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Waack merece perdão ou deve ter a carreira na TV encerrada?

Destino do âncora do ‘Jornal da Globo’ depende da disposição da emissora em seguir ou contrariar as próprias normas

9 nov 2017 - 18h44
(atualizado às 18h53)
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Há uma linha tênue entre ser racista e se mostrar racista. Não é crime não gostar de negros. Mas desrespeitá-los direta ou indiretamente, sim.

Além da punição criminal, prevista em lei e no Artigo 140 do Código Penal, há a questão ética, ainda mais quando quem discrimina é uma pessoa pública e, pior, um âncora de telejornal.

William Waack no estúdio do ‘JG’: há sempre uma câmera ligada para flagrar o improvável
William Waack no estúdio do ‘JG’: há sempre uma câmera ligada para flagrar o improvável
Foto: Reprodução/Facebook/@JornaldaGlobo / Sala de TV

William Waack pode, hipoteticamente, assim como qualquer pessoa, ser adepto do racismo enquanto ideologia. Contudo, é inaceitável que o verbalize diante de uma câmera de TV.

Ao usar o termo ‘isso é coisa de preto’ no vídeo vazado e viralizado, ele foi não apenas imprudente como ingênuo. Há precedentes que deixaram uma lição: uma câmera nunca está desligada, há sempre alguém gravando.

Quem não se lembra do episódio com o então ministro da Fazenda Rubens Ricupero em 1994?

Ele se preparava para dar entrevista ao vivo no ‘Jornal Nacional’ quando comentou com o entrevistador Carlos Monforte: “Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde”.

A indiscrição não foi ouvida apenas pelos técnicos que estavam no estúdio. Muitos telespectadores de antena parabólica captaram a imagem. Houve repercussão imediata.

Três dias depois da gafe transformada em escândalo, Ricupero se afastou do governo Itamar Franco. William Waack caiu na mesma armadilha: achou que estava ‘fora do ar’ e fez o deboche racista. Deu no que deu.

A Globo ainda nem resolveu um caso ruidoso recente – o afastamento do ator José Mayer, acusado de assediar uma figurinista durante a novela ‘A Lei do Amor’ – e agora precisa resolver o futuro de um de seus principais jornalistas.

A chance de Waack reassumir a bancada do ‘Jornal da Globo’ é mínima. Nos últimos anos, a emissora promoveu campanhas internas para evitar qualquer tipo de discriminação e o bullying entre seus milhares de funcionários.

Pegaria muito mal à empresa perdoar um âncora considerado racista. De outro lado, uma punição mais severa – tirá-lo definitivamente do ‘JG’ e até rescindir o contrato – abre um precedente.

E se começarem a surgir vídeos comprometedores de outros apresentadores? A Globo terá que demitir todos eles?

Em mais de quarenta anos de profissão, William Waack enfrentou várias situações de perigo extremo, como quando foi sequestrado por soldados do ditador iraquiano Saddam Hussein.

Mas nenhuma rajada de fuzil ou estilhaço de granada causaram tanto estrago em sua vida e carreira quanto um comentário de poucos segundos contra um motorista anônimo que buzinava insistentemente.

Décadas de jornalismo competente, várias vezes premiado, agora são implodidas por uma falha moral que afeta a dignidade dos negros, a ética jornalística, as normas da Globo e o politicamente correto.

 O saudoso escritor e jornalista Caio Fernando Abreu disse: “As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra”.

William Waack falou demais – e todo excesso cobra um preço alto. Às vezes, altíssimo.

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