A situação na Argentina elevou o risco para a região latino-americana e pode ser uma das razões para a desistência de alguns bancos do processo de privatização do Banespa, sobretudo para os espanhóis, cuja exposição ao país vizinho é a maior entre os bancos internacionais. "Fica mais difícil para os bancos espanhóis explicarem para os seus acionistas uma nova aquisição (o Banespa) na região", disse por telefone à Agência Estado Brent Erensel, diretor de pesquisa para bancos latinos do Deutsche Bank, em Nova York.No caso dos bancos espanhóis, outra forte razão, segundo Erensel, é a aquisição recente de grandes bancos no México. O BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria SA), que na terça-feira anunciou sua desistência do processo de venda do Banespa, comprou em maio o Bancomer, no México, por US$ 2,4 bilhões. "Eles podem estar querendo primeiramente digerir suas compras no México", afirmou. O Santander, ou BSCH (Banco Santander Central Hispano SA), adquiriu este ano outro dos maiores bancos mexicanos, o Banacci (Banamex-Accival).
Uma fonte do BBVA em São Paulo confirmou que o Banco Central da Espanha recomendou que o banco fique fora do leilão do Banespa. O grupo BBVA tem grande parte de seus ativos na América Latina. Do total de 295 bilhões de euros em ativos, 120 bilhões de euros estão na região. No Brasil, os ativos do BBVA somam R$ 9,362 bilhões.
Segundo um analista de um banco estrangeiro em São Paulo um motivo de peso na desistência do Banespa foi o exame detalhado do data room, que mostrou, por exemplo, créditos cuja origem não são identificadas.
Além disso, esta fonte menciona o grande número de funcionários do Banespa, cujos salários estão acima da média do mercado. "Quem comprar o Banespa terá de fazer um enxugamento drástico", afirmou. Erensel, do Deutsche Bank, concorda. "Os bancos que desistiram não têm experiência em consolidação no mercado brasileiro", explicou.
De qualquer forma, a deterioração na Argentina também contou na decisão dos bancos em relação ao Banespa, segundo a imprensa em Madri e Buenos Aires, que afirma que os bancos espanhóis terão de fazer um aporte de mais de US$ 2 bilhões no pacote de socorro que está sendo organizado pelo FMI para a Argentina.
Segundo o BIS (Banco para Compensações Internacionais, espécie de banco central dos bancos centrais), os bancos europeus, sobretudo os espanhóis, aumentaram sua exposição à Argentina em US$ 3,1 bilhões só no segundo trimestre deste ano. Do total de US$ 68,51 bilhões devidos pela Argentina no fim de junho, US$ 17,744 bilhões representavam empréstimos feitos por instituições financeiras espanholas. A exposição dos bancos espanhóis é bem superior, por exemplo, aos US$ 11,13 bilhões devidos pela Argentina aos bancos norte-americanos, de acordo com o BIS.
Uma fonte do ABN Amro Bank em Buenos Aires estima que o BSCH, que controla o Banco Rio de La Plata SA, possui um total de empréstimos de US$ 6 bilhões para a Argentina e detém US$ 1,9 bilhão em títulos do governo argentino. O BBVA, que na Argentina controla o Banco Francés, teria US$ 6,1 bilhões em empréstimos ao país e mais US$ 1,2 bilhão em títulos do governo em seu poder.
O Citigroup teria empréstimos de US$ 4,7 bilhões e mais US$ 1,4 bilhão em títulos do governo, enquanto o FleetBoston (BankBoston no Brasil) acumula empréstimos de US$ 5,7 bilhões, além de US$ 900 milhões em títulos do governo argentino. Os três últimos bancos - BBVA, Citi e Boston - já anunciaram sua desistência do processo de privatização do Banespa. A participação do Santander ainda é uma dúvida para o mercado.
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