A mídia classe média não resiste à sensualidade brejeira
Sucesso de Pietro Baltazar, o Bieber do Vidigal, evidencia a busca da imprensa elitista por brasilidade
De sunga e robe em tecido cor de rosa sedoso, Pietro Baltazar provocou torcicolo coletivo ao desfilar com a firmeza de um general de Exército pela grife Amir Slama na São Paulo Fashion Week.
Ele foi, digamos, a Gisele Bündchen da 44ª edição do evento: a presença mais esperada por fashionistas, fotógrafos, cinegrafistas e caçadores de selfies.
Apelidado de Bieber do Vidigal por conta do cabelo louro ao estilo do cantor canadense, o modelo de 19 anos, saído do famoso morro da zona sul carioca, experimentou o apogeu diante da artilharia de flashes.
Nas últimas semanas, a imprensa do eixo Rio-São Paulo direcionou holofotes ao rapaz de pele bronzeada e beleza rústica.
O fato de ele não ter um biótipo europeu e ser de uma comunidade – eufemismo politicamente correto para favela – o torna exótico aos olhos da imprensa.
E a mídia, ah!, essa mídia classe média adora se deixar seduzir por aquilo que lhe parece excêntrico e afrodisíaco.
Para usar um odioso termo contemporâneo, gosta de objetificar pessoas. E, geralmente, esquecê-las pouco depois.
Além de efervescer o mundinho fashion, o modelo também virou galã-fetiche num clipe de Anitta, a cantora-sensação.
Aliás, dois tipos bem brasileiros em destaque em sites, revistas, jornais e TVs que preferem idolatrar a aparência nórdica.
Num País predominantemente miscigenado, Pietro Baltazar conseguiu romper barreiras sociais e conquistar fama e prestígio representando a mistura étnica da maior parte da população.
O que seria convencional, é exceção.
A pergunta incômoda: Pietro Baltazar veio para ficar ou apenas está sendo usado para ilustrar esta temporada e suprir a ausência quase crônica da tal brasilidade na imagem da moda nacional?
Talvez seja uma questão desimportante e o melhor a fazer, então, é apreciar as passadas firmes e largas do rapaz, ao invés de tentar dissertar a respeito da esquizofrenia entre a elite e o morro, a grande mídia e o povão, a realidade das ruas e as representações eleitas pela cúpula da moda.
Afinal, “o Estado deve fazer o que é útil; o indivíduo deve fazer o que é belo”, escreveu o dramaturgo Oscar Wilde, criador de Dorian Gray, personagem condenado a pagar um preço alto pelo desejo de ser eternamente jovem e bonito.
A beleza, como se vê, é o que importa. O resto é mimimi.