Confiança de empresários da indústria é a menor desde junho de 2020, na pandemia; produção recua
Índice, medido pela CNI antes do tarifaço de Trump, caiu 1,3 ponto em julho; em sintonia, estudo do IBGE aponta que a produção industrial recuou em maio em 9 dos 15 locais pesquisados
BRASÍLIA E RIO — O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) atingiu o menor nível desde junho de 2020, durante a pandemia de covid-19, de acordo com dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta sexta-feira,11. Enquanto isso, levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que a produção industrial recuou em nove dos 15 locais pesquisados em maio ante abril (leia mais abaixo).
Em julho de 2025, o indicador de confiança caiu 1,3 ponto, de 48,6 para 47,3 pontos. Pela metodologia, valores acima de 50 pontos indicam confiança do empresário e valores abaixo dessa linha divisória indicam falta de confiança.
Foram consultadas 1.209 indústrias, sendo 482 de pequeno porte, 442 de médio porte, e 285 de grande porte, entre os dias 1º e 7 de julho de 2025. Ou seja, antes do anúncio do governo dos EUA, dia 9, impondo tarifa de importação de 50% para produtos brasileiros.
Para a CNI, há um "aprofundamento da falta de confiança que vem sendo registrada no setor industrial brasileiro desde janeiro de 2025", conforme nota divulgada com os dados.
É o sétimo mês consecutivo em patamar abaixo de 50 pontos, segunda pior sequência no campo negativo da história do indicador, atrás somente dos resultados observados entre 2015 e 2016, durante a crise econômica.
"O fato de os juros terem subido ainda mais na última reunião do Copom contribuiu para intensificar essa piora das expectativas e da confiança dos industriais", disse em nota Larissa Nocko, especialista em Políticas e Indústria da CNI.
Industriais estão pessimistas
O Índice que mede as expectativas dos industriais para os próximos seis meses caiu 1,2 ponto em julho, ficando abaixo de 50 pontos. É a primeira vez, desde janeiro de 2023, que os empresários da indústria estão pessimistas com o futuro, informou a CNI.
Em julho, o Índice de Expectativas caiu para 49,7 pontos. "Ao ficar abaixo da linha divisória, o indicador revela que as perspectivas dos industriais para a economia e os próprios negócios nos próximos seis meses se tornaram negativas", apontou a confederação.
O Índice de Expectativas é um dos dois componentes do Icei. Outro componente é o chamado Índice de Condições Atuais, que caiu 1,7 ponto no mês atual, ficando em 42,4 pontos.
"Para os empresários, as condições atuais da economia brasileira e dos próprios negócios são piores do que há seis meses", analisa o relatório divulgado.
O que dizem os números do IBGE sobre a produção
A produção industrial recuou em nove dos 15 locais pesquisados em maio ante abril, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física Regional, divulgados nesta sexta-feira, 11, pelo IBGE.
Onde ocorreu o recuo:
- Mato Grosso (-7,0%)
- Bahia (-3,7%)
- Amazonas (-3,3%)
- Minas Gerais (-1,9%)
- Região Nordeste (-1,3%)
- Goiás (-1,1%)
- São Paulo (-0,8%)
- Pernambuco (-0,6%)
- Santa Catarina (-0,2%)
Na direção oposta, houve avanço em
- Espírito Santo (16,2%)
- Ceará (3,5%)
- Rio de Janeiro (2,0%)
- Paraná (1,3%)
- Pará (0,9%)
- Rio Grande do Sul (0,2%)
Na média global, a indústria nacional encolheu 0,5% em maio ante abril.
"Alguns fatores já conhecidos ajudam a explicar a perda de ritmo na produção industrial e o predomínio de locais em campo negativo: taxa de juros em patamares elevados, reduzindo os investimentos nas linhas de produção; incertezas tanto no mercado doméstico quanto no internacional; a inflação recaindo sobre o consumo das famílias e sua renda disponível, levando a produção a se adequar a uma demanda mais arrefecida", enumerou Bernardo Almeida, técnico da pesquisa do IBGE, em nota oficial.
A queda de 0,8% na indústria de São Paulo exerceu a maior influência negativa sobre a média global da indústria nacional no período. A produção paulista acumulou uma perda de 2,5% em dois meses seguidos de recuos, passando a operar em patamar 22,1% abaixo do pico atingido em março de 2011.
"O setor extrativo também contribuiu para esse comportamento negativo em maio. Já nas comparações interanuais, frente a maio de 2024 e no acumulado no ano, o setor farmacêutico é o que mais influencia negativamente", apontou Almeida.
A produção industrial operava em maio em nível superior ao de fevereiro de 2020, no pré-pandemia de covid-19, em oito dos 15 locais pesquisados:
- Rio de Janeiro (16,8% acima do pré-pandemia)
- Minas Gerais (14,4%)
- Mato Grosso (11,9%)
- Paraná (11,6%)
- Goiás (10,4%)
- Santa Catarina (10,2%)
- Amazonas (9,9%)
- Espírito Santo (5,6%)
Na média nacional, a indústria brasileira operava em nível 2,1% acima do pré-crise sanitária. Os locais com nível de produção aquém do pré-covid:
- Rio Grande do Sul (-0,4%)
- São Paulo (-0,6%)
- Pernambuco (-1,2%)
- Pará (-4,4%)
- Ceará (-6,8%)
- Nordeste (-18,7%)
- Bahia (-20,5%)