Em novela, gay usa rabo de cobra para funcionar com mulher
Enrustido, ‘Tigrão’ recorre a amuleto africano para transar como hétero em ‘O Outro Lado do Paraíso’
Em tempos de discussão sobre cura gay, um personagem de novela encontrou uma maneira inusitada de ‘reverter’ sua homossexualidade por uma noite.
No capítulo de segunda-feira (13) de ‘O Outro Lado do Paraíso’, o médico Samuel (Eriberto Leão) finalmente ‘compareceu’: após tentativas frustradas, ele transou pela primeira vez com a namorada Suzy (Ellen Rocche).
Remédios convencionais para disfunção erétil não haviam surtido efeito. O psiquiatra só conseguiu reagir à sedução da bela enfermeira chacoalhando um guizo de serpente dado a ele por Mãe (Zezé Motta), a sábia matriarca do quilombo de Pedra Santa.
Diante do espelho do banheiro, Samuel mexe o tal apetrecho e parece entrar numa espécie de transe: “funciona!” Ao voltar para o quarto está com expressão de um garanhão de pornochanchada.
“Nossa, que olhar é esse?”, pergunta Suzy, só de lingerie, lânguida na cama. “Parece uma cobra pronta para dar o bote.” Sem parar de agitar o guizo, o médico pula sobre a loira: “Agora você vai conhecer o bote da cascavel”.
A moça, iludida e já apaixonada, acredita que aquela fúria sexual foi provocada por suas belas curvas. Mal sabe ela que, pouco depois de deixá-la em casa, o namorado vai contratar os serviços de um garoto de programa.
O psiquiatra mantém uma garçonnière onde recebe rapazes com frequência. Durante um encontro com um moreno musculoso, usou robe feminino e passou batom vermelho.
O relacionamento de fachada com Suzy é usado para agradar a mãe, a conservadora Adnéia (Ana Lúcia Torre). A divertida hipocondríaca adora exaltar a virilidade do filho e sempre cobra um neto.
Samuel sente pânico em decepcioná-la e, por isso, ofusca sua homossexualidade a todo custo. Ele vai além: desenvolveu homofobia internalizada. Mesmo sendo psiquiatra, não consegue a autoaceitação.
“Eu odeio ser o que eu sou”, disse ao se consultar com um amigo urologista. “Não sei por que nasci assim. Tenho horror de mim, entende? Nojo de mim, nojo.”
A trama do personagem interpretado com inspiração por Eriberto Leão vai do drama à comédia.
Samuel às vezes é mostrado em cenas tensas, nas quais encara o desconforto com o próprio desejo sexual e a pressão social para ser um macho acima de qualquer suspeita.
Já nas sequências com Suzy e Adnéia, nos jantares que a mãe zelosa prepara a fim de agradar a futura nora, o ‘Tigrão’ até ri do romantismo ingênuo da enfermeira.
Os dois vão se casar em breve. O autor Walcyr Carrasco quer explicitar a realidade oculta de homens com vida dupla.
A sociedade brasileira aceita marido adúltero ou que tenha uma amante, porém, se escandaliza com a homossexualidade ou a bissexualidade.
Há milhares de Samueis por aí: sofrem para parecer o que não são e manter sob sigilo a fonte de seu verdadeiro prazer carnal.
Como escreveu o pai da Psicanálise Sigmund Freud, “é quase impossível conciliar as exigências do instinto sexual com as da civilização”.