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Par de Glória P. em filme, Miranda Otto fala sobre homossexualidade e Oscar

A atriz australiana vive a poeta norte-americana Elizabeth Bishop no longa 'Flores Raras', do cineasta brasileiro Bruno Barreto

17 ago 2013 - 09h16
(atualizado às 09h28)
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Miranda Otto é Elizabeth Bishop em Flores Raras, filme de Bruno Barreto
Miranda Otto é Elizabeth Bishop em Flores Raras, filme de Bruno Barreto
Foto: AgNews

Assisti ao filme Flores Raras, que estreou nessa sexta-feira (16) no Brasilno último dia 5. Na tela, Miranda Otto, conhecida por viver Eówyn na trilogia O Senhor dos Aneis, dá vida à introvertida poeta norte-americana Elizabeth Bishop. Poucas horas depois, ainda com a imagem da atuação da estrela na cabeça, entrei em uma das salas do hotel Staybridge, em São Paulo, para entrevistar a atriz australiana. Ao ser recebida com um sorriso de orelha a orelha e uma conversa trivial, cheguei a estranhar. No filme, Elizabeth sorri pouquíssimas vezes e é extremamente relutante a se abrir com as pessoas ao seu redor. As personalidades entre atriz e persongem são tão distintas, que reforçam toda a qualidade do trabalho de Miranda. 

"Gosto de viver pessoas reais, porque a realidade é muito mais estranha do que a ficção. Quando você lê uma história real é tão rico. Porém, acho que a parte mais difícil é a responsabilidade que você tem em retratar aquela pessoa, em dar toda a integridade que ela necessita. É muito difícil. A parte legal é que você tem muito material para usar e faz pensando que ela gostaria de ser retratada assim", contou a atriz, que não conhecia a obra ou a história de Elizabeth Bishop antes de ser convidada por Bruno Barreto para integrar o elenco do filme. 

Apesar de pensar como a poeta gostaria de ser retratada, Miranda não teve a oportunidade de ter opinião de familiares de Bishop, já que ela não teve filhos, irmãos e os pais morreram ainda jovens. "Eu não tive ninguém que realmente conheceu ela para me dizer o que achou. O interessante é que eu estava trabalhando em outro filme e o produtor desse filme, seu pais eram poetas e a conheciam muito bem. Além disso, a diretora de arte desse filme também a conhecia. Eu fiquei meio: 'finalmente, eu conheci alguém! Porque eu não te conheci um ano atrás?!'", divertiu-se.

"O pai dela morreu quando ela tinha uns nove anos e a mãe foi levada para um hospital psiquiátrico quando ela tinha a mesma idade. Ela não tinha irmãos e irmãs. Tem uma história, de quando ela e outras meninas decidiram ir fugir da escola, quando eram adolescentes, e elas acabaram encrencadas, foram parar na delegacia. Elizabeth não tinha ninguém para ligar. As mães das outras meninas apareceram para buscá-las. Mas ela estava totalmente sozinha, não tinha para quem pedir ajuda", explicou.

Transformação

Elizabeth Bishop e Miranda Otto (à dir.)
Elizabeth Bishop e Miranda Otto (à dir.)
Foto: AgNews

Flores Raras se passa entre as décadas de 50 e 60 no Rio de Janeiroquando Bishop morou no País com a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares. Por isso, é possível ver as protagonistas passando por uma longa transformação tanto na aparência, quanto na personalidade, algo que espanta o espectador. Questionada sobre como foi esse processo, Miranda Otto afirmou que foi extremamente "desafiador".

"Foi uma transformação bem longa, são 15 anos. Eu li muito sobre a vida dela e ela era muito amargurada quando resolveu atravessar o oceano. Estar no Brasil, longe das dificuldades que ela tinha nos Estados Unidos, se apaixonar, estar em um lugar em que alguém cuidava dela, em que ela tinha uma casa, construir tudo isso na vida dela a fez mais forte como pessoa. Tínhamos um cuidado nas falas, para dizer coisas que estivesse condizentes com aquela época em que estávamos. Foi muito desafiador viver alguém por vários anos da vida dela, dos 40 aos 55, foi diferente. Definitivamente, desafiador, mas muito excitante", disse.

Miranda Otto é Elizabeth Bishop em Flores Raras, filme de Bruno Barreto
Miranda Otto é Elizabeth Bishop em Flores Raras, filme de Bruno Barreto
Foto: AgNews

Interpretando Bishop

Para se preparar para um personagem cheio de complexidades, Miranda fez questão de ir atrás de livros que pudessem lhe mostrar quem era de fato Elizabeth Bishop. Eu li esse livro, Remembering Elizabeth Bishop, que são entrevistas com pessoas que a conheceram, pessoas que contam suas experiências com ela. E essas pessoas a leram de formas tão diferentes, porque conheceram-na em épocas diferentes também.  Mas também os que a conheceram na mesma época tinham sensações diferentes sobre ela. Era uma visão tão complexa sobre ela", relembrou.

"Eu decidi que eu trabalharia em um poema dela a cada dia. Achei que essa seria uma boa forma. Quanto mais você lê poesia, mais ela se revela. Eu acho a poesia dela maravilhosa", opinou. Questionei Miranda Otto sobre o que mais lhe encantou sobre Bishop. "Sempre gostei de personagens reservados. Eles são mais difíceis de interpretar, mas eu gosto. Quando eu li o roteiro, achei Elizabeth uma pessoa difícil de se deixar conhecer. O script já indicava que ela era uma pessoa difícil de se mostrar. Acho que foi  isso que mais me chamou a atenção nela, me fez ficar interessada. Esse mistério que ela tinha. Quando você olha as fotos dela, tem algo que prende sua atenção. Tinha alguma coisa abusada na maneira em que ela sorria. É como se ela tivesse uma vida secreta", afirmou.

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Oscar

Bruno Barreto, diretor do longa, aposta que o filme, que já ganhou alguns prêmios de público em festivais de cinema em Berlim, San Francisco e Los Angeles, tem grande possibilidade de estar entre os indicados ao Oscar 2014, principalmente na categoria Melhor Atriz. Miranda comemora a possibilidade, mas tenta não se animar demais.

"Tento não ficar ansiosa. Será maravilhoso se isso acontecer, se o filme receber essa atenção. Soa delicioso, mas...é, eu tenho um compromisso com o pessimismo, para não ficar desapontada (risos). Esse personagem é forte o bastante para estar nesse tipo de premiação", afirmou, citando uma frase do filme.

Ao falar da temática homossexual e o fato de Ellen DeGeneres, que foi uma das primeiras celebridades a se assumirem gays publicamente, ser apresentadora da cerimônia, Miranda afirmou que isso pode ser positivo para o filme. "Eu acho que as pessoas estão muito abertas no momento, acho que as pessoas querem mudar", opinou a atriz, que se prepara para estrelar a série Rake, nos Estados Unidos

Fonte: Terra
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