'Ninja Assassin' é mais um filme ruim sobre ninjas
- Mick LaSalle
À longa lista de coisas de que o mundo não precisaria ver em ainda maior número -falências bancárias, aquecimento global ou um belo adolescente que vire Frankenstein no próximo filme da série Crepúsculo-, "maus filmes com a palavra 'ninja' no título" é uma categoria que deveríamos acrescentar. Nenhum desses filmes jamais foi bom, e o retrospecto com certeza será mantido no caso de Ninja Assassin, um filme que atinge um apogeu tríplice de ruindade: sangue demais, tédio demais, repetição demais.
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E também representa uma estranha virada na carreira do diretor James McTeigue, responsável por um dos melhores filmes da década (V de Vingança) e agora também por um dos piores deste ano. Presumi que talvez o roteiro do filme fosse dele mesmo, imaginando que apenas alguém desorientado a ponto de escrever tamanha bobagem se deixaria convencer a dirigi-la. Mas não foi isso que aconteceu: McTeigue dirigiu o filme porque quis. Sim, sim, um ninja que sai por aí matando todo mundo: ótima ideia. Ninguém jamais havia pensado em algo semelhante, não é mesmo?
E Ninja Assassin é ruim até mesmo pelos baixos padrões dos filmes de ninjas. Naomie Harris interpreta uma pesquisadora da Interpol em Berlim que descobre provas que sugerem a responsabilidade de uma quadrilha de assassinos ninja por uma série de recentes homicídios. Ela decide investigar o caso, mas termina interrompida por uma série de flashbacks muito, muito, muito longos, nos quais acompanhamos o treinamento de um ninja muito especial chamado Raizo (interpretado pelo ator sul-coreano Rain). "O sofrimento existe porque a fraqueza existe!", profere o seu mestre zen/treinador de assassinos.
Aliás, excelentes diálogos: você sabe que as coisas não vão prestar quando, na primeira cena do filme, os ninjas aparecem para matar um líder de quadrilha, e ele diz, sem qualquer constrangimento: "Vocês não precisam fazer isso. Pago o dobro do que estiverem recebendo". Imagine: uma dupla de roteiristas escreveu essa linha supondo que estavam sendo originais -o que significa que são idiotas- ou sem se incomodar em repetir o diálogo de 10 mil outros filmes -o que significa que eles desprezam seu trabalho, a audiência ou ambos.
De qualquer forma, não demora muito para que nosso ninja assassino decida renegar seu grupo e se aliar à investigadora da Interpol a fim de derrotar a quadrilha ninja, o que significa que, por um longo trecho, vemos cenas em que o jovem Raizo se vê forçado a matar 25 ou 30 ninjas de cada vez. McTeigue deve ter sabido que o roteiro era muito fraco, e por isso dedica muito tempo às cenas de ação -o que as torna detalhadas demais e cansativas.
Basta um exemplo: Raizo está a ponto de entrar no carro com a investigadora e partir, mas esperem: duas dúzias de ninjas aparecem subitamente. Todos sabemos, evidentemente, que Raizo não vai morrer, de modo que esticar a sequência de luta durante 15 minutos é simplesmente uma agonia de postergação. O que vemos não é ação, mas seu oposto. O filme fica imóvel mas a câmera sacode, e o som de facas penetrando a carne se repete o tempo todo por sobre a trilha sonora.
Há muitos cortes a faca em Ninja Assassin, aliás, bem como sons de líquidos escorrendo, supostamente sangue. É difícil imaginar o que faria desse filme entretenimento, mesmo mau entretenimento. Há muitos braços, pernas e cabeças decepados, mas jamais imaginei que a nojeira pudesse ser tão chata.
Recomendação: só para quem gosta de sangue.