Porrada de amor: Terra faz radiografia do bate-cabeça no Rock in Rio
Rodas são ambientes cheios de energia que explode em empurrões, socos, tapas; mas é tudo (quase sempre) no amor
Os críticos do line-up do Rock in Rio 2013 têm certa razão: a mixórdia musical faz do festival um evento pitoresco. É de fato esquisito Ivete Sangalo tocando em um festival que leva em seu RG o nome de rock. E é evidente que isso atrai ao festival um público muito mais interessado no evento do que na experiência musical. O Rock in Rio não é um festival para se descobrir artistas, mas para se festejar carreiras.
Mas é inegável que, quando se trata de heavy metal (e suas variantes), a história é completamente diferente. Se alguém acusa os frequentadores de serem 100% “coxinha”, nunca foi aos dias mais roqueiros. Durante os sete dias de Rock in Rio 2013, a reportagem do Terra frequentou a pista dos shows mais pesados com uma missão: traçar um raio-x deste público tão fiel que varava noites na fila, enchia a Cidade do Rock muito antes da noite chegar, e ainda passava o dia agitando.
Pogo, bate-cabeça, ou simplesmente roda. Seja lá qual for a denominação mais correta, a agitação dos metaleiros é vista por muitos como um ato selvagem, violento. Mas o que é impossível de ignorar é que, para os fãs de metal e punk rock, a adrenalina causada por essa música se traduz em trombadas, esbarrões, empurrões, chutes e cotoveladas.
O curioso é que, apesar de todas essas agressões, uma roda quase nunca é um ambiente de violência. As pessoas estão lá, na maioria das vezes, para extravasar. E só. Como fazer isso sem ser violento nos socos e pontapés? Aí é que está o mistério do bate-cabeça. Há um espírito intrínseco de celebração coletiva quando uma roda é aberta durante um show. E seus ocupantes partilham deste mesmo sentimento.
É claro que é em muitas rodas que nasce uma briga. E durante os sete dias de shows, a reportagem do Terra testemunhou algumas: normalmente logo depois de um empurrão levado para o lado pessoal e retribuído com força desmedida. Em 100% das situações que presenciamos as brigas foram rapidamente apartadas por amigos e outros frequentadores anônimos do pogo que não conheciam sequer os envolvidos. E o espírito festivo do bate-cabeça prevalecia.
E vimos também o extremo oposto acontecer. Foi assim logo no segundo dia de festival, quando um jovem chamado Luis Felipe, sem uma das pernas e de muletas entrou na roda aberta no fim do show de Marky Ramone, ao som de Blitzkrieg Bop. Ele levou trombadas e também empurrou, cantou, girou e foi tratado por todos como igual.
Ou ainda durante a apresentação do Krisiun, no mesmo Palco Sunset, neste último domingo de festival, quando um cadeirante foi erguido – com cadeira e tudo – pela massa acima de todos. Uma espécie de camarote bate-cabeça.
A conclusão é que as rodas são ambientes cheios de energia que explodem em empurrões, socos, tapas. Mas é tudo (quase sempre) no amor.