Script = https://s1.trrsf.com/update-1764790511/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Gases do efeito estufa: Brasil cobra métricas próprias de carbono

Métodos usados internacionalmente distorcem emissões e prejudicam países de solos tropicais, dizem especialistas no 'Estadão Summit Agro'

7 dez 2025 - 05h42
Compartilhar
Exibir comentários

À medida que cresce a pressão internacional para que o agronegócio reduza suas emissões, o Brasil passa a questionar a forma como o carbono é medido no mundo. Os métodos usados foram desenvolvidos para climas temperados e não capturam a dinâmica dos solos tropicais, onde cultivos e pastagens têm comportamento distinto.

Essa divergência, afirmam pesquisadores e lideranças do setor, distorce a pegada climática da produção nacional e afeta políticas, financiamentos e mercados — tema que dominou o painel "O agronegócio na COP-30", do Estadão Summit Agro, realizado pelo Estadão e produzido pelo Estadão Blue Studio, no dia 27 de novembro, em São Paulo.

Filipe Teixeira, diretor sênior de Sustentabilidade da Syngenta, resumiu a contradição: o Brasil fez a revolução tecnológica no campo — adaptou genética, defensivos e práticas ao clima tropical —, mas continuou medido por parâmetros importados. "Meça a raiz de arroz e meça a raiz de braquiária. A capacidade de armazenamento é completamente diferente."

Para ele, é urgente consolidar uma ciência teórica do carbono tropical que produza artigos revisados e métodos capazes de influenciar normas internacionais.

Especialistas reunidos pelo 'Estadão Summit Agro' questionam os métodos que medem o carbono, desenvolvidos para clima temperado na foto, a mediadora, Isadora Duarte, Diogo Fleury Costa, Eduardo Bastos, Filipe Teixeira e Rui Pereira Rosa
Especialistas reunidos pelo 'Estadão Summit Agro' questionam os métodos que medem o carbono, desenvolvidos para clima temperado na foto, a mediadora, Isadora Duarte, Diogo Fleury Costa, Eduardo Bastos, Filipe Teixeira e Rui Pereira Rosa
Foto: Helcio Nagamine/Estadão / Estadão

Uma das limitações metodológicas mais óbvias está na profundidade das medições do solo. As diretrizes globais instruem a escavar 30 centímetros para avaliar o carbono orgânico, profundidade adequada em climas frios, onde a matéria orgânica se concentra nas camadas superficiais.

No Brasil, parte relevante do carbono se encontra em camadas mais profundas, até um metro. "Quando eu meço só 30 centímetros, já começo perdendo metade do carbono", afirmou Eduardo Bastos, CEO do Instituto Equilíbrio e diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).

Políticas consistentes

A meta é substituir estimativas importadas por evidências locais robustas. "Hoje, o número que muitos veem, de até 90 kg de CO2 por quilo de carne, refere-se a animais confinados em sistemas muito diferentes do brasileiro. Com dados nacionais, esse número cai para perto de 10 kg e, em sistemas integrados bem manejados, pode até virar negativo", explicou Bastos. Para que essa mudança alcance instâncias decisórias globais, é preciso publicar em periódicos influentes e promover aceitação técnica na ONU e em órgãos de verificação, defendeu o executivo.

O agrônomo Diogo Fleury Azevedo Costa, Ph.D. em produção animal, reforçou que o metano bovino deve ser entendido no contexto do ciclo biogênico - é produto de um fluxo contínuo de carbono entre planta, solo e animal, e não uma liberação fóssil irrevogável. "O gás metano que sai do bovino vem do capim que ele comeu. É parte de um ciclo", disse.

Fleury chama atenção para o risco de leituras simplistas: "Na Nova Zelândia, 43% das emissões vêm da pecuária; nos Estados Unidos, só 4%. Isso não faz de um país um vilão climático; mostra diferenças econômicas."

Para ele, políticas sensatas combinam redução de intensidade de emissões com aumento de produtividade e com o reconhecimento do sequestro nas pastagens e em sistemas integrados.

Mas técnica sem comunicação tem alcance limitado. Foi esse ponto que o diretor executivo da Rede ILPF, Rui Pereira Rosa, destacou: o País ainda não comunica adequadamente o que faz bem no campo.

Para ele, a transferência de conhecimento, por meio de livros, vídeos, infográficos e documentos curtos, é tão importante quanto a produção científica: "Quando a comunicação cresce, atinge mercados e decisores. Coisas erradas existem em todo lugar; isso é caso de polícia. O que transforma é mostrar o que fazemos de bem."

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade