Haddad diz que é preciso corrigir 'escorregada' do dólar e que FHC superou crise cambial de 1999
Ministro da Fazenda afirma que falhas de comunicação no pacote de corte de gastos acentuaram valorização da moeda americana no Brasil
BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na manhã desta sexta-feira, 20, que é preciso "corrigir a escorregada" do dólar no Brasil. Embora ele tenha apontado que há um cenário de fortalecimento da moeda americana em todo o mundo, ele reconheceu que o efeito sobre o real tem sido mais intenso este ano.
"Temos de corrigir essa escorregada que o dólar deu aqui. Não é no sentido de buscar um nível de dólar, de mirar uma meta. Na minha opinião, o sentido que o Banco Central tinha que atuar - isso é atribuição dele - é não buscar um nível, mas um equilíbrio. Sempre que houver uma disfuncionalidade - por incerteza, insegurança, seja o que for - no mercado de câmbio e de juros, o BC deve promover correções nesse sentido", disse o ministro em café da manhã com jornalistas.
Na quarta-feira, o dólar fechou cotado a R$ 6,26, maior valor da história. Nesta sexta-feira, a moeda americana opera por volta de R$ 6,07.
Questionado sobre os impactos que o dólar mais forte pode ter na campanha de 2026, o ministro afirmou que ainda é cedo para pensar em eleições, mas lembrou que o governo Fernando Henrique Cardoso passou por uma maxidesvalorização do real em 1999 e chegou competitivo ao pleito de 2002.
"Quando houve a crise cambial de 1999, o câmbio disparou, foi desvalorização de mais de 100%, foi uma pancada. O Arminio Fraga (então presidente do Banco Central) levou a Selic para 45% para segurar o câmbio e, se não fosse o apagão de 2001, o governo chegaria competitivo em 2002, e chegou. Foi ao segundo turno e disputou a reeleição. Foi caso extremo, agora não se compara", explicou Haddad.
O ministro reconheceu que houve problemas de comunicação ao fim deste ano que fortaleceram o dólar e que, por isso, é preciso "corrigir" o problema e tomar medidas para fazer com que o câmbio retome a uma situação de funcionalidade.
Para Haddad, os vazamentos ocorridos na véspera do anúncio do pacote de contenção de gastos, que incluiu a divulgação da ampliação de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, provocaram efeitos deletérios, o que exigiu muita explicação por causa da má compreensão das medidas.
"A partir do momento que BC e Tesouro atuam, e as medidas vão ficando mais claras. Eu penso que essa tensão se atenue e as coisas voltem à normalidade", disse.
Cenário externo
Essa "normalidade" foi classificada ainda por Haddad como "desafiadora" em razão do cenário externo.
"Eu li um artigo ontem que o cenário externo corresponde por alguma coisa em torno de 30%, 40% do problema. Esse cenário externo continua desafiador: os juros nos EUA, as políticas que são anunciadas após as eleições americanas... tudo isso vem gerando uma reacomodação geopolítica e econômica no mundo", afirmou.
Para Haddad, o contexto exige que o Brasil "preste atenção" na própria casa para não deixar que falhas de comunicação gerem "transtorno desnecessário".