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Avianca falha em devolver aviões a credores

Empresas não aceitaram proposta da aérea em recuperação judicial e só pretendem negociar após receber valores em atraso; Latam não descarta oferta pela Avianca 'no futuro'

28 mar 2019 - 04h11
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A Avianca não conseguiu emplacar a proposta de devolver amigavelmente as aeronaves aos arrendadores, feita em audiência pública, na quarta-feira, em São Paulo. Credores exigem o pagamento de compromissos atrasados para fechar um acordo de devolução gradual de 19 aeronaves. O prazo vence nesta quinta-feira, 27.

A Avianca deve cerca de US$ 150 milhões (R$ 580 milhões) aos arrendadores dos jatos, que estão fora da recuperação judicial e tem uma dívida de R$ 2,7 bilhões com outros credores. Desse montante, cerca de R$ 2 bilhões são com fundos ligados à administradora de recursos americana Elliot.

A empresa propôs entregar duas aeronaves por semana a partir de 15 de abril. O cronograma, segundo representante da Avianca, pretendia minimizar o impacto aos passageiros.

Menos tempo

Os arrendadores sinalizaram que a Avianca encurtasse o prazo de devolução das aeronaves. A Justiça concordou que a empresa deveria ter se organizado para retorná-las sem ônus aos passageiros. Lembrou ainda que, sem acordo, a assembleia de credores marcada para sexta-feira pode ser prejudicada, já que não haverá plano a ser apresentado.

A Azul, que também esteve presente à audiência, foi convocada a se manifestar para que os arrendadores ficassem cientes de sua posição.

Giuliano Colombo, advogado do escritório Pinheiro Neto que representava a Azul na audiência, defendeu a ideia de devolução de forma ordenada e única. Ressaltou, porém, que a empresa pode não ter interesse em manter todas elas em frota, caso saia vencedora do leilão que vai colocar em disputa os ativos da Avianca.

"Vemos com bons olhos essa solução e há conversas para contratação com novos leasings em bases comerciais", afirmou Colombo. "Estamos otimistas para que cheguemos a bom termo e o processo evolua."

Até o momento, só a Azul manifestou intenção de comprar ativos da Avianca, num modelo que envolveria a aquisição, por US$ 105 milhões, de uma Unidade Produtiva Isolada (UPI), com parte da frota e das autorizações de pousos e decolagens (slots). O negócio, porém, precisa passar pelo crivo de autoridades regulatórias.

Latam não descarta oferta

A Latam Brasil não descarta uma oferta pela Avianca. No momento, porém, considera queo investimento não faz sentido, disse o presidente da companhia aérea, Jerome Cadier, em entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele afirmou ainda que tem acompanhado diariamente o noticiário envolvendo o negócio. "É minha obrigação avaliar oportunidades, mas até agora não achamos ser um investimento que valha a pena. Entretanto, isso não quer dizer que no futuro não possa valer."

Cadier disse que a Avianca tem em seus slots (autorizações de pousos e decolagens) ativos valiosos, citando os aeroportos de Guarulhos e Congonhas, terminais nos quais essas autorizações já estão esgotadas.

Ele disse também que a Latam apresentou sua objeção ao plano de recuperação judicial da rival como credora - a decisão, afirmou, não está relacionada a qualquer interesse na aquisição da Avianca. "A objeção foi feita como credor, para defender os R$ 2,8 milhões (que tem a receber). Não vemos no plano elementos que nos façam acreditar que vamos reaver esse dinheiro."

Cadier expressou decepção também com as idas e vindas no processo que desencadeou a recuperação judicial da Avianca e seus desdobramentos posteriores, citando o descumprimento da Convenção da Cidade de Cabo, protocolo internacional que rege as relações comerciais das empresas de leasing de aeronaves com financiadores e companhias aéreas. Um dos efeitos temidos por Cardier é uma eventual alta do preço do leasing de aeronaves para as áreas brasileiras.

"Quando a Avianca protocolou a recuperação judicial, diria que o processo seria mais rápido e pintaria um cenário muito distante do que realmente aconteceu", disse, lembrando as disputas em várias instâncias da Justiça entre a empresa e os arrendadores, envolvendo ainda a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). "Isso tudo nos tem forçado a analisar quase que diariamente as mudanças de cenários, para entender como nos posicionar".

Estadão
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