"Não vemos o fim do Little Joy", diz baterista do Strokes
Não se trata só de uma pequena alegria, não. Para o ex-hermano Rodrigo Amarante (vocais, guitarra e teclados) e o baterista dos Strokes, Fabrizio Moretti (vocais e guitarra) - além da namorada de Moretti, Binki Shapiro (vocais e teclados) - o Little Joy é algo pleno, bem mais do que uma brincadeirinha que os dois músicos mantêm enquanto suas bandas titulares não voltam à ativa.
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E quem conhece músicas como Don't Watch Me Dancing e No One's Better Sake apenas do CD homônimo de estréia (ou do MySpace) pode conferir nesta sexta no Circo Voador o resultado, ao vivo, do encontro de músicos de duas das bandas (cada uma na sua proporção) mais importantes do rock recente. Com direito a um filhote do indie rock abrasileirado na abertura, a banda cearense Cidadão Instigado, do guitarrista Fernando Catatau.
"Nossa dedicação ao Little Joy não tem nada a ver com o recesso dos Strokes ou o fim do Los Hermanos. E, da mesma maneira, não vemos o fim do Little Joy" diz Moretti, que em breve volta aos estúdios com os Strokes para a gravação do quarto CD.
Apesar de a sonoridade de Los Hermanos e Strokes bater ponto em alguns momentos do debute, o trio quer estabelecer seu próprio som, regado a mesclas de indie rock, folk e até skazinhos com vocais doo-wop. Ao vivo, a mistura ganha direito a incluir poucas e bem escolhidas covers, como This Time Tomorrow (The Kinks) e Walking Back to Happiness (de Helen Shapiro, cantora e atriz teen dos anos 60 que não tem parentesco algum com Binki). E até uma música nova, que, no melhor estilo obra-em-progresso, aparece nos shows. Mas ainda nem ganhou nome.
"Ninguém nunca nos pediu que tocássemos músicas dos nossos grupos", conta Amarante. "Acho que entendem que seria rude pedir isso. E quem compra ingresso para o Little Joy não está querendo ver nenhuma das duas bandas, né?".
A mudança de patamar é algo que ambos os músicos vêem com alegria e até certa abnegação. Tanto Strokes quanto Los Hermanos, cada um em sua seara, são bandas para grandes festivais, grandes platéias. Assim como os Strokes planejam seu retorno definitivo ainda para este ano, os Hermanos serão a banda de abertura dos concorridos shows do Radiohead no Brasil, em março.
O LJ, por sua vez, tem feito um caminho que lembra mais o começo das bandas principais de seus músicos: shows para platéias menores, com direito a pegar a estrada de van, no clima do underground europeu e americano. Em Paris, num clube chamado La Maroquinerie, recebeu um público de cerca de 500 pessoas. Para Amarante, uma maravilha.
"É uma sensação renovadora subir no palco sem saber o que vai acontecer, começar de novo. Temos que conquistar o público aos poucos, cada pessoa que vai ao show para ver se gosta ou se não da gente. Para mim e para o Fabrizio tem sido ótimo", diz Amarante, que, com apenas uma música em português no repertório (Evaporar, composta originalmente para o CD Lanny duos, do guitarrista tropicalista Lanny Gordin, lançado em 2007), encara também a novidade de estar recomeçando fora do Brasil.
"Tem sido muito importante para mim, como pessoa e como músico, tocar em outro país, para platéias pequenas e para pessoas que não me conhecem".
Além do núcleo do Little Joy (que tirou seu nome de um barzinho perto da casa onde se reuniam para trabalhar, no bairro de Echo Park, Los Angeles), o grupo conta, no palco, com os amigos Todd Dahlhoff (baixo), Noah Georgeson (guitarra e teclados) e Matt Romano (bateria). O trio toca com o cantor americano Devendra Banhart, além de formar a banda americana The Dead Trees, que já fez shows de abertura para o Little Joy em alguns cantos do mundo. E também integram uma turma grande, a qual Moretti e Amarante pertencem. Os dois, que já gostavam bastante da música um do outro (os Hermanos chegaram a tocar Last Nite, primeiro grande hit dos Strokes, em vários shows), tornaram-se amigos quando suas bandas foram escaladas para o mesmo festival em Lisboa, em 2006. A partir daí, começaram a dividir experiências sobre vários assuntos.
"Na noite em que a gente se conheceu ficamos batendo papo sobre tudo, menos sobre música. E fomos assim até o dia raiar. Nos conhecemos e o resto foi afinidade instantânea", recorda Amarante, dizendo que tal relacionamento é o responsável por boa parte do clima relaxado e descontraído da música que produz com Moretti. "Sem amizade, interesse genuíno e admiração, não dá pra compor junto da forma como a gente fez. Encontramos uma grande parceria um no outro".