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Os bastidores do Eco-Challenge Fiji com Bear Grylls

Confira os “segredos” da corrida mais difícil do planeta em um bate-papo com o mestre da sobrevivência, competidores e com Lisa Hennesy

17 ago 2020 - 09h00
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Foram 11 dias ininterruptos de pura adrenalina e emoção. Mas os 330 competidores, dos mais de 60 times, representando 30 países ao redor do mundo, mostraram só uma parte do que significou participar da corrida de aventura mais difícil do planeta, a World’s Toughest Race: Eco-Challenge Fiji, que, após um hiato de 17 anos, retomou com uma edição emocionante e inspiradora. Para falar sobre os bastidores do programa, o Terra participou de uma coletiva de imprensa virtual e conversou com o apresentador Bear Grylls, a showrunner e produtora executiva Lisa Hennessy, e membros dos times Team Khukuri Warriors (Índia), Team Summit (Espanha), Team Endure (EUA), Team Onyx (EUA).

Eco-Challenge Fiji é uma jornada para times resilientes: são 11 dias, 24 horas sem parar, até o limite da força humana
Eco-Challenge Fiji é uma jornada para times resilientes: são 11 dias, 24 horas sem parar, até o limite da força humana
Foto: Divulgação

Para mais detalhes, confira a seguir a entrevista:

Você poderia comentar um pouquinho mais sobre como foi a rotina das filmagens? Qual foi a parte mais difícil para vocês?

Bear Grylls: Acho que é interessante dizer como foi difícil para todos trabalhar no programa. Claro que muitos focam na corrida e nos times, e no que eles estão passando. Mas foi maravilhoso ver os bastidores e o que é preciso para montar algo dessa escala. A gente tinha 300 competidores, mas a equipe tinha um total de 1000 pessoas. E quando você acrescenta os paramédicos, os pilotos de helicóptero, os voluntários… E isso por 11 dias, eu tenho que dizer que era muita coisa. Eu tenho que dizer que eu não relaxei, eu não descansei até que todos estivessem de volta em casa, seguros. E eu acho que na World’s Toughest Race, há a sensação de que há tantas pessoas envolvidas, tanto perigo, tanta coisa pode dar errado, então, com certeza, há o sentimento de que até que a última pessoa cruze a linha final, nós não podemos relaxar. Mas as pessoas que realmente passaram por dificuldade, foram os times, o que eles enfrentaram, foi realmente uma inspiração. 

Lisa Hennessy: Os bastidores é como um exército de pessoas que montam essa produção. Então nós temos que fazer um grande esforço para trabalhar na logística, a segurança dos times, e claro, a cobertura do evento. E passar por centenas de quilômetros e por 120 vilarejos. Então, o começo de todo esse processo foi conseguir a aprovação de cada vilarejo, cada chefe de cada vilarejo, então a gente trabalhou na logística. Então a gente tinha 40 equipes de câmeras, cobrindo a expedição inteira, para que a gente pudesse montar o programa, que a gente transformou em 10 episódios desse documentário, dessa série. Cada passo desse caminho foi realmente grandioso desde a pré-produção, produção até a pós-produção. 

O que foi mais desafiador para você, trabalhar com atletas profissionais no Eco-Challenge ou com celebridades no Celebridades à Prova de tudo?

Bear Grylls: Acho que eu teria que responder Celebridades à Prova de Tudo, porque eles são inexperientes e raramente passaram por algo como isso antes. Mas no Eco-Challenge, você tem que se lembrar que nós pegamos os melhores aventureiros e times do mundo, e para isso, nós temos milhares de inscrições, representando diferentes países, e eu acho que essa dinâmica, de unir o mundo, todo mundo competindo e representando um país, o que coloca certo poder nisso, ver o último resistir, no seu limite humano, correndo por 11 dias, sem parar, 24 horas por dia. 

Eu não esperava chorar o tanto que eu chorei assistindo ao show, porque tem tantas histórias inspiradoras. Você tem um momento favorito?

Lisa Hennessy: Não estou brincando, eu estou começando a chorar agora mesmo só de pensar no senhor Mark Macy. Essa história me tocou desde o começo. Eu tenho sorte de ter trabalhado em todos os Eco Challenges, e eu o conheço desde o começo, ele tem competido em todos os nossos eventos, ele é um humano extraordinário. Então quando ele me ligou, um ano antes da corrida, e disse, Lisa, eu tenho notícias, ‘eu fui diagnosticado com Alzheimer, mas eu não vou competir com os Stray Dogs, eu quero competir com o meu filho Travis, você está de acordo?’ Então nós, obviamente, como organizadores do evento, tivemos que determinar se isso estaria de acordo, pensando na segurança dele, e nós concordamos, nós dissemos pra ele que o queríamos de volta. Então desde o começo dessa história, até agora, quando ele me manda mensagem, dizendo como isso é importante pra ele, pensando no legado dele, para mim, ele representa o espírito do Eco Challenge, e o espírito de um caráter maravilhoso, e eu acho que tantas pessoas podem se inspirar e se relacionar com isso, porque é uma história de um pai e um filho, e é uma história de muita força, e de tentar superar uma situação muito difícil, como uma família, como um time, e essa história me mudou, de verdade, honestamente, eu sou uma pessoa muito sensível, eu estou tão impressionada por ele, e tão inspirada por ele, e eu espero que as pessoas que assistam ao programa sintam o mesmo. 

Com uma história tão inspiradora, como vocês esperam influenciar quem está assistindo ao show e pensando em participar da competição, mas não tem certeza que são capazes?

Team Endure (Travis Macy):  Acho que um grande aprendizado da corrida, do World's Toughest Race é que as pessoas são capazes de fazer muito mais do que eles pensavam que seriam. Então se você estiver interessado em um evento como esse, bom, só tome o primeiro passo. E talvez isso signifique que você saia para a sua primeira corrida de bicicleta, ou para a sua primeira vez no paddle board. Só saia e comece, um passo de cada vez. Você não vai conseguir todas as habilidades da noite pro dia, mas se você se comprometer, se você fizer um pouco por dia, você vai conseguir chegar lá. E outra dica que eu daria é que todos nós precisamos de ajuda. E isso é algo que a gente vê nessas corridas. Todos nós tivemos a oportunidade de pedir ajudar. Então peça ajuda. Peça para as pessoas em sua volta. Se você estiver no Brasil, tem uma comunidade incrível de corredores. Encontre algumas dessas pessoas, e consiga apoio deles. Vá atrás de um treinador que é especialista. Peça pela ajuda deles e você realmente pode conseguir. Você não precisa começar logo de cara pela WTR, você pode começar pequeno. 

As gêmeas Malik com os membros do team Khukuri Warriors, o primeiro da Índia a representar o país
As gêmeas Malik com os membros do team Khukuri Warriors, o primeiro da Índia a representar o país
Foto: Divulgação

Esse foi o primeiro Eco Challenge  para vocês, mas não foi o primeiro desafio. Vocês foram as primeiras gêmeas a escalar o Everest e os Sete Cumes. O que foi mais difícil para vocês? E vocês voltariam a competir no Eco Challenge de novo?

Team Khukuri Warriors (Nungshi Malik): Foi, sem sombra de dúvida, o Eco- Challenge, sendo o desafio mais difícil que a gente já encarou até agora. E para responder a sua pergunta, a primeira coisa que passou na nossa cabeça depois que a corrida terminou foi se a gente competiria de novo ou não. E eu me lembro de pensar e me dizendo: ‘nunca mais, nunca, nunca, nunca.’ Mas mais para o fim, quando os organizadores da corrida disseram, muito animados, ‘vejo vocês ano que vem!’, eu lembro de responder de cara: ‘sim!’ Sim, claro, a gente volta no ano que vem. Eu acho que pensando retrospectivamente, durante a corrida, a gente pensava que era aquilo, que seria a primeira vez e a última que a gente participaria, mas por causa das lições inestimáveis e de todas as reflexões que a gente fez, ao lado de atletas do mundo todo, que tinham histórias incríveis, nós fomos inspiradas a embarcar nessa aventura de novo. E sobre o momento mais desafiador, eu diria que foi a fase 1, que compreendia em navegar, que era nosso ponto mais fraco, e onde nós mais sofremos, junto com a parte do ciclismo, que a gente estava muito nervosa, porque era nossa primeira vez numa bicicleta, enfrentando aqueles percursos com lama, depois de horas de chuva, pra gente foi extremamente difícil, e, honestamente, a gente estava com muito medo dos tubarões. Todo mundo em Fiji diz que os tubarões são vegetarianos, eu não sei o quanto disso eu poderia acreditar, então eu estava constantemente preocupada com o que eu poderia ver debaixo d'água. Foi o meu pior medo. 

Coree Woltering, do team Onyx, o primeiro time afro-americano a participar do Eco-Challenge
Coree Woltering, do team Onyx, o primeiro time afro-americano a participar do Eco-Challenge
Foto: Divulgação

Para vocês também a corrida não foi só sobre a competição. Teve um significado bastante especial. Como você espera inspirar as pessoas? Acha que eles podem se inspirar a participar mais desses tipos de evento?

Team Onyx (Coree Woltering): Sim. Quer dizer, não sei se necessariamente nesses tipos de evento, mas em uma escala menor, sim. Mas sim, nós fomos o primeiro time todo afro-americano a participar do Eco Challenge, e ainda, nós temos membros da LGBT comunidade. E eu acho que era só uma das coisas que a gente gostaria de destacar, que sim, há pessoas negras que gostariam de estar lá, ativos, fazendo atividades extremas, e também há pessoas gays que gostariam de estar fazendo esse tipo de coisa. Então, para mim, pessoalmente, eu não tinha esse modelo quando eu estava crescendo, eu não via pessoas que se pareciam comigo, mesmo em corridas, nem abertamente gays, e então, se a gente tem a plataforma para colocar essa mensagem no mundo e mostrar para as pessoas que elas podem fazer, isso é vitória logo ali.

Team Onyx (Clyfton Lyle): Sim, eu concordo. Acho que uma coisa que nós trazemos nessa corrida é que a nossa mensagem é universal, como o Coree disse, a comunidade LGBTQ+, pessoas de cor, os afro-americanos, pessoas com descendência africana, nós estamos no mundo todo. E não tem muitas crianças e adultos têm a oportunidade de ver pessoas que se parecem como eles, fazendo algo como isso. Então, para mim, foi algo definitivamente que eu queria ver uma criança vendo isso, e dizer, sabe? eu posso fazer isso. Eles fizeram isso, então eu também posso fazer isso. Um adulto que fale, isso é muito legal. Eu nunca tentei isso antes, eu quero fazer isso. E só inspirar as pessoas a ter vidas mais saudáveis e mais felizes. Acho que realmente é o nosso objetivo. Se você nunca for a estrela de um Eco Challenge, tudo bem, mas com um pouco de esperança, eles podem encontrar algo que possa conectá-los com algo que eles queiram fazer. 

Mark e Travis Macy, do time Endure, dos EUA, emocionaram com sua história
Mark e Travis Macy, do time Endure, dos EUA, emocionaram com sua história
Foto: Divulgação

Como era a atmosfera entre os times?

Team Endure (Travis Macy): Nessas corridas, elas são tão difíceis que você tem que trabalhar junto, você vai ver que mesmo os que estão no topo, eles vão se ajudar um pouco. Talvez eles vão se ajudar com a navegação, talvez eles vão dividir um pouco da comida, eles vão apoiar um ao outro. Muitas dessas pessoas estão competindo nessas corridas por muitos anos, e então todo mundo meio que conhece todo mundo. A gente conhece os pontos fortes e fraquezas e nós também sabemos o bastante pra entender que vamos precisar de ajuda, e nós vamos ajudar os outros não só porque é a coisa certa a se fazer, mas também porque nós sabemos que vai voltar pra gente. A camaradagem entre as equipem é um grande aspecto da corrida e pra mim é um dos pontos mais ricos dessa experiência. É um grande e duradouro aprendizado sobre relacionamentos. 

Team Endure (Mark Macy): Eu concordo com o Travis, nós todos ficamos juntos até certo ponto, especialmente os caras mais velhos, como eu, que competiram juntos por décadas, e ainda competimos juntos. E nós fazemos tudo que podemos para ajudar uns aos outros, mesmo que a gente ainda esteja tentando ganhar ou ter bons resultados na corrida. Tem homens e mulheres que eu conheço que estiveram em todas as corridas, e estamos todos juntos, e eu adoro vê-los nessas corridas. É uma ótima comunidade para todos nós.  

Team Summit (Albert Roca) : Normalmente as equipes não latinas são mais sérias e mais concentradas. Os latinos estão sempre brincando.

Team Summit (Emma Roca): Compartilhando e ajudando. 

Team Summit (Albert Roca): Exatamente.

Team Summit (Emma Roca): A gente também fez bastante amizade com os times não latinos, com os americanos, neozelandeses, porque a gente tem competindo por 20 anos. Então para gente é uma grande família. Então quando você encontra alguém, você quer saber como eles estão antes da corrida, durante a corrida também. Quando você chega nos acampamentos você pergunta por eles, não a posição do time, mas como eles estão se sentindo, porque para a gente é uma grande família. Mesmo sendo uma competição, você está sofrendo por você, mas também por eles, porque você os conhece muito bem. 

Emma Roca, do team Summit, com Bear Grylls
Emma Roca, do team Summit, com Bear Grylls
Foto: Divulgação

Tem vários times diferentes no show, tem os com atletas profissionais, tem os times com a família, irmãs, idosos, o que você acha que é preciso para vencer essa corrida?

Bear Grylls: Acho que para vencer essa corrida você precisar ter um time incrível. Antes de tudo, e acima de tudo, é um evento para um time. Há poucas corridas na Terra que se um dos membros da sua equipe desiste, você está fora dela. Esse é o espírito do World's Toughest Race. Você tem que encarar a competição juntos. Vocês são mais fortes juntos, nós vimos times vencer ou falhar por causa dessa dinâmica. Quando você vê que funciona é algo maravilhoso, é inspirador. Então eu acho que em primeiro lugar, você tem que ter um time incrível, depois você tem que ter resiliência. Eu acho que acima de tudo, resiliência, você tem que ter aquela determinação de nunca desistir, você precisa ter great navigation skills, porque não tem GPS, é old style, com bússola, mapas, e você tomando decisões quando está cansado, com fome e sem dormir, e por último, você precisa de um pouco de sorte também. Não há dúvida sobre isso, para completar ou para ganhar essa corrida, não importa o quão bom você seja, se as vezes você não tem sorte, para completar você precisa de um pouco de sorte no momento certo. 

Se você fosse mudar algo nesse programa o que você mudaria?

Bear Grylls: Ir para Fiji foi maravilhoso, aquela diversidade tropical, contribuiu tanto para o programa. Mas eu adoraria ir para um lugar remoto, frio extremo, para uma próxima vez. Porque isso desafia as pessoas para uma dinâmica completamente diferente. E mesmo para essas equipes que foram tão bem em Fiji, eles seriam desafiados novamente. 

Você tem planos para fazer uma próxima edição no Brasil? Já considerou essa possibilidade?

Lisa Hennessy: Neste momento nós estamos esperando para ver como Fiji vai ser, mas, claro, como produtores internacionais, nós estamos sempre de olho para novas locações. Eu já estive no Brasil algumas vezes, acho que é um lugar lindo. Eu passei o ano novo em Jericoacoara, o que foi incrível, então eu sou uma grande fã do Brasil, acho que é uma locação incrível, mas estamos esperando pelos resultados do Eco-Challenge em Fiji e então vamos começar a procurar por novas locações no mundo. 

Fonte: Redação Terra
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