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'Abaixo os burocratas' é novo mantra do autor de 'A Lógica do Cisne Negro'

Autor de best-sellers internacionais, Nassim Nicholas Taleb vem ao Brasil para criticar estruturas de governo e pregar descentralização econômica

5 set 2019 - 12h10
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O autor marca a entrevista bem cedo, às 7h30. A agente quer restringir a conversa a seis perguntas, ou uns dez minutos. Ela se pergunta se Nassim Nicholas Taleb, conhecido pelo best-seller A Lógica do Cisne Negro, vai esquecer o compromisso. Lembra que ele está em Nova York e que são 5h30 por lá. "Será que ele acordou?", pergunta-se. "Sim, eu acordei", responde, de supetão, a terceira voz da conferência.

A conversa começa, em ritmo acelerado - afinal, são apenas dez minutos. Perguntas rápidas preparadas para cumprir a restrição, reforçada por assessores internacionais e brasileiros. A primeira é sobre a teoria do Cisne Negro. Antes que a questão seja feita, Taleb interrompe e diz não estar interessado em falar sobre a discussão de eventos imponderáveis que vendeu tantos livros.

Lembra que não é homem de um sucesso só - lançou, posteriormente, títulos como Antifrágil e Arriscando a Própria Pele, também disponíveis no Brasil. Prefere falar do tema que deve dominar sua palestra em São Paulo, nesta sexta-feira, 6: a importância da descentralização da economia.

Nascido no Líbano em 1960, Taleb é autor, ensaísta e estatístico. Filho de uma família proeminente de políticos libaneses, deixou o País na época da guerra civil, iniciada em 1975. Estudou na França e depois migrou para os EUA, onde trabalhou com capital de alto risco e gerenciou fundos de investimento. Antes de se tornar best-seller, fez fortuna no mercado financeiro.

Taleb vem ao Brasil para o 6.º Fórum Liberdade e Democracia, cujo "line-up" ainda incluirá Guilherme Benchimol (fundador da XP Investimentos), Gustavo Montezano (presidente do BNDES) e a empresária Cristiana Archangeli (do programa Shark Tank Brasil).

Sem burocracia

O discurso de Taleb, que fará a palestra de encerramento, vai focar em dois temas caros ao governo Jair Bolsonaro: a defesa da descentralização da economia e a crítica à burocracia estatal, vista como vilã do desenvolvimento econômico.

"A centralização das decisões faz as coisas parecerem boas por algum tempo, mas dura uns cinco ou dez anos, no máximo", diz Taleb, citando como exemplo a União Soviética (que, na verdade, existiu por quase sete décadas). Ele vê forte tendência de centralização no Brasil - lembrando que o País gosta de colocar "brás" em quase tudo. "A ideia de 'tudo Brás' parece boa no papel, e não estou dizendo que não tem seus méritos. Mas não dura muito."

Em um momento de polarização, Taleb evita simplificar o problema entre esquerda e direita. "Vejo as coisas de maneira diferente. Separo entre as tendências de centralizar ou descentralizar (a economia)", diz. Cita como grave o caso da França. "No início do século 20, entre 5% e 10% do Produto Interno Bruto do país era ligado ao governo. Hoje, varia entre 60% e 80%, dependendo de como se contabiliza a educação."

Para o autor, os chamados "burocratas" - pessoas que trabalham na engrenagem governamental e fazem de tudo para proteger a máquina pública - não cumprem uma função real na sociedade. Citando um de seus livros, ele diz que esses profissionais "não arriscam a própria pele". "Não é como um dentista, um encanador ou mesmo um agente", diz, lembrando que, em comum, todas essas pessoas dependem de clientes para sobreviver.

Para ele, estruturas de gestão inchadas - como a da União Europeia - são de forma geral muito pouco abertas à inovação. "Os burocratas não têm uma urgência (de sobreviver). E, por isso, não têm contato com a realidade. Eles nunca tiveram um emprego de verdade."

Na visão do escritor e palestrante, Suíça, Hong Kong e Malásia são bons exemplos de países que souberam aplicar bem na prática a descentralização econômica. "Na Suíça, o Estado reteve muito poucas tarefas, entre elas o sistema de trens e o Exército", diz. "E, assim, pôde se concentrar em fazer essas coisas muito bem."

Antes de desligar, Taleb ainda explica que uma mudança na política não quer dizer evolução nas mudanças que precisam ser feitas. Ele considera que Barack Obama tentou centralizar decisões - um erro fatal -, mas diz que a modernização prometida por Donald Trump ficou na promessa. "Ele anda a passos de bebê, anuncia coisas e depois contrata advogados para ficar discutindo a cláusula 23 por seis meses. E nada é feito."

Com o conselho de diferenciar promessas políticas vazias e ação real em relação a uma economia descentralizada, ele encerra a chamada. Depois de 50 minutos.

Estadão
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