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Taylor Swift: fãs encaram chuva, assalto e rixa de barracas em acampamento no Allianz. 'Cansa, viu?'

Estreia da artista no Brasil está marcada só para novembro, mas grupo de 'swifties' devotos já espera abertura dos portões desde janeiro, com esquemas de revezamento

3 jun 2023 - 15h44
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Desde janeiro, Jéssica Araújo, de 29 anos, tem trocado o aconchego e o calor do seu lar no bairro do Grajaú, zona sul de São Paulo, pela calçada fria, suja e por vezes molhada do Allianz Parque, zona oeste paulistana, onde montou sua barraca. Não, ela não fugiu nem foi expulsa de casa. A morada "ocasional" na rua é um esforço espontâneo que a designer mantém para garantir o primeiro lugar da fila que dará acesso aos ingressos e a disputada "grade" para o primeiro show de Taylor Swift no Brasil, anunciado na última sexta-feira, 2, e marcado apenas para novembro.

"Cheguei aqui quando surgiu o primeiro boato de que ela anunciaria o show, em janeiro. Mas cansamos porque não saía nada oficial e fomos embora em março. Quando os rumores voltaram essa semana, voltei com a barraca", conta Jéssica, "swiftie" (como são chamados os fãs de Taylor) que desde a quinta-feira, 1º, tem se revezado com outras 44 pessoas para manter o espaço guardado.

Na tarde deste sábado, 3, Jéssica dividia o turno com a irmã, Larissa de Arra, de 22 anos, e as amigas Letícia Costa e Nathalia Eloiza, de 23 e 22 anos, enquanto passavam o tempo com uma partida de Uno regada a chá gelado sem açúcar e salgadinhos.

Não é a primeira vez que elas acampam para a fila de um show ali, tradição que começou em 2017 pelo Justin Bieber e se manteve nos anos seguintes para artistas como Billie Eilish, Ariana Grande, Harry Styles e BTS.

A operação segue uma série de regras da barraca e do acampamento. No grupo das meninas, cada uma precisa acampar ao menos duas vezes por semana e os menores de idade precisam apresentar boletim de rendimento escolar, autorização dos pais e não podem ficar até depois das 18h. Ao final, a fila entre o grupo de 45 pessoas é organizada com base no "saldo" de horas gastas no acampamento.

Ao longo da semana, as meninas enfrentaram chuva e uma delas teve o celular roubado no turno da noite. Para ir ao banheiro, recorrem ao Shopping Bourbon ou ao posto de gasolina, na madrugada. Quando precisam acordar e ir direto para o trabalho, tomam banho em um hotel da rua Clélia, onde pagam de R$ 20 a R$ 30 pelo uso do chuveiro. "Cansa, viu? Se tem uma coisa que estamos é cansadas", conta Jéssica.

Os pais, as meninas contam, já não reclamam mais da ideia de que elas passam meses acampadas nas ruas de São Paulo. "Minha mãe já se acostumou. Como somos maiores de idade também, acho que não tem muito o que falarem", diz Nathalia.

Em nota enviada à reportagem, a Time For Fun, empresa responsável pela venda dos ingressos da The Eras Tour, diz que "não recomenda a prática de acampamento devido ao intenso fluxo de eventos na região, como outros shows musicais e jogos de futebol".

'Todo mundo quer ser B1'

Apesar de os membros das 14 barracas estarem acampados em torno da mesma paixão por Taylor Swift, a relação entre eles não parece ser sempre amigável. "Isso dá muito problema, porque todo mundo quer ser B1?, diz Jéssica.

B1 é o nome dado à primeira barraca da fila. Acampado na B2 desde fevereiro, Daniel Farraboti, de 23 anos, reclama que a regra é cada grupo ter no máximo 30 membros para se revezarem, e não 45, como as meninas da frente. "Aí que mora a conversa… Elas vão ter que mudar isso", avisa.

A comunicação entre os grupos é feita pelo WhatsApp, em uma conversa com todos os "líderes" de cada barraca. Apesar das picuinhas, muitos acabam fazendo amigos, unidos pela devoção a Taylor Swift. O grupo de Daniel divide a B2 entre 20 pessoas, entre elas Laura Santos, de 20 anos, que ele conheceu online antes do acampamento, em um grupo dedicado à cantora.

Dona do portal Taylor Swift Daily Brasil, Laura tinha comprado ingressos para o primeiro show da artista por aqui, em 2020. A apresentação, entretanto, foi cancelada por causa da pandemia e os clientes que já haviam garantido a entrada naquela época agora têm acesso a uma pré-venda especial, que começa na terça-feira, 6.

Mesmo com esse acesso prévio, Laura justifica sua presença no acampamento, onde pretende ficar só até garantir o ingresso: "Quando sabemos que tem muita gente, dá medinho, né?".

Esse "medinho", entretanto, não é injustificado e faz parte do fenômeno global que se tornou a The Eras Tour de Taylor Swift. Nos Estados Unidos, as entradas se esgotaram tão rápido na pré-venda que o episódio provocou uma audiência no Senado para discutir o monopólio que a Ticketmaster exerce sobre as vendas de ingressos e formas de garantir que o fiasco não se repetisse.

No Brasil, a expectativa é ainda potencializada pelo cancelamento do show de 2020 e pelo fato de que as apresentações no Rio e em São Paulo serão a primeira chance que os fãs daqui terão de ver Taylor Swift. A artista só visitou o País em outra ocasião, quando veio divulgar o disco RED, em 2012. Daquela vez, entretanto, preferiu focar em entrevistas e participações na TV ao invés de fazer um show.

"Nunca tivemos show dela aqui. Eu finjo que ela nem veio ao Brasil", diz Jéssica, que admite acompanhar a cantora há 12 anos, "quando ela ainda era da roça" e cantava country.

É difícil prever se a passagem de Taylor Swift no Brasil vai repetir o caos da turnê americana. Por lá, até os prefeitos das cidades onde a artista tem passado embarcaram em uma disputa de egos para agradar a cantora, rebatizando os municípios, parques e decretando feriados em sua homenagem. Independentemente do que possa acontecer, os fãs da artista estão fazendo o que podem para não dar chance ao acaso.

Estadão
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