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Morre aos 94 anos o novelista sírio Hanna Mina, que narrava a vida dos pobres

O escritor narrava a vida dos pobres e oprimidos em dezenas de livros, sendo um dos primeiros autores árabes a empregar o realismo social

22 ago 2018 - 00h21
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O escritor sírio Hanna Mina, considerado um dos expoentes da literatura árabe no gênero romance, morreu na terça, 21, aos 94 anos, segundo meios literários e de imprensa em Damasco. A causa da morte não foi informada. Ganhador de vários prêmios de literatura árabe, incluindo o respeitado Naguib Mahfuz, Mina narrou a vida dos pobres e oprimidos em dezenas de livros, sendo um dos primeiros romancistas árabes a empregar o realismo social.

Nascido em 9 de março de 1924 na mediterrânea província de Latakia, foi um dos escritores sírios mais lidos na atualidade, por causa de sua habilidade em se conectar com o leitor com seu estilo próprio, original, cheio de força. De origem humilde, Hanna trabalhou em vários atividades quando jovem. Foi barbeiro, marinheiro até começar a publicar histórias em jornais sírios. Seu primeiro romance, The Blue Lamps, é de 1954. Sem preparação acadêmica, ele é autor de 36 romances, alguns deles publicados em vários países europeus, entre os quais a Espanha.

Suas obras mostram uma engenhosa técnica narrativa, como em A Ãncora, Faróis azuis e História de Um Marinheiro e muitas têm o mar como tema, como em seu livro mais famoso, A Vela e a Tempestade. A carreira de Mina durou meio século e vários de seus trabalhos foram adaptados para cinema e TV.

Bassam Frangieh, professor de árabe no Claremont McKenna College, na Califórnia, que traduziu o romance O Sol em um dia nublado, de Mina com Clementina Brown, chamou-o de "figura majestosa" na literatura árabe. "Hanna Mina sempre se colocou ao lado dos pobres contra os ricos, contra a corrupção", garantiu Frangieh. "Ele estava liderando uma revolução literária em seus escritos, para criar uma nova consciência do povo árabe."

Sun on a Cloudy Day, de 1973, capturou a essência do trabalho de Mina e seus argumentos centrais contra o imperialismo e a opressão, lembrou Frangieh. Conta a história de um jovem sírio que se rebela contra sua família de elite na época em que França detinha o controle administrativo da Síria. Foi uma fase de realidades políticas inconstantes: o Império Otomano havia sido dividido após o fim da Primeira Guerra Mundial, e a Síria não obteve independência até 1943. A família do homem é decadente e alinhada com os franceses. Procurando por um professor, ele se dirige a uma área pobre da cidade, onde encontra um professor que também é um nacionalista. Ele se apaixona por uma prostituta que mora no porão do professor, escandalizando sua família. "O tumulto interno desse homem espelha o tormento político de uma nação devastada e ocupada", observou um crítico.

O outro trabalho de Mina traduzido em inglês, Fragments of Memory, é um romance semiautobiográfico sobre uma família pobre e problemática na zona rural do norte da Síria, também durante o controle francês. Quando a indústria da seda entra em colapso por causa de novas tecnologias e importações baratas, as vidas precárias da família já são levadas a uma turbulência ainda maior.

Ele nasceu em uma época de grande mudança social e política", afirmou Cathia Jenainati, professora da Universidade de Warwick, na Inglaterra, que estudou o trabalho de Mina. "E ele passou toda a sua vida escrevendo sobre maneiras pelas quais a justiça social podia ser alcançada na Síria."

Estadão
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