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Escândalos sexuais mancham a imagem da indústria do K-pop

No centro do escândalo está Lee, do grupo Big Bang, conhecido como Seungri, e a boate Burning Sun, da qual é em parte proprietário

2 ago 2019 - 17h25
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SEUL - Ídolos caídos, vítimas angustiadas, fãs se sentindo traídos e carreiras arruinadas. Este é o custo, até agora, dos escândalos sexuais que vêm abalando o mundo reluzente do K-pop, força motriz da exportação musical da Coreia do Sul. Alguns dos grandes nomes dessa indústria foram acusados nos últimos meses de drogarem e estuprarem mulheres e administrarem uma rede de prostituição. Muitos dos acusados negam as acusações.

Mas isto não abafou o choque sentido pelos fãs do K-pop - a maioria meninas adolescentes - que têm boicotado seus heróis na que se tornou uma versão sul-coreana do movimento #MeToo. Mais de 200.000 pessoas assinaram petição dirigida ao gabinete da presidência do país exigindo uma investigação completa do caso.

A desonra está forçando os sul-coreanos a abandonarem sua concepção bem estabelecida da indústria de música local que criou uma base global de fãs das suas estrelas jovens e da sua imagem bem apresentada e cuidadosamente cultivada.

"Não consigo acreditar que o meu ídolo explorava mulheres de maneira tão escabrosa e degradante", disse Cho Yeon-joo, que admirava o grupo K-pop chamado Big Bang e chegou a faltar às aulas para assistir aos seus concertos.

Notícias de crimes sexuais envolvendo o cantor do Big Bang, Lee Seung-hyun, acabaram com uma década de amor que Cho nutria pela banda, disse ela.

O K-pop - uma combinação de danças sincronizadas, trajes cintilantes, músicas atrativas e sua performance no palco - é extremamente popular na Coreia do Sul e também a principal marca cultural do país.

Mas as acusações contra os cantores ameaçam a imagem de pessoas inofensivas que tornou o K-pop tão entusiasmante.

Os danos à ideia de uma indústria de reputação ilibada deve abalar a imagem do Hallyu como um todo, declarou o jornal JoongAng Ilbo em um editorial em março, usando o termo para a chamada onda coreana de produtos que abrangem até regimes elaborados para cuidar da pele. As ações de empresas de entretenimento listadas em bolsa mais expostas ao escândalo despencaram à medida que as acusações começaram a ser noticiadas.

No centro do escândalo está Lee, do grupo Big Bang, conhecido como Seungri, e a boate Burning Sun da qual ele é em parte proprietário, situada no bairro de Gangnam, em Seul. Os promotores alegam que o clube era um refugio para uso de drogas e que ele oferecia serviços de prostituição para clientes VIP.

Lee é investigado com base em acusações de prostituição, uso de drogas para abusar de mulheres e de filmá-las praticando atos sexuais sem o consentimento delas. O caso foi remetido aos promotores no mês passado, mas não foi anunciada nenhuma data para início do processo legal.

"Devia ter agido com mais responsabilidade" disse ele ao público em um concerto no início do ano. "Espero que vocês desfrutem do show...Sou grato a vocês e me desculpem".

O escândalo se ampliou, abrangendo inúmeros artistas de k-pop, que supostamente participavam de um grupo de chat na Internet que compartilhava vídeos de atos sexuais, segundo informou a mídia sul-coreana.

E outras estrelas do K-pop, incluindo Roy Kim, cantor e compositor que se formou recentemente na Universidade de Georgetown, estão sendo investigadas pela polícia sul-coreana por compartilharem uma foto explícita no grupo de chat.

"Em primeiro lugar peço desculpas aos meus fãs e ao público por causar preocupação", disse Kim a jornalistas em abril. "Eu enfrentarei com confiança a investigação".

O diretor executivo da gravadora de Lee, YG Entertainment, renunciou ao cargo no mês passado e também se desculpou junto aos fãs depois de ser acusado de encobrir as acusações contra cantores do selo. A polícia também afirma que ele aliciou prostitutas para investidores estrangeiros.

O escândalo também vem provocando um debate nacional sobre a situação das mulheres em uma das sociedades da Ásia mais desiguais em termos de gênero. A Coreia do Sul está em 115º lugar numa lista de 149 países listados no relatório sobre Global Gender Gap do Fórum Econômico Mundial, publicado no ano passado, que mede as disparidades de gênero no campo da participação econômica, educação, saúde e capacitação política.

Os atos praticados por essas estrelas do K-pop, recorrendo a drogas para induzir a prostituição são "um exemplo flagrante de como as mulheres são rotineiramente tratadas como commodities sexuais na cultura machista chauvinista da Coreia do Sul", disse Kwon-Kim Hyun-young, focada em estudos sobre as mulheres e professora visitante na Universidade Nacional de Artes da Coreia.

"As garotas na Coreia do Sul crescem admirando e amando as boy-bands K-pop. O comportamento misógino dos rapazes do K-pop que desfrutam de apoio popular e financeiro de seus fãs, a maioria mulheres, é uma hipocrisia chocante e um ato de traição", disse ela.

Em maio, centenas de mulheres se reuniram diante da boate Burning Sun exigindo uma rigorosa investigação do escândalo. As organizadoras da manifestação acusaram a YG Entertainment de lucrar com uma rede de boates que sistematicamente abusou e explorou mulheres.

Em resposta à petição enviada ao presidente Moon Jae-in, o delegado de polícia Min Gab-ryong, afirmou que a força policial que ele comandou realizou uma investigação durante três meses para acabar com crimes contra mulheres, o que levou a 920 prisões. A polícia "continuará a adotar medidas rígidas para reprimir comportamentos ilícitos que são de preocupação imediata no tocante à segurança das mulheres", afirmou.

Cho, hoje com 26 anos de idade, afirmou que tem lembranças carinhosas do grupo dos seus anos de adolescência. Mas que nunca mais enxergará seus antigos ídolos da mesma maneira.

"As boy bands ainda são esplêndidas. Mas os escândalos sexuais em que se envolveram me deixaram tão traumatizada que nunca mais voltarei a gostar delas", disse ela.

Estadão
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