Nova versão de 'Vale Tudo' surpreende com fim trágico para Fátima e Raquel
No desfecho da nova versão, tanto Fátima quanto Raquel são derrubadas pela vida, cada uma à sua maneira
Desde que foi exibida pela primeira vez, em 1988, Vale Tudo marcou a teledramaturgia nacional ao colocar em xeque uma das perguntas mais provocadoras já feitas em horário nobre: "Vale a pena ser honesto no Brasil?". Na obra original de Gilberto Braga, a trama oferecia uma resposta clara — e até reconfortante: a vilã Maria de Fátima (Gloria Pires) caía, enquanto a íntegra Raquel (Regina Duarte) triunfava.
Agora, sob a autoria de Manuela Dias, o remake da novela desconstrói esse ponto de vista, reformulando o desfecho com uma nova perspectiva. Para a autora, não importa se alguém é honesto ou desonesto: o destino será igualmente duro com todos.
Assim como na primeira versão, Fátima (Bella Campos) segue guiada por ganância, mentiras e traições. Sua trama culmina no colapso de todas as alianças que ela costurou ao longo do folhetim. "Ela será desmascarada e expulsa da mansão dos Roitman, grávida de César (Cauã Reymond), que também a abandonará".
A queda começa com a revelação do seu caso extraconjugal, que leva ao fim do casamento com Afonso (Humberto Carrão), à decepção irreversível de Odete (Debora Bloch) e ao desmonte de qualquer vantagem estratégica que Fátima pensava ter conquistado.
Em resumo, Fátima será punida por tudo o que plantou. Só que, no novo enredo, ela não será a única a pagar caro pelos próprios caminhos escolhidos.
O grande choque do remake está no destino de Raquel (Taís Araujo), símbolo de correção e ética desde o início da história. A empresária, que parecia caminhar rumo à consagração, terá seu império destruído por uma jogada implacável de Odete Roitman.
"Odete Roitman, em mais uma de suas jogadas impiedosas, obrigará Celina (Malu Galli) a vender sua parte da Paladar por meio de chantagem". O motivo da pressão é emocional: "Heleninha (Paolla Oliveira), recém-separada e finalmente enfrentando o alcoolismo, não pode sofrer um novo baque ao descobrir a aliança da tia com a sua maior rival". Para protegê-la, Celina cederá, e Odete assumirá o controle da empresa.
"O resultado será trágico para Raquel: despejada da sede da empresa que construiu, ela será colocada para fora por Odete, que fechará a Paladar". Assim, a mulher que sempre agiu com retidão também termina derrotada — recomeçando do zero, exatamente como a filha que traiu todos ao redor.
Ao optar por esse desfecho, Manuela Dias rompe com a lógica moral tradicional das novelas brasileiras. Em vez de premiar o comportamento ético e punir os desvios, a autora apresenta um mundo onde o bem e o mal não garantem proteção contra as quedas.
"Fátima vai penar porque traiu, enganou, mentiu, mas Raquel sofrerá igualmente, mesmo tendo sido correta, ética e justa". A nova abordagem oferece uma visão mais realista — ou até pessimista — da sociedade. "A escolha de colocar ambas em ruína, cada uma por um motivo, transmite uma mensagem mais cética e amarga do que aquela que se viu no final dos anos 1980".