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Mulheres em finanças: elas estão mudando a cara do setor

Mulheres que atuam no mercado financeiro observam avanços, mas ainda há caminho pela frente

9 mar 2023 - 01h00
(atualizado às 07h12)
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Ser mulher no setor financeiro é fazer parte de uma minoria. Esse cenário é visível em empresas da área ― tanto que fotos com apenas homens em empresas financeiras passaram a ser criticadas nas redes sociais.

Algumas empresas não estão esperando que a mudança aconteça sozinha, mas são pró-ativas: a Nord Research, por exemplo, tem vagas específicas para mulheres em algumas áreas, como bankers (profissional que auxilia os investidores), contou a sócia fundadora da casa de análise, Marília Fontes. 

“A diversidade soma bastante para qualquer empresa, por permitir olhares diferentes para um mesmo problema. A chance de chegar a uma boa solução aumenta muito”, comentou. 

Marília tem 14 anos de experiência no mercado financeiro. Mas em seu tempo nesse meio, observa avanços: “Hoje em dia, temos muito mais mulheres no mercado financeiro em diversas áreas. E cada vez mais vejo interesse das jovens pelo mercado”, avalia. 

Annia Gastélum: “Algumas vezes sentia que não levavam a sério”
Annia Gastélum: “Algumas vezes sentia que não levavam a sério”
Foto: Divulgação

Mindset da liderança está mudando, mas ainda há o que avançar 

Annia Gastélum, Head de Marketing da fintech WEpayments, é imigrante do México e atua no setor financeiro desde quando chegou no Brasil, há oito anos. Ela conta que já se sentiu subestimada por ser mulher, além de enfrentar dificuldades por ser estrangeira. 

“Sempre fui a primeira ou segunda estrangeira contratada. Em algum momento senti sim falta de empatia com alguém que tem que falar e se expressar em uma língua que não é a sua. Algumas vezes sentia que não levavam a sério”, afirmou. 

Mas somente quando há diversidade pode haver mudança. Annia avalia que conseguiu colaborar nesse sentido: “Tive a oportunidade de construir cultura dentro das empresas nas quais trabalhei, lutar pela diversidade cultural e colocar a minha latinidade como vantagem nos projetos dos quais participei”. 

Annia observa também um aumento na diversidade: “O mindset da liderança está mudando, quem abre as portas à diversidade, abre as portas para pessoas qualificadas dentro de todos os ‘grupos’ (sexo, etnia, faixa etária etc.) que contribuem com perspectivas ou ideias diferentes, enriquecendo qualquer projeto. Mas ainda temos muito caminho a percorrer e isso vai levar tempo”.

Mulheres ajudam a elevar outras mulheres 

Nicola Rawlinson, líder da equipe de Macro Strategies do J.P. Morgan Asset Management, em Londres, observa que as coisas estão mudando nos quase 15 anos que atua no setor. Ela explica que na JP Morgan há iniciativas para garantir que as mulheres tenham oportunidades de forma igualitária. 

Mas o setor, em geral, ainda é predominantemente masculino, então observa isso em alguns locais. Por exemplo, Nicola participou de um evento em São Paulo como a única palestrante mulher entre 11 pessoas, e comentou que isso ainda acontece.

“É bom ver as mulheres na platéia dizerem que estão satisfeitas em ver mulheres no palco e sinto que estou ajudando a levantar a bandeira para elas verem que existe uma plataforma”, afirmou. 

Ela também contou que a igualdade de gênero é um tema que a interessa muito e que tenta ser uma referência e apoiar as mulheres mais juniores na sua companhia para enxergarem seu potencial e chegarem a um lugar de destaque.  

Fernanda Ribeiro: “Estamos em menor número, sim, e por motivos estruturais e de acesso. Mas existimos”
Fernanda Ribeiro: “Estamos em menor número, sim, e por motivos estruturais e de acesso. Mas existimos”
Foto: Larissa Isis / Divulgação

Mudança só acontecerá com intencionalidade, avalia executiva

O setor financeiro ainda tem um viés discriminatório, explica Fernanda Ribeiro, cofundadora da Conta Black: “Apesar das evoluções e avanços tecnológicos ainda há muitos mecanismos discriminatórios nos bastidores. Posso citar aqui o modelo de análise de crédito, a lógica dos grandes bureaus, ainda considera a vida financeira pregressa do cliente para determinar o seu risco de inadimplência, quando poderia olhar numa perspectiva que considera o futuro”. 

Fernanda lembra que a Conta Black nasceu a partir de uma situação como essa (vivida pelo fundador, Sergio All), de negativa de crédito mesmo quando todos os requisitos estavam em conformidade. 

Sobre as mudanças necessárias no setor, Fernanda Ribeiro ressalta que as empresas precisam ser ativas: “Elas podem mudar de maneira intencional. E acredito que só há intencionalidade quando há clareza nos objetivos a serem atingidos por meio de metas, com métricas realistas e investimento financeiro voltados para essa intenção”, afirmou.

Sobre a presença ainda pequena de pessoas negras no mercado, Fernanda conta que vê uma transformação: “Semestralmente fazemos um encontro com profissionais negros da área financeira exatamente para trazer um contraponto à essa percepção, que é difundindo no mercado. Estamos em menor número, sim, e por motivos estruturais e de acesso. Mas existimos, e ter representatividade nesses espaços é muito importante, principalmente para que as próximas gerações, cada vez mais, entendam que esses lugares são ‘possíveis’. É um trabalho de construção desse imaginário, a curto, médio e longo prazo”, concluiu.

Redação Dinheiro em Dia
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