'Medusa' discute padrões de beleza e avanço do conservadorismo
Longa da diretora Anita Rocha da Silveira estreia neste domingo (31) na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Ao ver algumas notícias sobre garotas que se reuniam para bater em outras meninas, consideradas vulgares por seus posts em redes sociais, a cineasta Anita Rocha da Silveira teve a primeira ideia para escrever o seu segundo longa, Medusa. Exibido na quinzena dos realizadores do Festival de Cannes, o filme estreia no Brasil neste domingo (31), na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
"O ponto de partida para o filme foi falar do machismo estrutural que faz parte da nossa sociedade. Comecei a pesquisar e vi uma série de youtubers e influencers de extrema direita fazendo um discurso sobre a mulher ser submissa ao homem e precisar estar sempre bela, bem-vestida e pronta para o marido. Com o avanço desse conservadorismo, me lembrei do Mito de Medusa", conta a diretora.
Na mitologia grega, Medusa era a mulher que 'cedeu às tentações' e foi castigada por Atena, a deusa virgem, que a transformou em um monstro. Mas, como toda lenda, existem várias versões para a história - em algumas, Medusa caiu em tentação e se deitou com Poseidon; em outras, ela foi estuprada.
A história de Medusa, uma mulher punida por sua sexualidade, foi trazida para os dias atuais com a história de Mariana. No filme, a jovem pertence a um grupo religioso extremamente rígido, em que mulheres precisam estar sempre perfeitas para agradar os homens. Ao mesmo tempo, ela participa de um grupo que sai às ruas para punir outras mulheres que ousam se libertar desses padrões.
Em uma cidade fictícia com um governo fundamentalista, onde livros são queimados, não há mais investimento em ciência, os homens cultuam o corpo e as mulheres precisam ser submissas, Mariana começa a se rebelar contra o universo em que cresceu para se tornar uma mulher livre.
"Eu já vinha falando do universo neopentecostal desde o meu primeiro longa. Mas tudo o que aconteceu no Brasil nos últimos anos serviu de base para Medusa. O impeachment, as últimas eleições, as fake news e os discursos homofóbicos, racistas e machistas", explica Anita.
O Terra conversou com a diretora sobre as inspirações para o roteiro, os padrões de beleza e o avanço do conservadorismo no país. Confira no vídeo: