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'As Linhas da Minha Mão' é documentário fora dos padrões que explora saúde mental e arte

Filme de João Dumans, em cartaz nos cinemas, usa recursos incomuns ao gênero e foge do estereótipo para retratar jornada de atriz com bipolaridade e depressão

26 abr 2024 - 20h10
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É correto dizer que As Linhas da Minha Mão, que chegou aos cinemas de São Paulo recentemente, é um documentário biográfico. Afinal, o novo filme de João Dumans (do premiadíssimo Arábia) é o retrato possível de Viviane de Cássia Ferreira, artista que nunca permite ser descoberta por completo.

Viviane de Cássia Ferreira em cena de 'As Linhas da Minha Mão'.
Viviane de Cássia Ferreira em cena de 'As Linhas da Minha Mão'.
Foto: Embaúba Filmes/Divulgação / Estadão

Essa é a graça e a beleza do documentário, que nunca segue o caminho banal de começo, meio e fim, transitando entre temas quase sem que possamos perceber. Não é como aqueles documentários amarrados, em que o entrevistado segue quase que uma linha do tempo para falar de tópicos específicos, provocados pelo diretor. Aqui, Vivi é livre para pensar e sentir o momento, trazendo uma naturalidade potente enquanto a conhecemos.

"A ideia de não seguir o gênero de maneira tradicional esteve presente desde o início do filme", contextualiza Dumans, em entrevista ao Estadão, sobre essa escolha estética. "Eu tenho a impressão de que o trabalho que venho desenvolvendo nos cinemas procura, de alguma maneira, novas formas de representação para personagens que se encontram em situação de marginalidade ou de vulnerabilidade na sociedade brasileira e que, justamente por isso, expressam certos dilemas e contrariedades da nossa sociedade, do nosso País".

Dumans conta que buscou encontrar, nesse afastamento do formato tradicional, elementos que somem em documentários como já conhecemos - é o caso da interpretação, atuação e o jogo cênico de Viviane, essa atriz e artista com tanto a dizer e que também passa, no momento, por questões psicológicas que precisam ser discutidas com naturalidade.

"As histórias dela me interessam cada vez mais, mas eu me interessava em vê-la como atriz nos cinemas", conta o diretor, ao ser questionado sobre os caminhos do filme. "Para isso, precisava estabelecer uma dinâmica diferente do que temos tradicionalmente".

Intimidade em cena

Obviamente, a partir dessa dinâmica pouco usual, também encontramos algo importante por trás das câmeras: a intimidade entre o documentarista e sua biografada. Para se expressar da forma que se expressa em cena, Viviane precisa confiar em quem está com a câmera apontada para seu rosto, seu corpo, seus hábitos. Como falar da vida, dos medos, das instabilidades e das inseguranças na frente de alguém que não confia? Não tem como.

Para As Linhas da Minha Mão, Dumans e Viviane buscaram um ponto de intimidade entre eles. Segundo o cineasta, isso e a troca entre os dois foi alcançada de forma relativamente rápida - e foi essa amizade, aliás, que fez brotar a ideia de fazer este documentário.

"Trabalhamos juntos durante um ano na preparação e na filmagem de um filme ficcional. No ano seguinte, que já era pandemia, a gente se comunicava muito para continuar desenvolvendo essa personagem que a gente estava fazendo. Só que, naquela situação de isolamento da pandemia, também nos aproximamos como amigos", diz.

Foi aí que Dumans teve a ideia de fazer um documentário sobre a vida de Viviane, na intimidade. Ela topou prontamente - mesmo com equipe enxuta, pelas restrições da covid-19. "Fomos desenvolvendo nossa amizade durante as gravações", diz ele.

Viviane como ponto de partida

Em momento algum o documentário traz imposições temáticas ao espectador - tudo é muito fluído, por meio de conversas, leituras e pensamentos do dia a dia, apenas provocando o público a pensar. Assim, pensamos sobre arte, vida, morte e, principalmente, um assunto que vai se tornando mais caro à Viviane com o passar do tempo: saúde mental.

O fato é que, no cinema, questões de saúde mental - sejam de processos depressivos ou de processos maníacos - muitas vezes são representadas de maneira estereotipada. E isso vai desde o cinema americano (Ilha do Medo, O Lado Bom da Vida, Coringa) até chegar no cinema brasileiro que escapa para obviedades (como no simpático Depois a Louca Sou Eu).

João Dumans foge do estereótipo e busca colocar o que há de mais real na tela. O resultado é certeiro e, no final, sentimos que conhecemos Viviane e suas questões como se ela fosse uma pessoa próxima de nós. Deixamos estereótipos de lado e entramos em contato com o que acontece, sente e teme uma pessoa que vive essa questão dia a dia.

"A Vivi viveu surtos, momentos horríveis de depressão, mas na maior parte da vida é uma pessoa extremamente clara, bem articulada e precisa em relação aos seus pensamentos e emoções", diz o cineasta. "Mostrar alguém que reconhece seu sofrimento, mas que ao mesmo tempo transforma essa loucura e essa diferença em uma maneira de ser, que forja uma ética a partir disso, é algo relevante para pensarmos nas possibilidades de sobrevivência, de vida, de felicidade ou até mesmo de enfrentamento do sofrimento psíquico".

Viviane de Cássia Ferreira em 'As Linhas da Minha Mão'
Viviane de Cássia Ferreira em 'As Linhas da Minha Mão'
Foto: Embaúba Filmes/Divulgação / Estadão
Viviane de Cássia Ferreira em cena de 'As Linhas da Minha Mão'.
Viviane de Cássia Ferreira em cena de 'As Linhas da Minha Mão'.
Foto: Embaúba Filmes/Divulgação / Estadão
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