"O hip hop está muito superficial", diz integrante do Cypress Hill
- Bruna Carolina Carvalho
Se tem algo que o Cypress Hill não tem medo de fazer é misturar. O grupo de hip hop, que foi muito conhecido nos anos 90 - no Brasil, principalmente pelo hit Insane in the Brain, - está de volta ao País para uma apresentação única nesta segunda-feira (4), no Credicard Hall (SP), na qual dividirá o palco com a banda Deftones.
Mas essa não é a primeira vez que o grupo formado por amigos na Califórnia realiza um trabalho em parceria com bandas e músicos do rock n' roll. Sonic Youth, Pearl Jam e Tom Morello, do Rage Against The Machine, já tocaram com o Cypress Hill ou fizeram participações em seus álbuns.
Em entrevista ao Terra, o cubano Sen Dog, um dos integrantes, falou sobre a necessidade de recriação em um grupo que está há mais de 20 anos na estrada, sobre o grau de maturidade que o Cypress Hill alcançou depois desse tempo e ainda criticou o hip hop atual. "A maior parte do hip hop hoje em dia está muito superficial. É o que eu chamo de 'glam rap', assim como era o 'glam rock' nos anos 80. Está muito glamouroso agora", disse.
Confira a entrevista na íntegra:
Terra - Vocês já fizeram parcerias com Pearl Jam e Sonic Youth e agora dividirão o palco com o Deftones no show em São Paulo em 4 de abril. Pode falar um pouco dessa influência do rock n' roll no trabalho do Cypress Hill?
Sen Dog - Nós sempre tivemos uma influência do rock n' roll e essas parcerias aconteceram naturalmente. Nós trabalhamos com vários músicos do rock, como Tom Morello (Rage Against the Machine). Desde os tempos de criança, nós gostamos de rock n' roll e sempre foi muito natural que fizéssemos isso. É por isso que trabalhamos com Sonic Youth, Pearl Jam e Rage Against The Machine. Porque é natural que o fizéssemos.
No álbum Rise Up, vocês tocaram com Tom Morello, como você disse, e também com Mike Shinoda (Linkin Park). Podemos esperar parcerias como essa no próximo álbum, Cannabis Dream?
As parcerias do nosso novo álbum serão diferentes da parceria do álbum Rise Up, porque não queremos fazer a mesma coisa duas vezes. Não seria nenhum problema tocar com Mike Shinoda e Tom Morello por diversas vezes, mas não estaríamos fazendo nada de diferente. Para o próximo álbum, vocês podem esperar por colaborações especiais. Mas quem serão? Eu ainda não sei, mas podem esperar por boas surpresas.
Vamos falar um pouco do novo show. Vocês tocaram no Brasil em 1996 no Close Up Festival. Vocês subiram no mesmo palco que o Sex Pistols e Bad Religion na ocasião. Aliás, lembra de alguma coisa desse show?
Para falar a verdade, bem pouco.
Vocês vieram para cá alguma outra vez depois de 1996?
Que eu me lembre, não.
E para esse show, do dia 4 de abril, o que podemos esperar de novo em relação a 1996?
Uma performance mais forte e mais marcada em relação a 1996. Naquele ano, nós tínhamos apenas quatro ou cinco anos de idade e não sabíamos as coisas que sabemos hoje sobre performance, gravação, apresentação. Estamos mais experientes e nosso trabalho está diferente. Em partes do show, temos mais energia. Tem horas que o público participa mais, em outras a apresentação é feita para ser assistida. Nós estamos mais experientes agora, estamos há 20 anos no jogo. Temos um melhor desempenho e iremos fazer o que amamos, que é estar com o público. E faremos isso com maior confiança. Nós sentimos que somos melhores no palco agora do que éramos em 1996.
Vocês sempre foram conhecidos por ser um grupo com uma forte influência latina. Qual é a sensação de tocar em países da América do Sul?
Eu estou muito feliz e muito agradecido, porque sou de origem latina e tenho muito orgulho disso. É muito especial. Era uma coisa que queríamos muito fazer. Estar na América do Sul é algo muito especial para nós.
Conhece algum grupo ou músico de rap ou hip hop brasileiro?
Não, na verdade, não. Nunca tive a oportunidade de entrar em contato. Quando for ao Brasil, é algo que vou ter a chance de fazer: conhecer artistas e pessoas envolvidas com a música.
Se pudesse escolher um cantor ou banda de rock com a qual você nunca tocou junto para fazer um show, qual seria?
É uma boa pergunta. Gostaria de gravar com Lenny Kravitz. Acho ele um artista múltiplo e gostaria de tocar com ele.
É muito diferente da música que vocês fazem...
Sim, é sim. Mas assim é melhor. Quando você coloca junto dois artistas diferentes, desenvolve algo que nenhum dos dois fizeram antes. Algo diferente. É o que nós buscamos: desafios na música. Porque, se você não desafia, todo álbum será igual. Nós buscamos melhorar a cada gravação.
Cypress Hill está há 20 anos na estrada. É difícil renovar ou se manter depois de tantos hits de sucesso, como Tequila Sunrise e Insane in the Brain?
Para nós, não é difícil continuar a fazer o que gostamos de fazer. Até porque, nós amamos. E somos irmãos, somos uma família. Nós temos muito orgulho do nosso legado musical e sentimos que ainda podemos fazer músicas de impacto que alcancem o mundo todo. Nos damos bem, temos força de vontade, fazemos coisas que as pessoas gostam e não temos nenhum motivo para parar de fazer o que fazemos.
Qual é a sua opinião sobre o hip hop de hoje em dia?
A maior parte do hip hop hoje em dia está muito superficial. É o que eu chamo de "glam rap", assim como era o "glam rock" nos anos 80. Está muito glamouroso agora. Essa coisa de carros, diamantes, strip clubs...E eu não me importo com glamour. Nós sempre vestimos camisetas.
Consegue elencar um nome que representa bem o hip hop atualmente?
Eminem é um exemplo de alguém que representa o hip hop muito bem.
Você tem outra banda, a SX-10, que mistura metal com rap e faz isso desde os anos 1990. Podemos considerar Sen Dog como a principal influência rock 'n roll no Cypress Hill?
Eu sempre quis muito que isso acontecesse e nós fizemos uma tentativa para que o Cypress Hill ficasse mais "pesado", e acho que funcionou muito bem. Fui muito insistente para que tentássemos misturar com rock n' roll. Sempre estive muito ligado ao mundo do rock e do heavy metal. Sempre fez parte de mim esse gosto pela recriação, principalmente no hip hop e no rock n' roll.
Show Cypress Hill e Deftones
Local: Credicard Hall - Av. das Nações Unidas, 17.981 - Santo Amaro - SP
Vendas pelo telefone: 4003-5588
Apresentação: 4 de abril (segunda-feira)
Horário: 21h30
Classificação etária: a partir de 16 anos desacompanhados