca Rosa com um propósito: oferecer produtos para o maior número de tons de pele presentes no Brasil, como uma forma de destoar do que chamou de "erro antigo do mercado de beleza" no País. Foi assim que colocou à venda o Stick Pele, um item de maquiagem com funções de contorno, base e corretivo com 50 tonalidades diferentes.

"Os tons mais escuros foram os primeiros a esgotar", lembra Andrade, em entrevista ao Estadão. "Sempre pergunto para as pessoas que dizem que fazer tonalidades mais escuras traz prejuízo para a empresa: 'Mas você já fez para saber?'. Se você faz uma comunicação certa em um País em que metade das pessoas são de pele negra, como não vai ter esse tipo de consumidora? Elas estão ali, reprimidas, esperando o momento de comprar a base delas."

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A executiva fez uma avaliação do primeiro ano de lançamento dos produtos durante evento comemorativo em uma loja da C&A, em São Paulo, na segunda-feira, 13. A varejista de moda foi a primeira empresa parceira a vender os itens em lojas físicas após o lançamento, facilitando o acesso para que as clientes conseguissem experimentar e descobrir seu tom exato de base.

O ponto-chave para sustentar a estratégia de aliar negócios e diversidade está nas vivências pessoais de Andrade. Ela nasceu e morou por 20 anos no Complexo da Maré, bairro periférico do Rio de Janeiro (RJ), onde iniciou os trabalhos como maquiadora com poucos recursos, antes de se tornar influenciadora e empresária.

"Não existe nada que me faça dormir com felicidade do que ver mulheres diversas me encontrando na rua e falando que não precisam mais comprar uma base 'gringa', que é mais cara e não cabe no orçamento, e nem precisa mais misturar cores". O preço sugerido de venda do Stick Pele é de R$ 89,90.

Produzir e manter uma cartela diversa, no entanto, não deixa de ter desafios próprios do mercado. Sem revelar valores, Andrade explica que a produção é muito mais cara, reduzindo a margem de lucro, mas que é uma oferta necessária considerando a clientela no Brasil. Para ela, a conta vai fechar quando as empresas com mais poder de investimento entenderem que é importante ter produtos para nichos mais amplos, fazendo com que eles ganhem escala e fiquem mais baratos.

"O que fizemos já deveria ter sido feito há muito tempo. E, de fato, eu acredito que, se não fosse uma mulher periférica fazendo, não seria agora. É um trabalho de formiguinha, feito por mulheres pequenas no mercado, e é por isso que gosto de falar para que marcas grandes também entendam a importância disso. A balança não funciona se quem está com poder, quem tem investidor, não está fazendo a mesma coisa. Nós continuamos com essa evolução, porque aí o mercado evolui e o custo melhora para todo mundo."

Em um ano, além das bases, outros produtos foram adicionados ao portfólio. Os mais recentes envolvem 20 cores de produtos para os lábios entre lápis e gloss. Próximos lançamentos estão previstos.

"Como maquiadora há 15 anos, não tem nada mais delicioso que montar a bancada e ter opções de contorno labial para todas as tonalidades, ter opção de blush para todas as tonalidades. E temos feito esse compromisso. Ano que vem, quero abrir minha bancada e ter o dobro de itens."

Impulsão no portfólio

Para a C&A, a entrada dos produtos da Boca Rosa no segmento de beleza das lojas físicas tem se mostrado vantajosa, e tudo o que for lançado pela marca deve continuar sendo imediatamente disponibilizado nas prateleiras da varejista, adianta a gerente da Categoria de Beleza da C&A, Aluma Gogola.

"A partir do momento em que ela (Bianca Andrade) lança um produto, tentamos ser muito ágeis para entregá-lo para o cliente em primeira mão."

Segundo dados do primeiro balanço financeiro deste ano, a parceria com Boca Rosa foi feita para fortalecer ainda mais o portfólio da divisão, criada na C&A em 2019. O segmento de beleza tem apresentado bons resultados em receita, compensando as perdas nas vendas do setor de eletrônicos.

Sem detalhar porcentagens, Gogola diz que vê uma relação entre continuidade do crescimento expressivo do setor de beleza na varejista e a chegada dos clientes atraídos pelos produtos de Boca Rosa. "Enxergamos isso nos números. Na subcategoria de rosto, quando olhamos a marca Boca Rosa, ela tem uma participação muito maior do que todas as outras marcas."

No primeiro trimestre deste ano, já com as unidades do Stick Pele à venda no portfólio, a categoria de beleza da C&A apresentou crescimento de 71,1% em receita líquida, frente ao mesmo período do ano passado. No segundo trimestre, o crescimento foi de 64,2% em comparação ao segundo trimestre de 2024. Os valores referentes às porcentagens não foram divulgados.

"A C&A nasceu dando acesso para as pessoas, e Bianca Andrade está fazendo isso muito bem-feito, trazendo um produto de qualidade, com preço acessível, com diversidade para a consumidora brasileira. Então, C&A e Boca Rosa se conectam muito por conta de duas palavras: diversidade e acesso."