Na noite da última quarta-feira, quem assistiu ao show de Simone Mendes no São João de Irecê viu mais do que uma performance musical: presenciou um reencontro com o passado.
Diante de 260 mil pessoas, a cantora, hoje consagrada no sertanejo, retornou à cidade onde um dia caminhou como anônima, acompanhando a avó pelas ruas em busca de roupas simples, em tempos de luta e escassez.
Ao pisar no palco da festa junina, um dos maiores eventos populares da Bahia, Simone não conseguiu conter a emoção. Os olhos marejados não foram encenação: era genuína a gratidão de quem conheceu o chão antes de tocar as estrelas.
"Ô, Irecê! O coração da gordinha não aguenta. Poxa, que emoção poder estar aqui, que alegria poder pisar nessa terra. Quantas memórias eu tenho!", disse, com a voz embargada, antes mesmo de soltar a primeira nota.
Simone abriu espaço no repertório para dividir com o público lembranças vívidas de uma infância marcada por humildade, mas também por afeto. A figura da avó Ailza apareceu como centro das memórias.
Juntas, elas enfrentaram tempos difíceis, em que a ida a Irecê era sinônimo de necessidade e não de festa. Hoje, com a cidade inteira a seus pés, a artista transformou aquele palco em altar de vitória.
Simone Mendes: O poder de voltar como protagonista
Voltar como estrela principal à cidade que testemunhou os dias de dificuldade tem um sabor que poucas conquistas oferecem. Simone, que construiu seu nome primeiro na dupla com a irmã Simaria e depois seguiu carreira solo com notável sucesso, tem mostrado nos últimos anos que seu talento vai além da música.
Ela tem também o dom raro de se comunicar com o público pela verdade e foi essa verdade que moveu Irecê naquela noite.
A multidão não apenas cantou junto, como vibrou com cada palavra, reconhecendo na trajetória da cantora um pedaço da própria história. A Bahia, que tantas vezes empresta suas raízes ao Brasil musical, mais uma vez foi cenário de uma celebração emocional, na qual o sucesso não apaga as origens, mas as exalta.
Em tempos em que narrativas são cuidadosamente construídas, Simone escolheu a sinceridade. Fez de seu passado um ponto de partida e não de vergonha. Mostrou que é possível carregar cicatrizes com orgulho e que o brilho de um artista no palco pode e deve vir iluminado por lembranças reais, humanas.
No fim da noite, entre canções, lágrimas e aplausos, uma certeza ecoava entre os presentes: Simone não voltou apenas à Bahia. Voltou para si mesma. E nos lembrou, com sua história, que ninguém cresce sem lembrar de onde veio.