Os bancos estrangeiros estão desistindo do Banespa porque o preço está alto, disse ontem ao Estado, o diretor de Finanças Públicas e Regimes Especiais do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas. Segundo o diretor do BC, o Banespa irá a leilão com cinco bancos no páreo. "Apenas um estrangeiro, entre concorrentes fortíssimos", disse. "O HSBC também vai desistir", disse Freitas. Dessa forma, participarão os quatro grandes bancos nacionais - Bradesco, Itaú, Unibanco e Safra - e o estrangeiro Santander. Para Freitas, o fato de pelo menos dois bancos estrangeiros, o BankBoston e o Citibank, dizerem que a taxa de retorno é baixa, deixa claro que o preço pedido pelo Banespa é alto.
"Se o preço mínimo fosse aviltado ou se estivéssemos entregando de graça o Banespa, não haveria razão para desistirem", explicou. Com isso, segundo Freitas, cai por terra o argumento do o Ministério Público, em Brasília, para impedir a venda do banco.
A desistência dos estrangeiros não preocupa o BC. "O leilão será disputadíssimo." O diretor conta com um ágio alto na venda do banco. Para ele, o Banespa é muito importante e os concorrentes sabem disso.
O diretor do BC não vê razão técnica para a desistência dos estrangeiros. "O problema é realmente preço e oportunidade."
Para o diretor do BC, a liminar dada em São Paulo para impedir a venda do Banespa "foi um ato político". Freitas afirmou que é "absolutamente desnecessária a publicação de um novo edital". Segundo o diretor, todos os participantes conhecem tudo o que envolve o Banespa, inclusive ações, que foram explicitadas em documentos e no data-room.
Espanhóis - A elevada presença dos bancos espanhóis na América Latina e o agravamento da crise argentina podem estar contribuindo para a decisão dessas instituições em não participar do leilão do Banespa. A desistência do BBVA, anunciada terça-feira e o suspense criado pelo Santander, que até ontem não confirmou sua participação reforçam essa tese.
Os bancos espanhóis representavam parte significativa da exposição das instituições internacionais à Argentina ao final de junho. Do total de US$ 68,51 bilhões devidos pelo país, US$ 17,744 bilhões representavam empréstimos feitos por instituições financeiras espanholas, segundo dados do Banco para Compensações Internacionais (BIS).. A exposição dos bancos espanhóis é bem superior, por exemplo, aos US$ 11,13 bilhões devidos pela Argentina aos bancos norte-americanos, O analista Bruno Pereira, do Banco UBS, acredita que os pesados investimentos já feitos na região contribuem para afastar esses bancos da disputa, embora acredite que outros fatores estejam interferindo na avaliação sobre a oportunidade do investimentos.
Pereira disse que as instuições espanholas já investiram fortemente este ano na América Latina. O BBVA adquiriu o Bancomer, um banco privado mexicano, e o Santander comprou o Cerfin, também do México, num leilão bastante disputado com a participação do inglês HSBC. Os bancos espanhóis, segundo o analista do UBS, têm mostrado disposição em investir na América Latina e a crise da Argentina não deve ser interpretada como um fator determinante para a desistência do Banespa.
Há informações também de que o Banco da Espanha, o banco central espanhol, teria enviado um recado ao Santander para que se afastasse da briga do Banespa. O mesmo pedido teria sido feito também ao BBVA que já saiu da disputa.
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