Entenda como o impacto das tarifas do Trump chega ao bolso brasileiro
Nova tarifa anunciada por Trump pressiona dólar, encarece produtos e dificulta exportações brasileiras
Na tarde desta quarta-feira, dia 9, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil, com acréscimo de 10% para países membros ou aliados do Brics. A medida, prevista para entrar em vigor em agosto, promete impactos diretos na economia brasileira, inclusive no bolso de quem não exporta e nem compra em dólar.
O mestre em Finanças pela Universidade de Sorbonne Hulisses Dias destaca que o efeito inicial pode até aquecer levemente a economia, mas que o cenário a médio prazo será de pressão inflacionária.
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"Os americanos, sabendo que o preço do que eles compram no Brasil vai subir, vão adiantar muitos pedidos. Nesse processo, a gente vai ver marginalmente um aquecimento da economia", explica.
Esse impulso, no entanto, será passageiro. O especialista alerta para a redução das exportações brasileiras, o que pode pressionar o câmbio e encarecer produtos para os consumidores.
"Depois, a gente vai ter um repasse dos produtos que acabam chegando aqui para o Brasil exportar aos Estados Unidos. Então, a gente vai ter um aumento do dólar e os produtos importados vão acabar custando mais caro para a gente, e isso vai impactar diretamente na nossa inflação", diz.
"Mesmo que o brasileiro não exporte nada para os Estados Unidos e mesmo que ele também não consuma nada diretamente em dólar", ressalta.
Entre os setores mais prejudicados, segundo Dias, estão o agronegócio, a indústria do aço e as mineradoras, justamente por sua forte dependência do mercado norte-americano.
"Como o Brasil não consegue escoar parte dessa produção para os Estados Unidos, que eram o segundo e terceiro maior parceiro comercial, a gente acaba ficando mais dependente da compra de outros países, como a China e também a União Europeia. Então, a gente tem menos poder de barganha com esses blocos que negociam com a gente."
Embora o efeito sobre o desemprego deva ser limitado por conta do cenário atual de quase pleno emprego no país, o impacto no poder de compra tende a ser sentido de forma mais ampla, especialmente com a alta do dólar já em curso.
O dólar futuro para agosto já apresentou aumento e fechou a R$ 5,63. Antes dessa notícia, estava em R$ 5,50.
"O trigo, a gasolina, os derivados de petróleo, o milho, a soja, tudo isso é cotado em dólar. Então, o preço dessas coisas acaba aumentando."
Possíveis saídas
O contexto geopolítico, especialmente a relação tensa entre os presidentes Trump e Lula, também diminui a margem de manobra do Brasil para contornar a medida por meio de diálogo bilateral.
"O clima entre o Trump e o Lula não tende a melhorar. Parece que fazer uma política de apaziguamento com os Estados Unidos não é uma alternativa, já que existe aí uma clara preferência do presidente americano pelo ex-presidente Bolsonaro", diz o especialista.
Apesar da possibilidade de buscar novos mercados, como a China, a desaceleração da economia chinesa também é um obstáculo.
"O maior parceiro comercial brasileiro, que é a China, está passando por uma diminuição do seu crescimento devido ao estouro de uma bolha imobiliária há três anos. A situação não está muito boa. Os ricos vão ficar cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, e, nessa situação, a gente está no lado pobre."