Lições de um professor, consultor e escritor: Daniel Scott e o segredo do sucesso no empreendedorismo
Daniel Scott abre sua trajetória pessoal e de trabalho e fala sobre como superar os desafios do empreendedorismo e alcançar a liberdade financeira e profissional
Pedimos ao guru do empresariado brasileiro, Daniel Scott, considerado um dos maiores especialistas em gestão do país, que partilhasse um pouco da sua história e da sua trajetória pessoal e profissional. Ele conta que sua família sempre foi muito tranquila, de classe média, católica. "Nunca tive muito luxo, mas também nunca passei necessidade", recorda. Daniel estudou Economia na PUCRio e fez mestrado em Administração na FGV, também do Rio de Janeiro. "E como toda boa família carioca, meus pais e avós são servidores públicos. Assim, fui treinado, desde cedo, a ser servidor também. A ideia era sair da faculdade, fazer um concurso público, e enquanto isso, dar aulas, porque eu sempre quis fazer isso", relembra. No entanto, Daniel teve uma decepção depois do mestrado. "Embora tenha sido o melhor aluno de estatística, vi que o coordenador do curso trouxe a namorada dele para ser professora no meu lugar. Entendi que não era isso que eu queria viver". Paralelo a isso, ele ganhou uma bolsa de estudos para uma pós-graduação em empreendedorismo, na Espanha. Foi lá que teve contato com o meio do empreendedorismo. Como contrapartida pela bolsa, trabalhou em uma missão de consultoria no Vietnã, focada em médias empresas. Depois, voltou para o Brasil e um amigo da faculdade lhe propôs sociedade em construtora. "Fomos empreender no Mato Grosso do Sul, na fronteira com a Bolívia, em 2014. Foi a primeira empresa que eu abri. Depois vendemos as operações da construtora, voltei a trabalhar com consultoria e abri minha própria empresa de consultoria, na qual trabalho até hoje, além de atuar na intermediação de negócios entre empresas.
Para ele, o empreendedor no Brasil é um grande guerreiro, que todos os dias lida com burocracias, tentando descobrir quais impostos tem que pagar, enfrentando vigilância sanitária, fiscais batendo à porta, insegurança em relação à criminalidade, muitas incertezas, processos trabalhistas... "Tudo isso acaba desanimando. É muito mais prático e garantido fazer um concurso e ter uma certa estabilidade", desabafa. E continua: "Hoje nossas maiores mentes estão focadas em fazer concurso, não em criar coisas novas e gerar empregos. A pessoa que empreende é aquela que tem essa coragem, essa resiliência merece admiração". Daniel percebe que os grandes desafios hoje do empreendedorismo envolvem não somente a parte do Estado, de burocracia ou da parte jurídica, mas também aqueles relacionados à gestão, especialmente de pessoas. "O que eu mais converso hoje com empreendedores é que a contratação é muito difícil, a escassez de mão de obra é a maior queixa dos empresários. A parte de marketing também é um desafio. Para divulgar o seu negócio, você precisa conhecer o meio. Nem sempre a pessoa fez uma faculdade que ensinou a fazer marketing, a precificar o produto, a fazer um roteiro de venda. O empreendedor é um multitarefa", avalia. Segundo ele, a grande vantagem é a liberdade. "É poder construir a partir da sua visão, ter liberdade de criação, liberdade geográfica, de tempo, financeira, poder montar seus horários, sua rotina, trabalhar onde quiser, dependendo do negócio. Essa é a beleza do empreendedorismo. Associo o empreendedorismo à liberdade".
Educação e execução
Criador e mentor CS Group, desde 2017, Scott percebeu no mercado de venda de serviços que para escalar é preciso separar o serviço em duas etapas: a educação e a execução. Na consultoria, ele explica, é preciso primeiro educar o cliente sobre a necessidade de obter a mentoria, entender o que será construído, as técnicas de gestão que existem para, daí sim, executar e obter resultados. "Geralmente uma empresa de consultoria vende isso tudo em um pacote só. Eu decidi separar. Primeiro eu vendo a educação, para depois executar a consultoria. Ficou muito mais fácil vender meus projetos". A partir disso, surgiu o CS Group, uma escola de negócios, que transformou a consultoria em educação e já treinou mais de 20 mil empresários em termos de gestão, marketing, liderança e vendas.
O perfil do bom gestor
Em suas palestras, Daniel fala sobre o que é imprescindível quando o assunto é gestão e o que não pode faltar no perfil de um bom gestor. "Já conversei com os maiores empresários do Brasil e com pequenos empresários, donos de lojinhas de bairro. O que eu vejo é que não existe um padrão entre pessoas que deram certo", esclarece. "Gosto de usar o exemplo do Junior Durski, fundador da Rede Madero, um amigo que admiro muito. Ele acorda todos os dias às 4h, joga tênis, faz natação e depois se foca 100% no negócio. Madero é uma empresa totalmente centralizadora. Eles produzem 97% de tudo o que é vendido nas lojas. Não tem franquia, são todas unidades próprias ou pouquíssimas são. Mas tenho outros exemplos, como o Hilston Guerim, da Mais 1.Café, que é um cara que não tem essa rotina de acordar cedo. Tudo o que eles vendem na loja não é produção própria. Das 700 lojas não tem nenhuma unidade própria. Então não existe padrão em termos de horário, modelo de centralização ou produção. O que existe não é ideia de um milhão de reais, é execução de um milhão de reais. Não adianta ter uma ótima ideia, um ótimo produto, se não executar, se não tiver consistência", destaca. Daniel conta que produz conteúdo todos os dias da sua vida há 10 anos, sempre com esforço e dedicação, vontade de querer fazer a prática deliberada. "Não basta fazer todo dia a mesma coisa. É preciso querer melhorar sempre. E tem gente que não quer melhorar. Pessoas que dão certo são aquelas que ouvem o feedback, querem evoluir e são determinadas", define.
Como identificar o potencial de uma startup
Questionado sobre os critérios utiliza ao decidir investir como anjo em alguma startup, Scott afirma que o primeiro deles é o background dos fundadores: o que já fizeram, que resultado obtiveram, como eles se comportam, se têm vontade de crescer ou se estão no negócio só para fazer dinheiro, se já superaram obstáculos na vida. Também analisa o potencial de escalabilidade do negócio, o quanto consegue escalar para outros mercados, o quanto consegue crescer em termos de faturamento e usuários sem ter que aumentar proporcionalmente os custos para isso. Igualmente analisa o setor dessa empresa, para ver se está no oceano azul ou vermelho, se tem expectativa de explodir ou se está quase "morrendo". "E o mais importante: avalio o GMV (Gross Merchandise Value) dos clientes dessa startup. Trata-se do valor que esses clientes têm dentro do próprio ecossistema, qual o potencial de eles darem retorno em algum outro mercado ou modelo de negócio. Os grandes negócios que surgem são aqueles com os quais se ganha dinheiro não através do próprio cliente, de uma mensalidade ou assinatura, mas oferecendo outros serviços para esse cliente".
Demanda como palestrante
Dentre suas diversas atividades, Daniel também é muito requisitado para dar palestras pelo país e pelo mundo. A que mais me pedem é "o dia que o recreio terminou", em que conta um pouco da sua história de vida e o que aprendeu. "Dentro dessa história, trago 10 pontos de virada de chave que tive e me ensinaram algo como empreendedor". O consultor também tem uma palestra de modelo de negócios, onde fala da sua metodologia para os clientes de consultoria, de como implementar uma gestão profissional em um negócio, a partir dos oito passos do marketing, da gestão de processos, de pessoas e financeira. No entanto, acaba adaptando as palestras às necessidades do cliente ou para o tipo de evento.
Brasil, um país de empreendedores?
Para Daniel, as pessoas querem ter retorno, ganhar dinheiro, mas sem ter risco, sem explorar coisas novas. "Querem ter estabilidade e dinheiro. Isso não existe. Ouro só tem valor porque é raro. Quanto mais você se tornar raro para alguém, para alguma empresa, mais dinheiro você pode ganhar. Hoje no Brasil não falta trabalho. Tem trabalho em excesso; talvez falte emprego. Quem quer ganhar mais ou ter algo que os outros não têm, precisa fazer o que os outros não estão fazendo. É obvio que tem risco. Todo empresário já passou por altos e baixos, isso faz parte do jogo". E conclui que ter uma empresa não é algo para qualquer pessoa. "Nem todo mundo nasceu para empreender. Pelo contrário. É preciso ter pessoas trabalhando para quem empreende. E isso não significa que não vão fazer dinheiro. Conheço muita gente CLT que ganha bem. Mas são pessoas que entregam muito valor, muito resultado, que correm riscos na carreira, que estudam, aprendem. Quanto maior o risco que a pessoa corre, mais dinheiro pode fazer. Nem sempre vai compensar, mas é a única oportunidade", avalia.
"Pessoas que dão certo são aquelas que ouvem o feedback, querem evoluir e são determinadas", define o consultor.
Na Comunidade Scott, Daniel há acompanhou muitas histórias de superação, de pessoas que começaram do zero com ele e hoje relembram a caminhada. "Teve um rapaz que me mandou uma mensagem de direct há um tempo, desmotivado, pensando até em se suicidar. Eu respondi dando dicas, leituras. Três anos depois ele me escreve dizendo que criou um negócio e está faturando 5 milhões por ano. E que foi aquela mensagem que respondi que fez ele chegar ali. Tem muita história assim", destaca. E encerra: "As motivações que levam as pessoas a criarem seus negócios é algo impressionante. Networking é isso: se conectar com as pessoas, agregar valor a elas. Às vezes estamos muito preocupados em fazer dinheiro e ter resultado hoje, mas é uma construção. O que tenho hoje é porque eu construí no passado".