Lula: 'Muita gente fala que distribuir dinheiro do Orçamento é gasto'
As declarações do presidente foram dadas em São Paulo, enquanto em Brasília a equipe econômica do governo anunciava uma contenção de despesas de R$ 31,3 bilhões no Orçamento
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta quinta-feira, 22, uma defesa dos investimentos feitos no esporte — que, segundo ele, não podem ser considerados como gastos — e cobrou um olhar a todos os brasileiros na elaboração do Orçamento público.
As declarações do chefe do Executivo foram dadas em São Paulo, enquanto em Brasília a equipe econômica do governo anunciava uma contenção de despesas de R$ 31,3 bilhões no Orçamento para tentar cumprir a meta de déficit fiscal zero prevista para este ano. Também foi anunciado um aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para reforçar os cofres públicos, pressionados pelo endividamento.
Lula participou nesta tarde da cerimônia de renovação do contrato de patrocínio do governo federal e da Caixa ao Comitê Paralímpico Brasileiro, prevendo agora R$ 160 milhões, ou R$ 40 milhões por ano, ao planejamento e preparação de atletas até as Paralimpíadas de Los Angeles
Lula aproveitou ainda a passagem pelo Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, para antecipar que o ministro do Esporte, André Fufuca, deve anunciar nas próximas duas semanas a criação de uma universidade do esporte. Há, porém, conforme disse o presidente, uma divergência a ser resolvida, já que o projeto original era criar uma faculdade do futebol.
"Acho que só a faculdade de futebol é pouco diante da lição que vocês estão dando para o Brasil", declarou o presidente diante de uma plateia formada por atletas de esportes paraolímpicos, alguns acompanhados de seus pais e mães.
"Vamos ter uma conversa com o ministro da Educação, com o ministro do Esporte, e vamos decidir. Eu sou favorável de fazer uma universidade para servir de exemplo para o mundo. Este País não é tão rico, mas tem orgulho, tem amor, tem dignidade, e a gente não precisa ficar devendo nada para ninguém em se tratando da qualidade de vida de nosso povo, de nossos atletas e da qualidade das condições que o governo pode oferecer a vocês", acrescentou.
Ao lembrar que o centro de treinamento funciona em terreno que abrigou no passado a sede da Fundação Casa, de recuperação de jovens, Lula, numa referência a críticas do mercado, afirmou que muita gente considera que esse tipo de investimento é gasto. "Tem muita gente que fala que isso é gasto. Tem muita gente que fala 'não precisa fazer isso'. Quando vai distribuir o dinheiro do orçamento, diz não, isso não é prioritário, para que gastar dinheiro tentando formar atleta paraolímpico?", declarou.
"Se ele viesse aqui hoje e conversasse com as meninas e meninos com quem conversei, e com os pais e as mães, nunca mais esse ignorante iria falar que um investimento desse é gasto", acrescentou.
Após dizer que os governantes têm de olhar para a totalidade das pessoas que representa, dando a elas igualdade de condições, o presidente lembrou que, quando um orçamento público é formulado, cada ministro quer puxar recursos para a sua área. Assim, se não tiver alguém para lembrar que existem atletas no Brasil que mal têm o que comer, o governo não vai pensar em todos, disse Lula.
Ao defender o papel do governo em oferecer condições de desenvolvimento a todos, o presidente também ressaltou em seu discurso que muitas vezes, no Brasil, as pessoas já são excluídas "no berço", a depender de sua cor ou condição física. "Nada, absolutamente nada, é impossível ao ser humano quando ele quer e tem a oportunidade de fazer as coisas [...] Seria muito mais fácil para uma mãe esconder uma pessoa com deficiência. Vocês disseram 'nós não somos inferiores a ninguém'", disse Lula, que também prometeu mais anúncios da Caixa Econômica em patrocínios esportivos.
