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Peça sobre homofobia desafia preconceito e crise econômica

‘Bruta Flor’ entra no sexto mês em cartaz mesmo sem ter patrocínio

12 mai 2017 - 17h08
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O elenco da peça, um momento do espetáculo e o diretor e produtor Marcio Rosario
O elenco da peça, um momento do espetáculo e o diretor e produtor Marcio Rosario
Foto: Ronaldo Gutierrez/Divulgação / Sala de TV

“O teatro não sustenta mais ninguém. Em termos econômicos, morreu faz tempo”, disse recentemente a grande dama dos palcos Fernanda Montenegro, em entrevista à revista ‘Veja’.

Apesar desta realidade cruel e do pessimismo em relação a uma necessária mudança na política cultural do País, ainda há quem ouse produzir espetáculos com a cara e a coragem.

A equipe de ‘Bruta Flor’ acaba de festejar uma vitória simbólica: 50 apresentações. Poucas peças chegam a esta marca, ainda mais quando não têm patrocínio e enfrentam os reflexos de prolongada crise econômica.

A comemoração tem sabor especial já que o texto escrito por Vitor de Oliveira e Carlos Fernando de Barros não é uma comédia rasgada ou um musical – gêneros que atraem mais público do que o drama e o experimentalismo.

Trata-se de uma discussão a respeito de homossexualidade, bissexualidade e homofobia internalizada por um ângulo espiritualista. Grau de complexidade pouco visto na cena teatral brasileira.

Em cartaz no Viga Espaço Cênico até dia 26 (quintas e sextas às 21h), o espetáculo reestreia no dia 31 no Teatro Augusta (Sala Paulo Goulart), com sessões às quartas e quintas às 21h.

O elenco conta com Fabio Rhoden, Walkiria Ribeiro, Erika Farias e Pedro Lemos, que interpretou Tobias na novela ‘Chiquititas’, do SBT.

Foto: Ronaldo Gutierrez/Divulgação / Sala de TV

O diretor e produtor-geral de ‘Bruta Flor’, Marcio Rosario, que atuou em novelas da Globo como ‘I Love Paraisópolis’ e ‘Flor do Caribe’, conversou com o blog:

Os temas polêmicos abordados em ‘Bruta Flor’ espantam muita gente?

Vivemos um período obscuro, com assustadora intolerância nas redes sociais, nas ruas, em todo lugar. O radicalismo de opiniões tem destruído amizades e resultado em muitas vítimas. Falar de homofobia é uma missão social. A arte existe exatamente para isso: expor os problemas da humanidade e gerar reflexão. Não quero apresentar espetáculos apenas para entreter. O meu objetivo é fazer o espectador sair do teatro diferente de quando entrou, mais consciente de quem ele é e da diversidade do mundo no qual vive.

Como vocês se mantêm nos palcos desde novembro?

Sempre usamos muito a internet para divulgar a peça. Conseguimos atingir as mais variadas camadas sociais. E contamos com a indicação de quem já viu o espetáculo e aprovou. Nem sempre temos plateia lotada, mas a média de público garante a continuidade da produção.

A instabilidade política e a crise econômica afetaram a peça?

Tudo afeta o teatro. Somos uma classe totalmente vulnerável às mais variadas questões, inclusive ideológicas, religiosas e até climáticas, já que muitas pessoas cancelam a ida ao teatro se começa a chover. Quando o dinheiro fica curto, a primeira coisa a ser cortada no orçamento é a cultura. Há outro problema: fala-se que o teatro é caro. Na verdade o que existe é uma desvalorização da arte que fazemos. A maioria das pessoas paga caro, e sem reclamar, por supérfluos, mas reclama dos 35 reais de um ingresso teatral. Muitos, mesmo sem ter direito, dão um jeito de pagar meia-entrada. O governo e o público não percebem que, a médio prazo, esse descaso com o teatro vai produzir espetáculos cada vez mais pobres, com menos atores, sem bom cenário, enfim, produções com qualidade proporcional ao pouco investimento na arte.

Alguns atores, como Antônio Fagundes, financiam as próprias peças e lucram. Como funciona esse modelo de negócio?

Acompanhei o processo de montagem de ‘Vermelho’, com o Fagundes e o filho dele, o ótimo Bruno Fagundes. Vi que, quem realmente quer fazer, arregaça as mangas e faz, movido pelo amor à arte e o respeito ao público. Melhor produzir uma peça com sacrifício e ganhar menos do que ficar eternamente à espera de ajuda governamental. No início, eu era apenas o diretor de ‘Bruta Flor’. Com dois meses em cartaz, o produtor principal saiu e me vi na obrigação de assumir o comando geral para não deixar a equipe na mão. O espetáculo se sustenta graças ao elenco, às equipes técnica e de produção, aos colaboradores e apoiadores culturais.  

Muitas peças escalam atores da TV na expectativa de lotar a plateia. A estratégia funciona?

Celebridades atraem público, mas prefiro atores que, famosos ou não, estejam realmente disponíveis para o espetáculo. Toda semana recebo currículos de atores querendo fazer teatro. Mas basta perguntar se estão disponíveis para estudos em grupo e ensaios que a maioria dá uma desculpa do tipo “não tenho tempo mas não se preocupe, na hora faço direitinho”. Não trabalho com ator que desrespeita o próprio ofício.

(Facebook: @brutaflorteatro)

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