Com Warren Buffett como sócio, Nubank ganha novo 'status' entre investidores
Fundo do megainvestidor americano fez o maior aporte individual já realizado na fintech, que também atraiu recursos de Luis Stuhlberger, da Verde Asset
O aporte de US$ 1,15 bilhão recebido pelo Nubank, que foi liderado pela gestora Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, deu força adicional para o Nubank entre investidores. Apesar da empresa não ter capital aberto, o negócio, que elevou a avaliação da fintech para US$ 30 bilhões, mexeu com o mercado.
Afinal, com a atual avaliação, a fintech se consolidou como a quinta instituição financeira mais valiosa do país. A companhia comandada pelo colombiano David Vélez deixou bem para trás a XP (US$ 23 bilhões) e o Banco do Brasil (US$ 20,6 bilhões) e já está próxima do BTG Pactual (US$ 36,4 bilhões) e do Santander (US$ 33,6 bilhões). No topo, mais distantes, estão o Itaú Unibanco (US$ 60,2 bilhões) e o Bradesco (US$ 50,9 bilhões).
Em janeiro, quando foi anunciada a primeira parte da atual rodada, a companhia havia sido avaliada em US$ 25 bilhões. Ou seja, houve uma alta de 25% no valor de mercado em menos de cinco meses, valorização que nenhum dos grandes bancos brasileiros conseguiu no mesmo período na Bolsa de Valores. A companhia anunciou que parte do dinheiro vai para investimentos para o crescimento orgânico em grandes mercados da América Latina, como no México.
Os analistas estão de olho em como essa aposta de Buffett e outros investidores importantes, como o Verde Asset Management, liderado por Luis Stuhlberger, pode mudar o setor bancário. A Berkshire Hathaway fez o maior aporte individual no Nubank, de US$ 500 milhões.
"O ceticismo que muitos gestores têm com os bancos digitais, especialmente o Nubank, foi colocado em xeque. Afinal, a Berkshire Hathaway não é qualquer tipo de investidor", diz Henrique Esteter, analista da corretora Guide. "Isso pode mostrar que o modelo de negócio pode ser sustentável."
No entanto, a falta de lucratividade ainda pesa desfavoravelmente sobre a instituição, na visão de alguns analistas. Em 2020, o Nubank registrou prejuízo líquido de R$ 230 milhões. Foi uma perda 26% menor em relação ao ano anterior, mas ainda se trata de uma cifra alta.
Porém, o estrategista-chefe da casa de análises Eleven Financial Research, Adeodato Volpi Netto, alerta que não é possível enxergar o Nubank como uma "fotografia", mas como um "filme". Segundo ele, a entrada de Buffett, conhecido no mercado como um investidor de longo prazo, ratifica um cenário positivo para a fintech.
"O DNA da Berkshire Hathaway é de investir em companhias que terão valor no longo prazo, e o Nubank tem todas as ferramentas para criar um modelo de monetização forte a partir da sua base de clientes e com um modelo de geração crescente", diz Volpi Netto.
Concorrência acirrada
O Nubank acabou de atingir 40 milhões de clientes em suas plataformas. O que também ajudou na expansão de clientes foi a aprovação, em maio, da aquisição da corretora Easynvest, que possui 1,6 milhão de clientes e US$ 5 bilhões em ativos sob custódia.
Para se ter uma comparação, o Banco Inter alcançou 10,2 milhões de usuários no primeiro trimestre deste ano e o Next, do Bradesco, tem cerca de 4 milhões e prevê chegar a 7 milhões de clientes até o fim do ano. Mas outros grandes bancos, e até empresas de serviços, como o Mercado Livre, estão de olho nesse filão.
Na visão de Álvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do Modalmais, a capitalização do Nubank e o atual tamanho traz grande vantagem momentânea, porém o jogo ainda está bem aberto. "Não dá para avaliar se o valor de US$ 30 bilhões é justo, pois não temos acesso a todos os números, mas o Nubank está em um momento importante. Mesmo assim, não podemos falar que ele disparou. Os grandes bancos estão fazendo esse movimento e também têm muitos recursos para investir e para permanecerem grandes", diz ele.
Quem está mais perto do Nubank nessa corrida, pelo menos em número de clientes, é o Inter, que viu as suas units caírem 0,5% no pregão desta terça-feira. A queda também vem um dia após o banco confirmar que vai realizar uma oferta subsequente de ações (follow-on) para se capitalizar. A Stone, empresa de meios de pagamento, já anunciou que pretende investir R$ 2,5 bilhões no Inter por meio dessa operação.
As fintechs ainda estão em um momento em que o investimento é intensivo. Em troca de crescimento acelerado, essas empresas queimam caixa e, consequentemente, o seu lucro. Por isso, esses aportes podem fazer grande diferença perante a concorrência, ainda mais na busca pelos desbancarizados, público que os bancos estão disputando ferozmente.
"Existe espaço para todos no setor, pois o Brasil ainda tem um déficit muito grande em pessoas bancarizadas. Mas vai ser difícil repetir a trajetória do Nubank, pois a empresa se tornou um ponto fora da curva", diz Renato Mendes, especialista em inovação e CEO da consultoria F5 Business Growth.